Nunca cometa estes 2 erros em uma negociação
Na delicada arte de conciliar interesses opostos, é preciso ser humilde e tentar “ler” a mente do outro. Veja as dicas de experts em negociação
Claudia Gasparini
Publicado em 22 de setembro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 22 de setembro de 2017 às 06h00.
São Paulo — Profissionais hábeis em negociações sabem que, sem um plano muito bem definido de ação, é impossível selar um acordo satisfatório para todas as partes.
Porém, a complexa missão de conciliar interesses opostos não depende apenas de um bom planejamento . Na fase da execução, até a estratégia mais brilhante pode fracassar caso falte inteligência emocional ao negociador na hora H.
Confira a seguir os dois erros mais graves que você pode cometer na tentativa de chegar a um acordo, segundo especialistas no assunto ouvidos por EXAME.com:
Erro #1 - Entrar em uma “batalha de posições”
Quando chega o momento do olho no olho, muita gente comete o equívoco de se agarrar ao próprio ego, diz Breno Paquelet, especialista em negociação pela Harvard Business School.
Na prática, isso significa colocar apenas os seus desejos na mesa, e brigar até que eles predominem sobre as vontades do outro. “Negociação é colaboração, não guerra”, explica. “É preciso que as duas partes atuem contra o problema, e não uma contra a outra”.
Imagine, por exemplo, uma conversa sobre corte de custos em uma empresa. O diretor diz: “A única forma de equilibrar as contas é demitir 20 pessoas”. O gerente, por sua vez, contesta: “Impossível. A equipe precisa continuar exatamente como está”. Após longas e acirradas discussões, o saldo da “batalha” acaba sendo demitir 10 funcionários — uma espécie de meio termo.
Ironicamente, esse resultado não corresponde ao desejo de nenhuma das partes: nem aquele que queria demitir 20 e nem aquele que queria preservar todos os funcionários terão “vencido”, explica Paquelet. O motivo está na incapacidade de enxergar alternativas para um acordo.
Se não fossem vítimas dos próprios egos, os negociadores poderiam ter percebido uma solução favorável para ambas as partes: implementar medidas para aumentar a produtividade da equipe. Com isso seria possível sanar a questão financeira e, ao mesmo tempo, evitar desligamentos.
Outro problema de quem enxerga a situação como uma guerra é ter foco exagerado no resultado, e não no relacionamento, afirma Alfredo Bravo, professor premiado da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e criador de um método testado com mais de 10 mil pessoas para ter sucesso em negociações.
Isso porque um profissional que impõe suas vontades e faz tudo para “vencer” acaba estragando a sua relação com colegas, gestores, subordinados ou clientes. “Você pode até ganhar uma vez, mas vai perder todas as outras, porque ninguém mais vai querer negociar com você”, explica o professor.
Erro #2 - Não estabelecer vínculo
Paquelet afirma que toda negociação é um ato social. Como tal, exige diálogo, empatia e humanidade. “Mesmo que você discorde daquele indivíduo, precisa se colocar no lugar dele, compreender seus valores, motivações e necessidades”, afirma o especialista.
Com essa leitura, é possível saber quais variáveis podem influenciar suas decisões. Ao captar que um potencial cliente valoriza a sensação de segurança, por exemplo, você pode explorar a superioridade do seu produto nesse quesito para basear seus argumentos de venda.
O detalhe é que você jamais conseguirá “ler a mente” do outro se não estabelecer um vínculo pessoal com ele. A única forma de fazer isso é esforçar-se para ser empático — o que não significa ser simpático, necessariamente.
“Enquanto algumas pessoas são mais afáveis, calorosas, abertas para contar e ouvir histórias, outras são mais pragmáticas, objetivas, preferem que você vá direto ao ponto”, explica Bravo.
É importante espelhar o estilo do outro para quebrar barreiras e ganhar a sua confiança. Sem essa tranquilidade, cedo ou tarde pintará o mencionado clima de “batalha” entre as duas partes.O conselho de Bravo e Pasquelet é ouvir, ouvir e ouvir...e só então falar.
Também é fundamental estudar o perfil do outro antes de ir para a mesa de discussão. Quanto mais informações prévias você tiver sobre ele, mais rapidamente o vínculo será estabelecido e mais saídas você encontrará caso cheguem a um impasse.