Dê o bilhete azul para seu chefe e vire empreendedor
Há mais profissionais saindo das empresas para abrir o próprio negócio. O número de mulheres empreendendo já é quase igual ao de homens. Seis em cada dez jovens estão estudando para criar o próprio emprego. Saiba com surfar essa onda
Da Redação
Publicado em 13 de março de 2013 às 19h48.
São Paulo - Faça um teste com seus colegas de trabalho. Pergunte a eles se alguém tem uma ideia de negócio que gostaria de colocar de pé. Se seus interlocutores forem jovens, é bem provável que a maioria deles tenha um projeto na ponta da língua.
De acordo com uma pesquisa divulgada no mês passado pela consultoria DMRH/Cia de Talentos, de São Paulo, seis de cada dez jovens sonham em ter o próprio negócio. O levantamento considera estudantes dos dois últimos anos da universidade e profissionais com até dois anos de formado.
Se entre os seus interlocutores houver mais mulheres, a resposta delas deve reforçar a fala dos jovens. As brasileiras já são as mais empreendedoras do mundo, segundo um estudo realizado em 2010 pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM) e pelo Sebrae. Esses dados são indicadores de uma mudança que está em curso no mercado de trabalho.
Até uma década atrás, ser empreendedor no Brasil era o destino de quem não tinha opção de carreira. A partir de 2003, o país começou se firmar como um lugar onde se empreende por oportunidade. Ou seja, onde a motivação para abrir uma empresa é ter a sacada de um bom negócio.
Hoje, há no Brasil dois empreendedores por oportunidade para cada um por necessidade, é o que mostra a pesquisa do GEM-Sebrae. "A partir da metade dos anos 90, com o Plano Real e o fim da hiperinflação, o país começou a criar um ambiente econômico mais propício para o aumento do empreendedorismo por oportunidade", diz Bruno Caetano, diretor superintendente do Sebrae de São Paulo.
Esse tipo de empreendedorismo é mais saudável para a economia porque está associado a uma chance de sobrevivência maior, já que geralmente é feito com mais planejamento. O Brasil tem 6 milhões de micro e pequenas empresas e uma taxa de 27% de novos negócios que não chegam aos dois anos de vida. "Há dez anos esse número era de 35%", diz Caetano.
Além da melhora na macroeconomia, outro fator importante foi o fato de terem surgido em diversas escolas de negócios e cursos universitários disciplinas que ensinam empreendedorismo. Como efeito, o perfil do empresário rejuvenesceu. Atualmente, 53% dos novos donos têm entre 18 e 34 anos.
Essa geração investe em atividades variadas, a maior parte no comércio varejista, conforme a pesquisa do GEM-Sebrae. As três iniciativas que mais aparecem no estudo são: 1) comércio de produtos farmacêuticos, artigos médicos e ortopédicos, de perfumaria e cosméticos; 2) vestuário e tratamentos de beleza; e 3) comércio eletrônico.
A paulista Marina Gheler retrata essa realidade. Em 2005, aos 21 anos, ela recusou um convite para mudar-se para Santa Catarina, onde receberia um salário de 12.000 reais como gerente de uma multinacional de produtos odontológicos. Em vez disso, abriu uma loja de acessórios femininos que leva seu nome.
Fez do trabalho de conclusão de curso que preparava para a faculdade de propaganda e marketing o seu plano de negócios. Vendeu o carro popular que tinha para os investimentos iniciais. Hoje tem quatro lojas para a venda de suas semijoias e mais quatro a caminho, em regime de franquia. "Acreditei que a empresa renderia mais dinheiro do que o salário", diz Marina.
Uma parcela dos novos empreendedores que estão surgindo no Brasil é formada por gente que trocou o conforto e a suposta segurança da carteira assinada pelo sonho de ter o próprio negócio. Alguns nem chegaram até aí: resolveram sair direto da faculdade para a concretização de um projeto profissional próprio.
É o que mostra o levantamento feito pela consultoria de recolocação LHH|DBM, que registrou que, entre janeiro e julho deste ano, 20% dos profissionais que a procuraram em momentos de transição profissional resolveram pendurar a carteira assinada para empreender.
"Hoje o empreendedor está mais maduro e, quando decide agir, o faz porque identificou uma boa oportunidade de negócio ou desenhou esse plano para sua carreira", diz José Augusto Figueiredo, vice-presidente de operações da LHH|DBM para o Brasil e a América Latina. "Mas ele sabe que não será dono de seu nariz porque seu 'chefe' será seu cliente."
Na tentativa de destravar dúvidas que ainda pairam na mente de quem quer empreender, a VOCÊ S/A responde a questões como: é preciso ter um plano de negócio? A experiência anterior faz diferença? Como vender a ideia ao investidor-anjo? Qual o passo a passo a percorrer? Como não repetir erros com base em histórias de quem já empreendeu?
Quando trocar o salário pelo pró-labore
Quatro empreendedores e um conflito
Nem sempre a união de quatro histórias diferentes resulta em uma ideia vencedora. A de Victor Stabile, Yussif Neto, Felipe Oranges e Lourenço Sant’anna ainda vive sua prova de fogo — sobreviver aos dois anos iniciais, tidos como cruciais na vida de qualquer empreendedor —, carrega decisões ousadas, algumas certezas e um conflito.
Para montar há quatro meses o iPostal , o administrador Yussif, que trabalhou por um ano como analista na consultoria A.T. Kearney, e Felipe, analista por dois anos no banco Safra, tiveram de abrir mão de carreiras promissoras em grandes empresas para entrar de vez no negócio.
Felipe chegou a titubear. Foi à China, onde um mundo de novidades o motivou. "Enviei um e-mail para eles durante a viagem dizendo que topava."
Da turma, o engenheiro físico Victor é o empreendedor nato. Sem a experiência da carteira assinada, saiu da faculdade direto para a realização de um sonho: o de empreender. Antes da iPostal, já havia fundado, há dois anos, a Hi!China, uma escola de mandarim, que continua existindo paralelamente.
Já Lourenço Sant’anna é o investidor do negócio. Formado em cinema pela Universidade Federal de Santa Catarina, continua trabalhando em uma produtora e espera o lucro do investimento chegar. Um dos grandes desafios a ser vencido pela iPostal hoje é de cunho familiar: a alta expectativa e a pressão.
"Elas [as famílias] eram contra e diziam que a decisão de largar o emprego para empreender era precipitada. Tive que explicar que esse era o momento, pois, se algo desse errado, ainda daria tempo de voltar para o mundo corporativo", afirma Yussif, com certo ar de tranquilidade.
São Paulo - Faça um teste com seus colegas de trabalho. Pergunte a eles se alguém tem uma ideia de negócio que gostaria de colocar de pé. Se seus interlocutores forem jovens, é bem provável que a maioria deles tenha um projeto na ponta da língua.
De acordo com uma pesquisa divulgada no mês passado pela consultoria DMRH/Cia de Talentos, de São Paulo, seis de cada dez jovens sonham em ter o próprio negócio. O levantamento considera estudantes dos dois últimos anos da universidade e profissionais com até dois anos de formado.
Se entre os seus interlocutores houver mais mulheres, a resposta delas deve reforçar a fala dos jovens. As brasileiras já são as mais empreendedoras do mundo, segundo um estudo realizado em 2010 pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM) e pelo Sebrae. Esses dados são indicadores de uma mudança que está em curso no mercado de trabalho.
Até uma década atrás, ser empreendedor no Brasil era o destino de quem não tinha opção de carreira. A partir de 2003, o país começou se firmar como um lugar onde se empreende por oportunidade. Ou seja, onde a motivação para abrir uma empresa é ter a sacada de um bom negócio.
Hoje, há no Brasil dois empreendedores por oportunidade para cada um por necessidade, é o que mostra a pesquisa do GEM-Sebrae. "A partir da metade dos anos 90, com o Plano Real e o fim da hiperinflação, o país começou a criar um ambiente econômico mais propício para o aumento do empreendedorismo por oportunidade", diz Bruno Caetano, diretor superintendente do Sebrae de São Paulo.
Esse tipo de empreendedorismo é mais saudável para a economia porque está associado a uma chance de sobrevivência maior, já que geralmente é feito com mais planejamento. O Brasil tem 6 milhões de micro e pequenas empresas e uma taxa de 27% de novos negócios que não chegam aos dois anos de vida. "Há dez anos esse número era de 35%", diz Caetano.
Além da melhora na macroeconomia, outro fator importante foi o fato de terem surgido em diversas escolas de negócios e cursos universitários disciplinas que ensinam empreendedorismo. Como efeito, o perfil do empresário rejuvenesceu. Atualmente, 53% dos novos donos têm entre 18 e 34 anos.
Essa geração investe em atividades variadas, a maior parte no comércio varejista, conforme a pesquisa do GEM-Sebrae. As três iniciativas que mais aparecem no estudo são: 1) comércio de produtos farmacêuticos, artigos médicos e ortopédicos, de perfumaria e cosméticos; 2) vestuário e tratamentos de beleza; e 3) comércio eletrônico.
A paulista Marina Gheler retrata essa realidade. Em 2005, aos 21 anos, ela recusou um convite para mudar-se para Santa Catarina, onde receberia um salário de 12.000 reais como gerente de uma multinacional de produtos odontológicos. Em vez disso, abriu uma loja de acessórios femininos que leva seu nome.
Fez do trabalho de conclusão de curso que preparava para a faculdade de propaganda e marketing o seu plano de negócios. Vendeu o carro popular que tinha para os investimentos iniciais. Hoje tem quatro lojas para a venda de suas semijoias e mais quatro a caminho, em regime de franquia. "Acreditei que a empresa renderia mais dinheiro do que o salário", diz Marina.
Uma parcela dos novos empreendedores que estão surgindo no Brasil é formada por gente que trocou o conforto e a suposta segurança da carteira assinada pelo sonho de ter o próprio negócio. Alguns nem chegaram até aí: resolveram sair direto da faculdade para a concretização de um projeto profissional próprio.
É o que mostra o levantamento feito pela consultoria de recolocação LHH|DBM, que registrou que, entre janeiro e julho deste ano, 20% dos profissionais que a procuraram em momentos de transição profissional resolveram pendurar a carteira assinada para empreender.
"Hoje o empreendedor está mais maduro e, quando decide agir, o faz porque identificou uma boa oportunidade de negócio ou desenhou esse plano para sua carreira", diz José Augusto Figueiredo, vice-presidente de operações da LHH|DBM para o Brasil e a América Latina. "Mas ele sabe que não será dono de seu nariz porque seu 'chefe' será seu cliente."
Na tentativa de destravar dúvidas que ainda pairam na mente de quem quer empreender, a VOCÊ S/A responde a questões como: é preciso ter um plano de negócio? A experiência anterior faz diferença? Como vender a ideia ao investidor-anjo? Qual o passo a passo a percorrer? Como não repetir erros com base em histórias de quem já empreendeu?
Quando trocar o salário pelo pró-labore
Quatro empreendedores e um conflito
Nem sempre a união de quatro histórias diferentes resulta em uma ideia vencedora. A de Victor Stabile, Yussif Neto, Felipe Oranges e Lourenço Sant’anna ainda vive sua prova de fogo — sobreviver aos dois anos iniciais, tidos como cruciais na vida de qualquer empreendedor —, carrega decisões ousadas, algumas certezas e um conflito.
Para montar há quatro meses o iPostal , o administrador Yussif, que trabalhou por um ano como analista na consultoria A.T. Kearney, e Felipe, analista por dois anos no banco Safra, tiveram de abrir mão de carreiras promissoras em grandes empresas para entrar de vez no negócio.
Felipe chegou a titubear. Foi à China, onde um mundo de novidades o motivou. "Enviei um e-mail para eles durante a viagem dizendo que topava."
Da turma, o engenheiro físico Victor é o empreendedor nato. Sem a experiência da carteira assinada, saiu da faculdade direto para a realização de um sonho: o de empreender. Antes da iPostal, já havia fundado, há dois anos, a Hi!China, uma escola de mandarim, que continua existindo paralelamente.
Já Lourenço Sant’anna é o investidor do negócio. Formado em cinema pela Universidade Federal de Santa Catarina, continua trabalhando em uma produtora e espera o lucro do investimento chegar. Um dos grandes desafios a ser vencido pela iPostal hoje é de cunho familiar: a alta expectativa e a pressão.
"Elas [as famílias] eram contra e diziam que a decisão de largar o emprego para empreender era precipitada. Tive que explicar que esse era o momento, pois, se algo desse errado, ainda daria tempo de voltar para o mundo corporativo", afirma Yussif, com certo ar de tranquilidade.