Lazy Job: o que é a nova tendência da Geração Z e o impacto dela para a sua carreira
A influencer americana Gabrielle Judge, criadora do termo “lazygirlsjob”, fala à EXAME sobre suas expectativas com o futuro do trabalho
Repórter
Publicado em 4 de janeiro de 2024 às 08h03.
Historicamente as novas gerações ditam as novas tendências no mercado de trabalho. Após a onda do “Quiet Quitting”, em que profissionais defendiam limites bem estabelecidos entre trabalho e vida pessoal, uma nova tendência, muito parecida, aparece no mercado e ganha nome: “Lazy Job” - que em tradução literal significa “trabalho preguiçoso”, que demanda pouco e que permitam uma atuação mais tranquila.
O termo viralizou no Tik Tok após a publicação de uma americana chamada Gabrielle Judge, de 26 anos, que nomeou o seu trabalho como #lazygirlsjob, estimulando suas seguidoras a buscarem trabalhos menos estressantes, remotos e bem remunerados.
Apesar do termo novo, esse modelo de trabalho já existe e foi muito estimulado pela pandemia, tanto que já retrata a realidade de muitos profissionais por exigir 4 pontos:
- Trabalho com horários flexíveis (de preferência remoto ou híbrido);
- Oferece bons salários, de acordo com o mercado;
- Trabalho menos estressante;
- Foco no equilíbrio entre o trabalho e vida pessoal (a ideia é ter tempo e liberdade para cuidar da saúde física e mental, não apenas trabalhar).
“Essa tendência envolve, de forma geral, a ideia de ter um emprego que ofereça boa remuneração, mas que não exija um esforço excessivo, como ficar muito tempo após o expediente ou perder muito tempo no trânsito, permitindo que as pessoas tenham energia e tempo para investir em outras atividades além do trabalho,” afirma Vitor Silvério, gerente sênior de parcerias estratégicas na Robert Half.
À EXAME, a influenciadora Gabrielle Judge conta sobre o que a motivou a nomear essa nova tendência e as suas expectativas com o futuro do trabalho.
A origem do nome “Lazy Job”
Após conseguir um emprego dos sonhos em sua área de formação, que é Ciência da Computação, na Universidade do Colorado, a americana Gabrielle Judge conseguiu um emprego antes da pandemia em uma boa empresa que oferecia benefícios incríveis, porém alguns fatores começaram a incomodá-la.
“Todos nós percebemos que nossos trabalhos não levam 8 horas para serem realizados e muito do tempo ocupado no escritório não é produtivo. Me vi em uma sala separada fazendo reuniões online o dia todo. Percebi que os deslocamentos ocupam muito do meu tempo pessoal e que a flexibilidade do trabalho remoto ajudava muito na minha produtividade.”
A mudança de trabalho:
Em menos de um ano, Gabrielle, decidiu deixar esse emprego e investir em seu próprio negócio. Apostou no modelo de trabalho que ela mesmo nomeou como “Lazy Girls Job” – o termo foi compartilhado com os seus seguidores do Tik Tok e viralizou. Foi assim que ela nomeou essa nova tendência de trabalho que, já existe há algum tempo, porque a pandemia estimulou muitas empresas a adotarem esse formato de trabalho.
“A tendência do ‘Lazy Girls Job’ é uma mentalidade. Cada um tem a sua própria opinião sobre o que é um excelente trabalho flexível e o que o equilíbrio entre vida profissional e pessoal significa para si,” afirma Gabrielle.
"Lazy Job" não é só para mulheres
Muitos seguidores acabaram questionando por que a palavra “girls” apareceu nesse termo. Gabrielle explicou que só incluiu as meninas no nome porque boa parte dos seus seguidores são mulheres, mas que esse estilo de trabalho e de vida pode ser requerido por todos os gêneros:
“Meu conteúdo parece um conselho de carreira, mas na verdade são dicas sobre finanças. O dinheiro é um assunto delicado para todos. Portanto, mantenho meus conhecimentos e experiências autênticas compartilhando minhas próprias experiências femininas. Minha comunidade é 70% feminina, então, há outros gêneros além do feminino incluídos em minha comunidade hoje, e certamente essa tendência pode valer para todos.”
Atualmente, a influencer usa o conhecimento adquirido na faculdade em seu próprio negócio, que conta com profissionais trabalhando de forma remota:
“Ainda uso minha experiência em tecnologia em meus negócios, pois tenho uma abordagem analítica para tudo, foi assim que construí uma empresa de tecnologia do zero. Todos os meus funcionários hoje estão espalhados pelo mundo, fazendo o seu trabalho e respeitando o tempo uns dos outros.”
Sobre o futuro do trabalho, no olhar da influenciadora
Essa tendência é uma mentalidade e exige um autoconhecimento, que no caso da geração Z é mais nítido, segundo Gabrielle:
“A geração mais jovem está interessada em progredir através da aprendizagem de novas competências e da procura da melhor oferta de emprego. Isso vai contra o status quo tradicional, então há muitos sistemas de crenças que você precisa reconstruir para ingressar no estilo de vida profissional de um “Lazy Job”. É por isso que faço tanto conteúdo sobre isso e nunca fico sem ideias.”
Se tratando de futuro e autoconhecimento, Gabrielle teve bons retornos após nomear essa nova tendência e já sabe bem o que ela quer para o seu futuro:
“A tendência inspirou muitos novos empreendimentos para mim, como minha próxima palestra TEDx na primavera, um contrato de livro e a arrecadação de fundos para construir uma start-up de IA para criar mais transparência em torno do equilíbrio entre vida profissional e pessoal.”
E como uma seguidora da tendência “Lazy Job” ela também reforça os planos para a vida pessoal: “Pretendo manter minha saúde e a dos entes queridos ao meu redor. Gosto de viajar e de experiências relacionadas à música e ao bem-estar.”
Em qual cenário surge a tendência “Lazy Job”?
Ao ouvir sobre essa nova tendência, a coaching executiva Milena Brentan disse que escutou também muitas críticas e apoio à nova geração: “Enquanto uns falam que foi uma geração muito mimada pelos pais, outros defende mais qualidade de vida”.
Independente do ponto de vista, para a coaching é necessário olhar essa tendência com curiosidade.
“A geração Z são ativos digitais. Eles nascem olhando para si nas redes sociais e no ambiente físico de uma maneira só. É uma geração que nasceu em um cenário de pandemia, crise de meio ambiente e hídrica, guerras, sem contar todos os avanços da tecnologia.”
O “Lazy Job” não necessariamente vai ser bom ou ruim, é uma tendência que precisa ser refletida, afinal cada geração provocou uma disrupção de comportamento no mercado de trabalho, afirma Brentan.
Quais foram as disrupções das gerações no ambiente de trabalho?
Toda nova geração traz comportamentos, que as vezes são antagônicos, afinal estamos entrando em uma nova era.
“Dizer que o Lazy Jobs é um comportamento de uma geração muito mimada, é muito simplista. É preciso considerar o contexto no geral. Lideranças e executivos de RH precisam avaliar como podemos fazer para que essas gerações trabalhem cada vez melhor.”
Considerando esse contexto, Bretan explica as principais características e mudanças de modelo de trabalho provocada por cada geração:
Baby Boomer (pessoas nascidas em torno de 1945 a 1964):Essas pessoas cresceram em um contexto pós-guerra, onde as consequências das grandes guerras moldaram sua perspectiva. Com a necessidade de estabilidade econômica e reconstrução após conflitos, a lealdade ao trabalho era um valor fundamental. A tecnologia da época era limitada em comparação com os padrões atuais, e as oportunidades eram mais escassas.
“A Geração Baby Boomer era conhecida por sua fidelidade ao trabalho e por se manter em um único emprego por longos períodos.”
Geração X (pessoas nascidas em torno de 1965 a 1984):Em um momento de transição tecnológica (que leva a uma mudança cultural) a Geração X testemunhou o surgimento das primeiras formas de tecnologia, como computadores e comunicação eletrônica. Essa geração se destacou por sua independência e adaptabilidade.
“Com o mercado de trabalho evoluindo com novas formas de trabalho e mais prosperidade econômica, a Geração X começou a questionar a ideia de uma carreira vitalícia em uma única empresa. Autossuficiência e flexibilidade foram valores importantes para essa geração.”
Geração Y – Millennials (pessoas nascidas entre 1985 e 1997):A ascensão da tecnologia e da internet definiu o cenário da Geração Y. Eles buscavam propósito em seus trabalhos, valorizavam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e desafiavam a hierarquia tradicional no ambiente de trabalho.
“A Geração Y era menos propensa a ficar a vida inteira em um único emprego, procurando colaboração e feedback constante dos gestores. A instabilidade econômica era menor, permitindo mais liberdade de escolha na carreira.”
Geração Z (pessoas nascidas a partir dos meados dos anos 1990 até meados dos anos 2010):cresceram em um mundo impulsionado pela tecnologia e conectividade constante. Eles se destacam por sua adaptabilidade, capacidade de multitarefa e busca por oportunidades diversas. A relação de trabalho mudou significativamente para a Geração Z, com maior flexibilidade de trabalho e a mentalidade de buscar várias opções profissionais.
“A noção de ter um único emprego para a vida toda definitivamente não é mais a norma, e a Geração Z busca constantemente se reinventar e se destacar.”
Quais são os pontos bons e ruins dessa nova tendência?
É perceptível que os conceitos como "Quiet Quitting" e “Lazy Job” representam diferentes respostas dos profissionais a desgastantes anos de trabalho e demandas intensas, assim como um reflexo da entrada da geração Z no mercado de trabalho, afirma Silvério, mas como todo modelo de trabalho, ele reforça que é preciso identificar os pontos negativos que essa tendência pode gerar ao mercado e ao profissional.
Pontos negativos:
- Levar à estagnação profissional e afetar a motivação: uma vez que a falta de ambição inibe crescimentos na carreira;
- Não se dedicar ao trabalho também pode impedir o desenvolvimento de novas habilidades e competências, valiosas a longo prazo.
Todos os profissionais vão se identificar como o modelo “Lazy Job”?
Não são todos que vão aderir a esse modelo. Depende muito do estilo de vida e da cultura do trabalho e da empresa, afirma Brentan.
“É preciso refletir como a 'Lazy job' se adequa para a maior produtividade para a era atual. Não sabemos se essa tendência vai pegar no Brasil, mas é uma reflexão interessante. Inclusive, muitos 'Millennials' poderão adotar esse modelo, porque são pessoas que chegam em um momento de vida que querem mais cuidar da família e da sua saúde. Por outro lado, há líderes que desempenham melhor no modelo mais tradicional e há funções que precisam ser feitas presencialmente.”
Independente da geração e das funções, Brentan afirma que o comportamento humano afeta tudo: relação de trabalho, de família e de consumo, e que a “teoria da polaridade” pode ajudar a encontrar soluções tanto para o mercado quanto para os profissionais.
“Eu gosto muito da teoria da polaridade. Tem coisas que são opostas, mas se você olhar o que cada uma traz de bom, você poderá tirar o melhor delas."
"Ao mesmo tempo que estamos falando da geração Z, por outro lado há o etarismo, pessoas com mais de 50 anos estão com dificuldade de conseguir um emprego. Muitos empregadores acham o jovem preguiçoso, mas não querem contratar o profissional mais velho. Precisamos ter uma perspectiva de resolução e buscar entender o que tem de bom em cada característica geracional,” afirma Brentan.
Esta reportagem foi publicada em 26 de agosto de 2023. Veja o link original.
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