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Jovens trabalhadores da China trocam a jornada "9-9-6" por "pegar peixe"

A Geração Z da China está começando a se rebelar contra a cultura workaholic do país. Uma nova filosofia vem ganhando força na pandemia - e pode mudar pra sempre o país

Trabalhadores em fábrica da Ford na China: o país é célebre por seus trabalhadores dedicados, mas essa realidade está mudando (Gilles Sabrié/The New York Times)
LB

Leo Branco

Publicado em 20 de janeiro de 2021 às 08h00.

Última atualização em 20 de janeiro de 2021 às 11h37.

A China é célebre por seus trabalhadores dedicados. A chamada jornada de trabalho 9-9-6 – que vai das 9 da manhã às 9 da noite, seis dias por semana – está se tornando o padrão, especialmente no setor de tecnologia. Na primeira semana do ano, um jovem de 22 anos caiu e morreu a caminho de sua casa, 1:30 da manhã com colegas de trabalho da Pinduoduo, uma empresa de ecommerce.

Mas a Geração Z está começando a se rebelar contra a cultura workaholic . Uma nova filosofia vem ganhando forças durantre a pandemia, conhecida como “pegar peixe”. O termo vem de uma expressão popular que diz que a melhor hora para pegar peixe é quando a água está lamacenta.

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Com os chefes distraídos com os desafios de tocar suas empresas em meio às restrições de saúde pública, os mais jovens se distraem no serviço, entregam apenas o mínimo necessário, aproveitam as frequentes pausas para ir ao banheiro e se recusam a fazer hora extra.

É um reflexo da frustração da Geração Z com os salários. No ano passado, a China produziu 8,7 milhões de graduados em universidades, um número recorde. Mais de 80% dos entrevistados disseram que esperam ganhar pelo menos 5 mil iuanes (US$ 770) por mês em seu primeiro emprego, segundo um estudo recente realizado pela HRTechChina, um site de recrutamento.

Menos de 30% acabaram recebendo algo próximo desse valor. Qual o sentido de trabalhar duro por tão pouco dinheiro? Empresas estatais, que pagam menos mas oferecem serviços mais tranquilos e mais fáceis, se tornaram assim o  segundo destino mais cobiçado pelos jovens recém-formados, depois das empresas de internet.

Isso é só uma parte da história. Economistas que estudam o mercado de trabalho gostam de pensar em lazer como um bem de consumo, do mesmo modo que roupas, refeições em restaurantes ou carros. As pessoas vão trabalhar menos se os salários predominantes nos mercados de trabalho forem muito baixos, ou caso o custo das atividades de lazer se torne mais barato.

A tecnologia está fazendo isso acontecer. Assistir séries da Netflix ou vídeos do TikTok é um jeito barato e divertido de matar o tempo. E, com a covid ainda à solta e os jovens passando mais tempo do que nunca em casa, o desejo de sair para fazer compras é menor. Isso significa que eles não precisam ganhar tanto para pagar as idas ao shopping.

Mesmo antes da pandemia, esta tendência do público já havia dado as caras nos EUA. Homens na faixa etária que vai dos 21 aos 30 anos estão trabalhando menos, graças a uma mudança de foco na direção de videogames e da “computação recreativa”, segundo um artigo recente publicado no Journal of Political Economy.

De 2014 a 2017, os homens jovens passaram 2,3 mais horas por semana em atividades de lazer do que na década anterior, e trabalharam 1,8 horas a menos que no mesmo período. Homens na faixa dos 31 a 55 anos também consumiram mais lazer, mas, em vez de trabalhar menos, simplesmente fizeram um número menor de tarefas de casa.

A China, que tem uma cena online vibrante, não pode ficar muito para trás. O país se gaba de ter o estúdio de videogame mais valioso do mundo,  a empresa Tencent. Outro popular site de vídeos, Bilibili, teve 1,3 bilhão de visualizações diárias no terceiro semestre do ano passado, alta de 77% comparada ao mesmo período do anterior.

Pequim está preocupada com a dependência online de sua população já faz algum tempo, e chegou ao ponto de impôr toques de recolher para jogos eletrônicos online em 2019. Contudo, a estagnação do crescimento dos salários e o conteúdo online barato só vão encorajar esses comportamentos.

(Tradução por Fabrício Calado Moreira)

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