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Há esperança para a dura carreira de pesquisador no Brasil?

Cortes têm deixado pesquisadores sem dinheiro até pagar a conta de luz

Cientista triste: 2016 será mais um ano difícil para pesquisa no Brasil (Thinkstock)

Cientista triste: 2016 será mais um ano difícil para pesquisa no Brasil (Thinkstock)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 12 de fevereiro de 2016 às 05h00.

São Paulo – Crise econômica e investimento em pesquisa não costumam dividir o mesmo espaço. A abordagem mais austera do governo em relação aos gastos públicos tem deixado pesquisadores de cabelo em pé e sem dinheiro até para pagar contas de luz, como foi o caso de um relato feito por um cientista à revista Nature.

“Muitos pesquisadores não receberam nem mesmo bolsas já aprovadas; muitos tiveram que financiar seus projetos com dinheiro pessoal e incontáveis projetos podem ter sido cancelados”, diz Clarinda Cerejo, gerente sênior do departamento de Comunicações Acadêmicas da Editage, que oferece serviços e programas educacionais em 116 países a autores interessados em publicar artigos científicos.

Entre as más notícias provenientes do corte de gastos estão a redução de 75% no Programa de Apoio à Pós-Graduação (PROAP) da Capes que causou cancelamento, por exemplo, no programa de pós da Universidade Federal da Bahia.

Segundo Clarinda, neste ano ainda não há perspectiva de melhora, pelo contrário. “Há cortes ainda maiores previstos no orçamento e com agências de financiamento sendo afetadas por uma arrecadação menor. Outro impacto que vai ser sentido é relativo à suspensão por um ano da Lei do Bem, que incentivava a pesquisa em empresas”, diz.

Assim, ela enxerga no horizonte  demissões por parte de laboratórios, restringindo ainda mais as oportunidades. Quem deve se safar, no entanto, são aqueles profissionais envolvidos em pesquisas relacionadas ao vírus Zika. “A pesquisa em medicina tropical não sofrerá uma vez que o vírus agora é uma ameaça global e vários institutos internacionais e privados continuarão a investir na pesquisa deste assunto”, diz.

Se a vida está amarga para os demais pesquisadores, a lembrança de tempos melhores que se foram acrescenta ainda mais dissabores ao cenário. “O Brasil viveu um período de glória para a pesquisa e o desenvolvimento há alguns anos. Entre 2002 e 2008, a parcela brasileira de artigos publicados subiu de 1,7% para 2,7% do total mundial”, diz Clarinda.

A adoção inédita de práticas estruturadas de colaboração e internacionalização também  vinha dando bons resultados, de acordo com ela. “Em 2011, praticamente um terço dos artigos publicados por brasileiros tinham um coautor estrangeiro”, diz.

No mesmo ano de 2011, o lançamento do Programa Ciência Sem Fronteiras abriu as portas de faculdades de ponta para pesquisadores brasileiros. “A década de 2002 a 2012 foi melhor para os cientistas brasileiros”, diz ela.

E agora?

No entanto, há também algumas boas notícias recentes para amenizar o mau humor dos pesquisadores. Clarinda cita, por exemplo, a sanção do Marco Legal da Ciência e Tecnologia, mês passado. A sugestão de uma participação maior da indústria na pesquisa é bem recebida pela comunidade científica.

“Pode significar uma melhor remuneração para pesquisadores fora dos limites tradicionais da academia, melhora na inovação e aumento da aplicação da pesquisa básica”, diz a gerente da Editage que enxerga este como um passo enorme para a produção científica no Brasil e que deve encorajar os pesquisadores a seguirem otimistas.

A negociação de empréstimo, da ordem de 2,5 bilhões de dólares, com o Banco Interamericano de Desenvolvimento para financiamento da Ciência e Tecnologia também trará fôlego para pesquisadores no Brasil. O acordo, firmado em janeiro com outros países do BRICS em Beijing, para a formação de um fundo de 24 milhões de dólares para projetos de pesquisa colaborativos aponta para uma saída: investir em colaboração internacional

Um dos caminhos sugeridos por Clarinda é mesmo ultrapassar fronteiras geográficas e linguísticas. “A publicação de artigos em inglês em revistas e periódicos de visibilidade internacional pode colocar mais pesquisadores brasileiros no mapa global e aumentar as oportunidades para colaborações e outras fontes de financiamento”, diz.

Esta é também a visão de Donald Samulack, presidente de operações da Editage nos Estados Unidos. “As contribuições dos cientistas brasileiros para a literatura acadêmica são o estandarte para a ascensão da América Latina no horizonte científico global”, diz ele.

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