Game of Thrones Emmy 2015 (foto/Divulgação)
Camila Pati
Publicado em 16 de julho de 2017 às 06h00.
Última atualização em 18 de julho de 2017 às 10h04.
São Paulo – A sétima temporada da série Game of Thrones (GoT) estreia hoje e como já se sabe não perdeu sua característica mais marcante de não economizar na narrativa de conflitos, batalhas e disputa por poder.
Na opinião de Roberto Aylmer, consultor em liderança estratégica de pessoas e professor internacional da Fundação Dom Cabral, justamente esse DNA de GoT que tem muito a inspirar executivos e profissionais em cargos de gestão e liderança. “São sete reinos que poderiam ser sete diretorias”, dizem Aylmer.
Ele traça um paralelo entre as batalhas que fazem sangrar os habitantes de Westeros e conflitos profissionais que podem levar ao fracasso carreiras brilhantes e empresas de enorme potencial.
Mas, antes de prosseguir, saiba que há algumas referências a temporadas anteriores que podem ser SPOILERS para quem ainda não assistiu tudo.
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As temporadas anteriores de GoT já mostraram como as disputas dentro de um mesmo clã podem terminar bem mal.
Fãs da série podem se lembrar, por exemplo, da segunda temporada quando o autodeclarado rei Renly Baratheon, por exemplo, é assassinado pela sombra de Melisandre, amante do seu irmão, Stannis Baratheon.
No centro do conflito entre os irmãos Baratheon estava o poder, materializado pelo trono de ferro. Stannis não ganhou prestígio, nem poder por muito tempo e quem chegou à 5ª temporada sabe o preço que ele acabou pagando pela disputa no seu clã.
No mundo corporativo não é bem a cadeira de CEO que está em jogo neste tipo de conflito interno em uma diretoria, ou gerência e, sim, algum aspecto de poder. Mas uma coisa é certa, diz o especialista: não é o bem da empresa que dita os comportamentos.
“Não há foco no resultado da empresa e sim em conseguir mais relevância, poder, budget ou qualquer outro símbolo de superioridade”, diz Aylmer. Quem paga o preço dessa disputa e prejudica sua carreira na empresa é, em última instância, é o diretor. “Tem sempre muita perda”, diz.
A batalha entre os sete reinos é a segunda camada de conflitos que a série apresenta. Stark, Baratheon, Lannister, Tyrell, Targaryen, Greyjoy são algumas das famílias que desejam e se matam pelo trono de ferro.
Se Westeros fosse uma empresa, a segunda camada de conflitos seria entre os diretores ansiosos em ganhar destaque e a atenção da presidência. O objetivo é mostra que o outro é que destrói valor para empresa.
“Esse é o conflito mais complicado, baseado no ‘nós’ contra ‘eles’: a rede contra a sede, a manutenção contra a produção, o marketing contra a produção, o financeiro contra todos”, diz Aylmer.
O especialista lembra que Michael C. Jensen e William H. Meckling já trataram dos riscos desse tipo de conflito na Teoria Agente-Principal, base da governança corporativa.
Afogados em duas camadas de conflitos, muitos personagens da série (à exceção dos Stark?) não percebem que o real inimigo está chegando. O inverno e seus caminhantes brancos (os zumbis de Game of Thrones) é que são a verdadeira ameaça a Westeros.
“Na série, falam ‘o inverno está chegando’ mas talvez não consigam dimensionar o que isso realmente significa, porque nunca viram nada igual”, diz Aylmer. No mundo corporativo o verdadeiro combate é no mercado.
Gestores envolvidos em suas próprias guerras também negligenciam o fato de que existe algo bem mais complexo no horizonte: o contexto VUCA (acrônimo que sintetiza o contexto complexo: Volatilidade, Incerteza (do inglês Uncertainty), Complexidade e Ambiguidade).
“Não podemos prever cenários, as complexidades transcendem competência da organização”, diz o especialista. Ele cita, por exemplo, questões tributárias, a estratégia chinesa de dumping via financiamento estatal, a Coreia do Sul expandindo mercados, a América Latina vista como um Eldorado de investimentos.
E o Brasil? “Perdendo voz e espaço no mercado mundial por conta de seus conflitos internos”, diz.