Fundos do bem da Bovespa estão pagando bem
Aplicações que investem em empresas com boa governança corporativa e responsabilidade social tiveram alta de 9% nos últimos 12 meses. O Ibovespa subiu 2,41%
Da Redação
Publicado em 12 de junho de 2013 às 13h53.
São Paulo - Não basta ser uma empresa rentável, é preciso ser responsável com o meio ambiente e usar boas práticas de governança corporativa. A premissa ainda é pouco comum no Brasil, mas já é corriqueira na vida de muitos investidores mundo afora.
Os fundos de investimentos sustentáveis e responsáveis, apelidados de SRI (social responsibility investments, na sigla em inglês), já respondem por 17,5% de todos os negócios feitos com fundos na Europa. Nos Estados Unidos, a parcela também é significativa, de 12,1%, segundo dados da Social Investment Forum Foundation.
No Brasil, eles não ultrapassam 1%, mas esse percentual deve aumentar. "Os investidores estão cada vez mais interessados em aplicar o dinheiro em empresas com responsabilidade socioambiental", diz Sonia Favaretto, diretora de sustentabilidade da BM&FBovespa , em São Paulo. Investir em fundos do bem alegra a consciência e engorda o bolso.
Em plena crise financeira, o Ibovespa — índice que reúne as ações mais negociadas na BM&FBovespa — caiu 18,48% entre janeiro e agosto. Já o Índice de Sustentabilidade Empresarial, das empresas com boa governança corporativa e preocupadas com o meio ambiente, teve um tombo bem menor, de 8,40%.
Analistas do mercado financeiro afirmam que as companhias que priorizam cuidados ambientais contribuem para reduzir riscos para o negócio e, consequentemente, protegem o patrimônio delas e dos investidores. "Acidentes ambientais não só abalam a imagem das organizações envolvidas como podem provocar gastos enormes com a recuperação de danos e eventuais ações judiciais", diz Hugo Penteado, economista-chefe do Santander Asset Management, em São Paulo.
No ano passado, a petrolífera inglesa BP viu suas ações despencarem para o menor valor em 13 anos, depois de um acidente em uma de suas plataformas no Golfo do México. Justamente para minimizar riscos no negócio, a governança corporativa se tornou um dos pilares do investimento responsável.
"Com maior transparência na divulgação de informações, as companhias diminuem os imprevistos e o risco de perda no valor das ações", diz Keyler Carvalho Rocha, professor do laboratório de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), em São Paulo. Movidos por esse raciocínio, alguns fundos de investimento aplicam seus recursos apenas em empresas com boas práticas de governança, sem necessariamente considerar questões ambientais.
Juntos, esses fundos e os SRI acumularam rentabilidade média de 9% nos 12 meses encerrados em junho, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em São Paulo. Entre as 11 categorias de fundos de ações acompanhadas pela Anbima, os resultados médios variaram entre altas de 17% e perdas de 11%.
Surfando na onda
Diante dos resultados, é tentador afirmar que investir em organizações sustentáveis garante bons resultados financeiros. A realidade, porém, é menos simplista. "Com a carteira muito concentrada em alguns setores, como o bancário, o de energia elétrica e o de siderurgia, o Índice de Sustentabilidade Empresarial reflete o desempenho de segmentos específicos, com performance não necessariamente relacionada à atuação sustentável", diz Alexandre Póvoa, economista e presidente da Valorando Consultoria, no Rio de Janeiro.
Mesmo assim, os bancos estão apostando no crescimento dos fundos de ações SRI, com carteira composta por empresas bem avaliadas em três itens: política ambiental; questões sociais, como relação com consumidores, funcionários e fornecedores; e governança corporativa. Sem contar, é claro, o desempenho financeiro.
"Não dá mais para compactuar com a maximização do lucro a qualquer custo, com consequências socioambientais eticamente inaceitáveis", diz Hugo Penteado, do Santander, que foi responsável pelo primeiro fundo SRI da América Latina, criado pelo antigo Banco Real.
Nesse fundo não entram empresas de segmentos como cigarro, álcool e armas, mesmo que tenham boa rentabilidade. O fundo rendeu 10,01% nos últimos dois anos, terminados em agosto. O Ibovespa subiu apenas 0,01% no mesmo período.
Vai encarar?
Se você achou a rentabilidade dos fundos do bem tentadora e quer investir neles, é bom lembrar que ações são aplicações de risco e devem ser pensadas para o longo prazo, sobretudo nestes tempos de turbulência financeira. "A bolsa tem boas perspectivas para os próximos cinco anos, mas ainda haverá um período de volatilidade", diz Herculano Anibal Alves, diretor de renda variável do Bradesco Asset Management, em São Paulo.
Prefira fazer aplicações periódicas e não colocar todo o dinheiro em ações de uma única vez. Seja qual for o fundo de investimento de sua preferência, é fundamental analisar o desempenho dele nos últimos anos, mesmo que a rentabilidade anterior não garanta o sucesso no futuro.
"Compare o ganho dos fundos em um período de pelo menos 24 meses", diz Alexandre Póvoa. Ele também recomenda evitar fundos com taxas de administração superiores a 2%, que vão corroer a rentabilidade da aplicação.
No caminho certo
O paulistano Carlos Shiguematsu, de 24 anos, pós-graduando em engenharia financeira na FIA, em São Paulo, trabalha em uma consultoria especializada em mudanças climáticas, a Waycarbon, e fora do expediente deixa 10% de seu patrimônio aplicado em ações de empresas bem avaliadas na atuação socioambiental.
Desde 2009, ele já comprou dez ações. A Brasil Foods foi escolhida por adotar medidas para redução da emissão de gases de efeito estufa.
A Suzano foi selecionada pelos programas de reflorestamento. No setor elétrico, Carlos elegeu a Cemig e a Renova Energia, ambas com programas de desenvolvimento de energia eólica. No ano passado, ele ganhou 25%, em comparação com a alta de 1,04% do Ibovespa. Porém, nos primeiros oito meses de 2011, já perdeu 11%, mas o Ibovespa caiu 18,48%.
São Paulo - Não basta ser uma empresa rentável, é preciso ser responsável com o meio ambiente e usar boas práticas de governança corporativa. A premissa ainda é pouco comum no Brasil, mas já é corriqueira na vida de muitos investidores mundo afora.
Os fundos de investimentos sustentáveis e responsáveis, apelidados de SRI (social responsibility investments, na sigla em inglês), já respondem por 17,5% de todos os negócios feitos com fundos na Europa. Nos Estados Unidos, a parcela também é significativa, de 12,1%, segundo dados da Social Investment Forum Foundation.
No Brasil, eles não ultrapassam 1%, mas esse percentual deve aumentar. "Os investidores estão cada vez mais interessados em aplicar o dinheiro em empresas com responsabilidade socioambiental", diz Sonia Favaretto, diretora de sustentabilidade da BM&FBovespa , em São Paulo. Investir em fundos do bem alegra a consciência e engorda o bolso.
Em plena crise financeira, o Ibovespa — índice que reúne as ações mais negociadas na BM&FBovespa — caiu 18,48% entre janeiro e agosto. Já o Índice de Sustentabilidade Empresarial, das empresas com boa governança corporativa e preocupadas com o meio ambiente, teve um tombo bem menor, de 8,40%.
Analistas do mercado financeiro afirmam que as companhias que priorizam cuidados ambientais contribuem para reduzir riscos para o negócio e, consequentemente, protegem o patrimônio delas e dos investidores. "Acidentes ambientais não só abalam a imagem das organizações envolvidas como podem provocar gastos enormes com a recuperação de danos e eventuais ações judiciais", diz Hugo Penteado, economista-chefe do Santander Asset Management, em São Paulo.
No ano passado, a petrolífera inglesa BP viu suas ações despencarem para o menor valor em 13 anos, depois de um acidente em uma de suas plataformas no Golfo do México. Justamente para minimizar riscos no negócio, a governança corporativa se tornou um dos pilares do investimento responsável.
"Com maior transparência na divulgação de informações, as companhias diminuem os imprevistos e o risco de perda no valor das ações", diz Keyler Carvalho Rocha, professor do laboratório de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), em São Paulo. Movidos por esse raciocínio, alguns fundos de investimento aplicam seus recursos apenas em empresas com boas práticas de governança, sem necessariamente considerar questões ambientais.
Juntos, esses fundos e os SRI acumularam rentabilidade média de 9% nos 12 meses encerrados em junho, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em São Paulo. Entre as 11 categorias de fundos de ações acompanhadas pela Anbima, os resultados médios variaram entre altas de 17% e perdas de 11%.
Surfando na onda
Diante dos resultados, é tentador afirmar que investir em organizações sustentáveis garante bons resultados financeiros. A realidade, porém, é menos simplista. "Com a carteira muito concentrada em alguns setores, como o bancário, o de energia elétrica e o de siderurgia, o Índice de Sustentabilidade Empresarial reflete o desempenho de segmentos específicos, com performance não necessariamente relacionada à atuação sustentável", diz Alexandre Póvoa, economista e presidente da Valorando Consultoria, no Rio de Janeiro.
Mesmo assim, os bancos estão apostando no crescimento dos fundos de ações SRI, com carteira composta por empresas bem avaliadas em três itens: política ambiental; questões sociais, como relação com consumidores, funcionários e fornecedores; e governança corporativa. Sem contar, é claro, o desempenho financeiro.
"Não dá mais para compactuar com a maximização do lucro a qualquer custo, com consequências socioambientais eticamente inaceitáveis", diz Hugo Penteado, do Santander, que foi responsável pelo primeiro fundo SRI da América Latina, criado pelo antigo Banco Real.
Nesse fundo não entram empresas de segmentos como cigarro, álcool e armas, mesmo que tenham boa rentabilidade. O fundo rendeu 10,01% nos últimos dois anos, terminados em agosto. O Ibovespa subiu apenas 0,01% no mesmo período.
Vai encarar?
Se você achou a rentabilidade dos fundos do bem tentadora e quer investir neles, é bom lembrar que ações são aplicações de risco e devem ser pensadas para o longo prazo, sobretudo nestes tempos de turbulência financeira. "A bolsa tem boas perspectivas para os próximos cinco anos, mas ainda haverá um período de volatilidade", diz Herculano Anibal Alves, diretor de renda variável do Bradesco Asset Management, em São Paulo.
Prefira fazer aplicações periódicas e não colocar todo o dinheiro em ações de uma única vez. Seja qual for o fundo de investimento de sua preferência, é fundamental analisar o desempenho dele nos últimos anos, mesmo que a rentabilidade anterior não garanta o sucesso no futuro.
"Compare o ganho dos fundos em um período de pelo menos 24 meses", diz Alexandre Póvoa. Ele também recomenda evitar fundos com taxas de administração superiores a 2%, que vão corroer a rentabilidade da aplicação.
No caminho certo
O paulistano Carlos Shiguematsu, de 24 anos, pós-graduando em engenharia financeira na FIA, em São Paulo, trabalha em uma consultoria especializada em mudanças climáticas, a Waycarbon, e fora do expediente deixa 10% de seu patrimônio aplicado em ações de empresas bem avaliadas na atuação socioambiental.
Desde 2009, ele já comprou dez ações. A Brasil Foods foi escolhida por adotar medidas para redução da emissão de gases de efeito estufa.
A Suzano foi selecionada pelos programas de reflorestamento. No setor elétrico, Carlos elegeu a Cemig e a Renova Energia, ambas com programas de desenvolvimento de energia eólica. No ano passado, ele ganhou 25%, em comparação com a alta de 1,04% do Ibovespa. Porém, nos primeiros oito meses de 2011, já perdeu 11%, mas o Ibovespa caiu 18,48%.