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A felicidade, segundo o filósofo Mario Sergio Cortella

Cortella fala por que a busca de realização deve ser pensada como uma prova de longa duração, e não uma corrida de 100 metros

Cortella: "A felicidade é uma ocorrência eventual" (Raul Junior / VOCÊ S/A)
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Da Redação

Publicado em 14 de março de 2013 às 15h44.

Última atualização em 20 de fevereiro de 2018 às 11h31.

São Paulo - Filósofo , escritor e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Mario Sergio Cortella tornou-se uma figura requisitada em grandes empresas por conseguir traduzir com clareza assuntos como ética, moral e liderança.

Um depoimento de Cortella poderá ser visto no documentário Eu Maior, filme sobre conhecimento pessoal e felicidade que entrevistou 25 personalidades, entre eles o psiquiatra Flávio Gikovate, o surfista Carlos Burle e a ex-ministra Marina Silva.

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Em seu livro mais recente, Vida e Carreira — Um Equilíbrio Possível?, lançado em 2011 em parceria com o consultor Pedro Mandelli, Cortella discorre sobre o sonho de conciliar a vida pessoal com uma carreira bem-sucedida. Felicidade e vida equilibrada também são os temas da entrevista a seguir.

VOCÊ S /A - A felicidade sempre foi o ideal do ser humano. É possível encontrá-la no trabalho?

Mario Sergio Cortella - É importante saber o que realmente significa a felicidade. Ela é uma vibração intensa, uma sensação de vitalidade que nos atinge e dá um gosto imenso por estarmos vivos. Mas a felicidade é episódica, uma ocorrência eventual. A vida é carregada por momentos de turbulência.

Ninguém pode ser feliz o tempo todo. Isso seria uma insanidade e poderia gerar um stress na nossa capacidade mental. Por isso, há momentos em que a felicidade pode ser favorecida, como no local de trabalho ou na carreira, por exemplo. Se para algumas pessoas ela representa o acúmulo de bens materiais, para outras é o reconhecimento por algo que se está fazendo. Receber elogios de um cliente ou do chefe, nesse sentido, proporciona uma vibração momentânea de alto nível.

VOCÊ S /A - Então precisamos de reconhecimento para sermos felizes?

Mario Sergio Cortella - Reconhecimento é uma das maneiras mais usuais de obtenção de felicidade no trabalho. Nós nos conhecemos de maneira subjetiva. Lembre-se de que o espelho nos mostra de forma invertida. Por isso, necessitamos das outras pessoas, sim. Quando o reconhecimento é externalizado, a sensação de felicidade é intensa.


É o que experimenta um músico quando a plateia o aplaude. Ou um executivo, com o aumento da lucratividade da empresa. No mundo do trabalho, a felicidade é produzida pelo reconhecimento. E ele pode ser financeiro ou vir por meio de um agradecimento.

VOCÊ S /A - De que forma o senhor percebe a busca dos mais jovens pela realização profissional?

Mario Sergio Cortella - Eu nasci em meados da década de 1950. Minha geração buscou essencialmente a estabilidade como meta. O emprego estável era o que mais oferecia essa condição. Já as novas gerações procuram experiências. Elas querem fazer da vida uma possibilidade de experimentar várias coisas. A atual geração vive a agitação, que significa velocidade, instantaneidade, simultaneidade e mobilidade.

VOCÊ S /A - Essa busca por experiência não leva à superficialidade?

Mario Sergio Cortella - Sim. Infelizmente, muitos estão em busca da euforia, que é algo que desaparece rapidamente. Felicidade é muito mais denso do que isso. As novas tecnologias ofereceram não apenas velocidade ao mundo, mas também pressa. E não se pode confundir velocidade com pressa.

Fazer algo velozmente é sinal de perícia. Mas fazer apressadamente é sinal de descontrole. Isso tudo gera um descompasso muito sério, porque a vida é maratona, e não uma disputa de 100 metros rasos. Na maratona, há momentos para acelerar e para reduzir. É necessário tirar vantagem da velocidade, e não da pressa.

VOCÊ S /A - Mas como transportar isso para o mundo do trabalho, onde tudo é instantâneo?

Mario Sergio Cortella - Vivemos uma realidade multifacetada e, por isso, temos que aproveitar essa simultaneidade das gerações e dos tempos. Eu, às vezes, caminhando pela rua, tenho a impressão de que estou nos anos 70, um quarteirão adiante estou nos anos 80 ou 90. As pessoas mesclaram essa multiplicidade na moda, no mercado e no trabalho. Precisamos ter consciência disso e tirar proveito do conjunto de habilidades que cada geração conseguiu desenvolver.

Unir o senso de urgência dos mais jovens com a experiência dos profissionais com mais idade é benéfico. Claro que isso exige humildade intelectual e também capacidade de lidar com a diversidade. É como uma orquestra: a beleza está na harmonia do conjunto. Pensar as empresas como uma orquestra ajuda bastante.

VOCÊ S /A - Capacidade de inovação vale para a carreira de um profissional também?

Mario Sergio Cortella - Sempre que alguém me pede um conselho de carreira, eu lembro de uma frase do Chico Xavier. Ele dizia: "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim".

O profissional tem que prestar atenção nisso. Acredito que a reinvenção contínua é aquela que projeta algo que seja mais do que a mera repetição do que já se tem. Uma carreira fértil é aquela que inova, que traz para o presente aquilo que realmente tem importância e descarta o que envelheceu.

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