São Paulo - O mercado de tecnologia da informação (TI) enfrenta uma situação inusitada: sobram vagas, faltam profissionais. A situação é semelhante à vivida por outros setores da economia que buscam mão de obra qualificada. A área cresce 10% ao ano, em média, e a previsão é que chegue aos 12% em 2015, ante a uma expectativa de avanço do Produto Interno Bruto (PIB) nacional de 4,5% em 2011.
Só no ano passado, as companhias locais investiram cerca de 90 bilhões de reais em infraestrutura de TI, valor que deverá ser superado neste ano, uma vez que mais da metade delas pretende elevar seus orçamentos até dezembro, de acordo com a IDC Brasil – consultoria especializada na análise de mercados.
O fenômeno do mercado de TI tem uma consequência negativa, é claro: cresce o receio de um "apagão de mão de obra". Mas a eventual crise é também uma oportunidade para candidatos a ingressar no setor – confira o perfil procurado pelas empresas. Favorece ainda aqueles que já atuam nele, pois já assistem à disputa por profissionais e a consequente elevação dos salários.
Só no Catho Online, site que reúne e tabula ofertas de empregos e currículos de profissionais, há 17.000 vagas específicas para a área de tecnologia. "A escassez é generalizada", diz Leonardo Dias, gerente de processos estratégicos do Catho. "As empresas procuram profissionais de todos os níveis e especialidades."
Quem decidir se aventurar por esse caminho, contudo, deve se preparar adequadamente. O setor não precisa apenas de profissionais. Precisa de bons profissionais. A má formação e a ausência de vocação estão na base da escassez de mão de obra. "Existe um descompasso entre as universidades e os cursos técnicos, de um lado, e o mercado, de outro. As instituições de ensino não estão conseguindo formar profissionais bons o suficiente para atender as demandas corporativas", diz Mauro Peres, presidente da IDC Brasil.
Outro dado que ajuda a entender o "apagão" é estarrecedor: a taxa de evasão de alunos nas escolas de tecnologia é de 82%, revela estudo da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). "Isso sugere que muitos bancos escolares são ocupadas por pessoas que, na verdade, não chegarão ao mercado", afirma Sérgio Sgobbi, diretor de Educação e Recursos Humanos da Brasscom.
Para driblar a escassez de opções e a corrida de salários, a saída até aqui tem sido a importação de profissionais qualificados. "As companhias brasileiras têm recorrido a profissionais argentinos para resolver o problema, que inclusive são mais baratos", diz o head hunter Lucas Toledo, da empresa de recrutamento Michael Page. "A tendência para o futuro próximo é esse processo se intensificar: o Brasil não conseguirrá suprir sozinho toda a demanda por mão de obra."
As empresas já começaram a se movimentar. Ao invés de esperar por universidades ou contar com a "importação" de profissionais, apostam no treinamento de jovens talentos. "Em acordo com instituições de ensino, as companhias estão criando centros de capacitação, celeiros de profissionais que se formam com a cultura dos empregadores em mente", diz Toledo.
Bradesco e Microsoft já trabalham nesse modelo. A gigante do software oferece treinamento gratuito para diversos candidatos por meio do programa Students to Business (S2B), que garante certificação aos alunos. Os melhores podem conquistar uma vaga na companhia. Os demais ficam prontos para buscar um lugar no mercado – até mesmo na concorrência. De acordo com a companhia, até o momento, mais de 1.000 profissionais oriundos do projeto já foram incorporados pelo mercado.