Sistema de captação de água do sistema de abastecimento Cantareira na represa de Jaguari, em Joanópolis: falta de água (Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 3 de fevereiro de 2015 às 14h36.
Em meio a uma das maiores crises hídricas da história, algumas expressões merecem especial atenção. No ano passado, por exemplo, nesta coluna semanal, comprovamos que as expressões “reúso” e “multiúso” (por pertencerem à regra dos hiatos formados por “i/u”, acompanhados ou não de “s”) devem sim ser acentuadas graficamente.
Nesta semana, recebi a seguinte pergunta de uma jornalista:
“Professor, devo usar a forma ‘falta d’água’ ou ‘falta de água’?”
O bendito sinal Apóstrofo indica supressão de letra(s) e tem, na atualidade, uso bastante restrito. Vejamos os três casos práticos:
O primeiro caso, oficialmente, marca a apócope (supressão de fonema ou de sílaba no fim de palavra) da vogal e em palavras compostas ligadas pela preposição “de”: “estrela-d’alva”, “mãe-d’água”, “olho-d’água”, “copo-d’água” etc.
Nesse caso, notemos que o apóstrofo sinaliza a economia de sons em substantivos compostos. Além disso, o hífen aponta o significado não literal dos termos. Como exemplo, “copo-d’água”, de acordo com o próprio Houaiss, remete a uma pequena reunião com doces, bebidas etc., oferecida por amigos.
Em palavras mais simples, quem nunca ouviu a famosa frase “Fulano, receba a visita e ofereça-lhe um copo-d’água!”?
O segundo caso, sobre uso do apóstrofo, indica a supressão de uma letra ou mais no verso, por exigência de metrificação. Cabe aqui ressaltar que a situação é literária: “co’este”, “c’roa”, “esp’rança”, “of’recer” etc.
O terceiro caso, por fim, indica a derivação de nomes estrangeiros registrados com apóstrofo: “D’Annunzio”.
Sobre a dúvida da jornalista, é importante notarmos que “falta” é verbo e não ocorre a formação de um substantivo composto. Sendo assim, não há razão para o uso de apóstrofo na escrita.
No entanto, na fala, por questão de eufonia (som agradável) e também objetividade, há sim o “falta d’água”. Em alto e rápido tom, “falta de água” pode passar ao ouvinte um som estranho, uma conhecida cacofonia.
Ratificando, na escrita – “falta de água”; na fala, a inevitável apócope “falta d’água”.
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