Entrada do escritório de admissão de Harvard: universidade é uma das mais seletivas do mundo (foto/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 2 de agosto de 2017 às 17h00.
Última atualização em 2 de agosto de 2017 às 17h00.
Harvard é uma das universidades mais seletivas do mundo – dos quase 40 mil candidatos que enviaram sua application em 2016, foram admitidos cerca de 2100. Uma taxa de aceite de 5%. Para ajudar um pouco a filtrar este número de candidatos, a instituição se utiliza de mais de 15 mil voluntários, que são alunos e ex-alunos, para conduzir uma entrevista de Harvard com candidatos.
Uma destes entrevistadores, Jillian Bayor, deu uma entrevista à revista Business Insider comentando quais eram as perguntas que fazia mais frequentemente aos candidatos. Bayor entrevistou candidatos nos anos de 1998, 1999 e 2000, e hoje ela atua em sua própria empresa de apoio ao application. Antes de se tornar uma entrevistadora de Harvard, ela – que se formou pela instituição em 1995 – recebeu 80 páginas de orientação de como conduzir a entrevista.
O roteiro, segundo a Business Insider, era o seguinte: cerca de duas semanas antes da entrevista, Harvard lhe enviava um arquivo com as informações do estudante que ela entrevistaria. Ela, então, entrava em contato com o jovem agendando uma entrevista em pessoa. As entrevistas eram geralmente feitas na escola, fora do período de aula, e duravam entre 45 minutos e uma hora.
“Você realmente tem que ser seletivo e escolher estudantes que irão conseguir lidar com o rigor acadêmico e com os aspectos emocionais de ir a uma escola como esta. É isto que procuramos”. Em geral, Bayor diz que buscava estudantes que pudessem ter uma conversa com ela, ao invés de simplesmente responder às perguntas com respostas robóticas ou decoradas.
E, embora ela usasse diferentes questões dependendo do estudante e do rumo que a conversa tomasse, há algumas que ela sempre perguntava.
Antes de se encontrar com os estudantes, Bayor já lera as candidatura e sabia tudo o que eles tinham dito em sua application. Mas, apesar de já saber qual seria a resposta para esta pergunta, ela gostava de começar a entrevista com uma questão mais geral.
“Os estudantes chegam para a entrevista e, não importa o quão inteligentes eles sejam ou o quanto já tenham alcançado – é muito intimidante fazer uma entrevista com Harvard. Muitos estão muito nervosos”, explica. “Então, inicialmente eu pergunto questões amplas para dar-lhes a oportunidade de relaxar um pouco e mostrar que não sou uma assustadora e tentar extrair a real personalidade deles”.
Além de ser um bom início de conversa, Bayor diz que perguntar sobre o que eles querem estudar em Harvard também ajuda a entender o quão focado e motivado o estudante é. “Sinto que as candidaturas mais competitivas vêm de estudantes que já têm uma ideia de o que eles gostariam de estudar – mesmo que isso acabe mudando”, ela afirma.
A maior parte das respostas, ela afirma, serão um pouco vagas, enquanto estudantes que são mais confiantes já terão um alvo em vista. Ela, então, se aprofundaria perguntando as razões que fazem o estudante querer estudar aquele assunto – o que lhe dava uma ideia de quão curioso intelectualmente o estudante é.
“Para uma escola do nível de Harvard, você precisa de alguém que tenha curiosidade intelectual”, explica Baylor. “Com estas duas primeiras perguntas você está basicamente tentando distinguir quais são os estudantes que ainda estão muito perdidos, vagos ou (…) que foram pressionados pelos pais a se candidatar ou a estarem ali na entrevista de Harvard ”.
Cerca de meia hora depois de perguntas deste tipo, Baylor diz que já saberia dizer se o estudante é ou não um candidato com potencial. Se achar que não, ela não faria nenhuma pergunta difícil e terminaria a entrevista.
Mas se ela considerava que o estudante tinha chance e era interessante, ela passava a algumas perguntas mais desafiadoras.
2. Qual foi a experiência mais negativa que você já teve na escola?
“Eles não estão preparados para esta questão. Ninguém gosta de pensar em coisas ruins”, diz Baylor. Ao perguntar sobre uma experiência negativa, ela conseguia uma resposta honesta e autêntica.
Não há, segundo ela, uma resposta certa ou errada para esta questão – a experiência negativa poderia ser de uma perspectiva acadêmica, social ou até médica. “Pode ser qualquer coisa – estou interessada na verdade é pela expressão autêntica do que foi aquela situação”.
Ela iria, então, tentar entender como o estudante lidou com a situação e virou o jogo. “É esta volta por cima que poderia adicionar algo positivo à minha avaliação. Estava procurando entender a capacidade de o estudante passar por uma situação difícil e conseguir (…) seguir em frente, de uma forma positiva”.
Isto mostra, segundo Bayor, que o estudante tem uma atitude positiva – o que é importante quando se vai para uma escola competitiva como Harvard. O estudante precisa saber lidar com rejeição, com erros, e saber voltar ao jogo.
Esta pergunta revela muito sobre o estudante, e a ajuda a separá-los em duas categorias: “focados” e “versáteis”. “Uma não é melhor que a outra, são apenas dois tipos de estudantes quando se trata de extracurriculares”, ela explica.
O focado se dedica exclusivamente a uma atividade extracurricular, com a qual ele geralmente está envolvido pela maior parte da vida. Já o “versátil”, por outro lado, se dedica a algumas atividades simultaneamente – como tocar um instrumento, praticar esportes ou participar de eventos culturais ou aulas complementares depois da escola.
“Seja focado ou versátil, estou procurando por algo que o faça único”, afirma Bayor. “O que faz este estudante diferente do que está ao seu lado? Dos seus amigos na escola? É neste aspecto que ter uma atividade extracurricular diferente pode fazer o estudante se destacar na candidatura”.
Nesta questão, Bayor está novamente tentando entender o quão intelectualmente curioso e engajado com o mundo o estudante é. “Você quer encontrar alguém que já esteja em um nível adulto de conversação (…) alguém que eu não saberia a diferença de idade se não estivesse sentada em frente a ele”.
Para ela, nesta hora falar apenas sobre blogs de humor ou sobre histórias em quadrinhos seria um sinal vermelho. “É melhor que o estudante mencione algo sério também”, ela diz. “Sei que são jovens, e queremos que sejam jovens normais, com habilidade de ter amigos e interagir com eles, mas você também quer ver que eles têm uma mente séria também – que conseguem ler o New York Times, que tenham fontes válidas de informação que não seja apenas seu feed do Facebook”.
Por fim, Bayor diz que procura por consciência e exposição. Não há nenhum viés de classe social nesta pergunta – um festival de música de rua se compararia a uma ópera, ela afirma.
“Eu só quero saber se o estudante está fazendo coisas interessantes, mesmo que sejam coisas particulares à sua região ou ao seu país”, ela afirma. “Queremos estudantes que estão fazendo mais do que ficar sentados mexendo no Instagram”, finaliza.
Este artigo é uma tradução. Você pode conferir o original (em inglês) no site da Business Insider.