Mauricio Rodrigues: "Com um time maior e mais diverso, eu vou precisar me colocar no lugar do outro e mais escutar do que falar" (Reinaldo Canato/Bayer/Divulgação)
Luísa Granato
Publicado em 21 de julho de 2021 às 08h00.
Última atualização em 21 de julho de 2021 às 16h43.
No último mês e meio, Maurício Rodrigues passou pela transição para assumir o novo desafio da sua carreira: ele passou da vice-presidência de Finanças na área de Crop Science da Bayer do Brasil para assumir a liderança da operação na América Latina.
O executivo foi promovido para substituir Rodrigo Santos, que se tornou Diretor de operações da divisão agrícola da Bayer global.
Em primeira entrevista exclusiva para a Exame após assumir o cargo, Rodrigues, que trabalha na empresa desde 1999, destaca que as movimentações são prova do forte plano de sucessão e que é relevante um brasileiro sendo alçado para um cargo internacional.
“Mostra a importância da América Latina para a empresa. Assim como a importância do desenvolvimento dos profissionais”, diz ele.
Agora responsável por mais de 7 mil pessoas em diversos países da América Latina, Rodrigues reflete sobre os novos desafios do cargo e suas responsabilidades como líder.
O executivo permanece como o patrono do Bayafro, grupo de diversidade focado no pilar racial. Em 2020, ele foi um dos protagonistas na elaboração e promoção do programa de trainee com vagas afirmativas para negros na empresa.
No ano passado, ele falou como o lançamento do programa era o resultado de anos de trabalhos de diversidade e inclusão da companhia. Na matéria “Antirracismo institucional” da edição de outubro passado, Rodrigues contou sobre o começo da sua carreira como trainee há mais de 23 anos.
O acesso a educação de qualidade e a referência dos pais, que chegaram ao ensino superior, ajudaram-no a dar esse primeiro passo na carreira de sucesso. Mas ele conta que sempre faltava se ver representado nos lugares.
Com o cargo de presidente, ele acredita que sua responsabilidade com a inclusão é maior – e o alcance de sua influência também.
“A função me permite ampliar ainda mais a discussão e para um time ainda maior. Quero continuar como referência, temos uma população negra muito carente disso. No movimento que fizemos com o trainee, sempre destaquei que não era uma iniciativa isolada. Tudo tem seu tempo, não vamos mudar o mundo da noite para o dia, mas tenho condições de continuar tomando decisões para incentivar mais a inclusão”, diz.
Do lado do negócio, ele espera um cenário mais complexo para a liderança. De um lado, ele vê que existem exigências de segurança que se mantêm com o prolongamento da pandemia. Isso gera uma atenção especial para o emocional dos funcionários e o estresse acumulado no último ano.
Por outro lado, Rodrigues também afirma que terá um cuidado especial com seu aprendizado sobre a atuação de times diferentes do que o que lidava na área de finanças.
“A primeira mudança que me chama atenção é a de gerenciar um time mais sênior e com características muito distintas das que estava habituado no time de finanças. Preciso entender as demandas de times mais amplos, como de produção ou pesquisa”, comenta ele.
“Acho que tive que desenvolver muito a empatia. A pandemia nos forçou a fazer isso de maneira mais efetiva. A liderança precisou ser mais empática. Com um time maior e mais diverso, eu vou precisar me colocar no lugar do outro e mais escutar do que falar. Vou precisar ser mais inclusivo para ouvir vários pontos e formar decisões mais adequadas”.
“O desafio principal será a priorização. A priorização de entender o que é relevante e manter um planejamento claro. É muito fácil numa função dessa achar que pode abraçar o mundo e trabalhar cada minuto do dia. Isso é péssimo e gera uma demanda desnecessária para a equipe. Eu preciso entender quais batalhas devo enfrentar e respeitar a fronteira com o time”.
“É natural ao assumir essa função ter a impressão de que não estar dando conta. Existem discussões que são com times de especialistas com PhD em melhoramento genético. O desafio é saber até que ponto eu preciso entender dos temas e onde eu posso contribuir para que os especialistas possam executar seu trabalho. Um pouco de ansiedade é natural e importante, mas não pode passar do ponto. Não quero abraçar o mundo, mas preciso representar os diversos stakeholders internos e externos da Bayer”.