A executiva de vendas Manuela Cardoso | Germano Lüders /
Da Redação
Publicado em 20 de janeiro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 20 de janeiro de 2019 às 06h00.
O país inicia 2019 com certo otimismo. O empresariado brasileiro aposta numa recuperação econômica já no primeiro ano do novo governo e, por isso, tende a liberar os investimentos para projetos e expansões, o que deve representar um aumento das oportunidades de emprego. Segundo a pesquisa Agenda 2019, realizada pela consultoria Deloitte com 826 empresas de todo o país, as quais, juntas, faturam o equivalente a 43% do PIB nacional, o otimismo está atrelado às reformas tributária e previdenciária, apontadas pela maioria como prioridades.
“Além disso, endereçar temas estruturais, que gerem empregos e façam com que a sociedade se movimente, é de suma importância para 80% dos entrevistados. Esses são fatores condicionantes para o destravamento da economia”, afirma Othon Almeida, sócio-líder das áreas de desenvolvimento de mercado e talentos da Deloitte.
Ainda segundo a pesquisa, 97% dos empresários pretendem investir ou implementar ações que desenvolvam os seus negócios neste ano. E, para melhorar, quase metade (47%) manifestou a intenção de aumentar o quadro. Outros 32% planejam manter o número de funcionários no patamar atual, mas realizando substituições.
“À medida que os empresários tomam a decisão de investir e ampliar as linhas de produção, sentimos o efeito direto sobre a criação de posições de trabalho”, diz Sergio Firpo, professor de economia no Insper. Outra informação positiva vem da plataforma de recrutamento Vagas, que espera um aumento de 6% a 10% no número de postos oferecidos no site durante o ano que está começando. Isso representa, em média, 1 400 novos empregos por dia.
Essas são boas notícias para quem quer se recolocar em 2019. E, para ajudar nessa jornada, VOCÊ S/A criou um guia para melhorar o currículo, ampliar a presença digital, ficar na mira dos recrutadores, encontrar a empresa ideal e se sair bem na entrevista de seleção. Confira as dicas dos especialistas a seguir e feliz emprego novo!
CURRÍCULO
Foco é tudo
Por mais conectado que o mercado esteja, tudo ainda começa com um bom currículo. E, por mais simples que esta tarefa pareça, ela exige atenção e cuidado. “Se estiver muito fácil montar seu currículo, vale a pena revê-lo”, afirma Sérgio Margosian, gerente da consultoria Michael Page e especialista em recrutamento para área de recursos humanos. Lembre-se de incluir seu objetivo profissional. E, quanto mais focado, melhor. “Quando é muito abrangente, fico em dúvida sobre onde o profissional se encaixa”, diz Sérgio.
O documento deve ir direto ao ponto, mas destacar, de forma sucinta, os resultados alcançados. “Assim como todo mundo, recrutadores também têm pouco tempo para administrar tanta informação. Para chamar a atenção, é preciso mostrar uma trajetória de constante evolução e entregas de forma coesa”, diz Sergio.
A sugestão é pontuar os cargos dos últimos cinco anos e embaixo de cada um deles as principais entregas, como a redução de uma despesa, a conquista de uma premiação ou um feedback positivo por determinado resultado.
“Se você tem 25 anos, pode colocar a experiência desde o estágio. Se é um diretor, coloque a partir de sua posição como gerente, por exemplo”, diz Rebeca Mayan, gerente da divisão de vendas da consultoria Talenses, especializada no recrutamento de executivos. Organizar em tópicos transmite mais objetividade, mas, se precisa descrever em texto corrido, cuide para que não ultrapasse três linhas.
Quando analisam esse documento, os recrutadores olham, além do objetivo e da experiência com resultados, as competências técnicas e as ferramentas ou os sistemas que o profissional domina. “Se sua posição exige Excel, por exemplo, é bom incluir. Mas, se você é um programador e domina sistemas mais avançados, coloque esses, e não o Excel”, completa Rebeca.
Layout-padrão
A aparência do currículo pode variar conforme sua preferência, indo desde um documento profissionalmente diagramado até um simples Word. Mas alguns cuidados devem ser tomados. Um deles é colocar as informações de contato em um local de fácil de visualização, de preferência próximo ao seu nome.
Outro ponto importante é manter um padrão de formatação. Coloque o nome das empresas por onde passou com o mesmo negrito ou sublinhado. Se quiser adicionar a data ao lado do cargo, padronize em todas as posições.
“Quando tenho dois currículos de pessoas igualmente qualificadas, priorizo para entrevista a que tem mais cuidado ao apresentar sua trajetória. É a primeira impressão que o candidato passa”, diz Sérgio. Por isso, cuidado com erros de português ou de digitação. O documento deve ter de duas a três páginas.
Tradução simultânea
Se você busca uma posição em uma multinacional, é importante ter um currículo em inglês. “Não é necessário preparar uma versão especial, apenas a mesma versão do documento traduzido para o inglês”, explica Sérgio.
Um bom currículo e uma apresentação simpática no corpo do e-mail com um resumo sobre você e suas intenções já são suficientes. Cartas de apresentação são dispensáveis hoje em dia. “Elas podem se tornar repetitivas quando se tem um currículo bem-feito. Como buscamos assertividade, uma apresentação bacana no próprio e-mail já faz esse papel”, afirma Sérgio.
Presença digital
Onde se cadastrar
Currículo pronto, é hora de aumentar sua presença no mundo virtual. Se você quer se destacar como profissional, o primeiro passo é ter um perfil no LinkedIn. O Brasil é o quarto país no ranking de utilização da rede social, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, da China e da Índia.
São 35 milhões de usuários no mundo e 100 000 novos perfis por semana. Haja networking. Além disso, as empresas postam suas vagas e recrutam pela ferramenta, e quem está em uma busca ativa por emprego pode filtrar as oportunidades.
Só no Brasil estão disponíveis 350 000 vagas e, no dia do fechamento desta reportagem, haviam sido criadas 6 000 novas posições nas últimas 24 horas.
O segundo passo é cadastrar seu currículo no Vagas, que oferece 14 000 empregos por dia, tem mais de 3 000 clientes cadastrados — 70 das 100 maiores empresas do Brasil compõem esta lista — e uma base cadastral de 17 milhões de currículos. Todos os serviços oferecidos pelo site são gratuitos.
Já o LinkedIn tem também a conta Premium, que é paga e indicada para quem está ativamente atrás de um emprego. Entre outros serviços, a versão top da rede social permite que os candidatos mandem um número determinado de mensagens diretas às pessoas mesmo sem estar conectados a elas, mostra estatísticas de uma vaga e como você está posicionado em relação a outros postulantes.
Se quiser ter mais evidência em relação aos concorrentes, pode ativar o recurso Candidatura em Destaque. “Para ser encontrado não faz tanta diferença. Os recrutadores, em geral, têm as contas Premium, com mais filtros para buscar os profissionais”, diz Rebeca.
Siga as empresas
Embora muita gente esqueça, as companhias também possuem banco de currículos. E ele pode ser bastante útil. Nem sempre a oportunidade para seu perfil está aberta naquele momento, mas empresas sérias checam frequentemente os postulantes. “O RH faz a devida triagem e coloca os candidatos em um banco de talentos”, diz Sérgio, da Michael Page.
O mesmo acontece quando você registra suas experiências em sites de consultorias de recrutamento, que estão constantemente atrás de bons profissionais. “O currículo é sempre encaminhado ao recrutador da área de atuação do trabalhador”, afirma Rebeca, da Talenses.
NETWORKING
Na mira dos headhunters
Os recrutadores utilizam suas redes de contatos para conseguir indicações. “Temos muitas conexões com pessoas que atuam na área para a qual selecionamos e eles sempre nos indicam profissionais com quem já trabalharam. O networking é muito importante. E a melhor forma de desenvolvê-lo é enquanto se está empregado”, diz Sérgio, da Michael Page.
Por isso, é preciso entrar no radar desse pessoal. Descubra qual é o headhunter que atua em sua área e escreva para ele no LinkedIn. Pode fazer o convite para tomar um café e conversar sobre carreira ou iniciar a conversa indicando um artigo ou pesquisa que possa ser aproveitado pelo hunter.
Outra maneira de aparecer é adicioná-los à sua rede — desde que ela seja positivamente movimentada. Publicar artigos e compartilhar conhecimento pode atrair os olhares desses profissionais. “Buscamos pessoas que tenham visão positiva e construtiva para os problemas. Já cheguei a convidar um executivo para um café depois que li um texto dele no LinkedIn”, afirma Sérgio.
Estar próximo dos caçadores de talentos é importante porque algumas vagas são sigilosas e são trabalhadas no boca a boca — e só serão divulgadas para quem tem algum contato com o recrutador.
Aproximação inteligente
Além de acompanhar sites e conhecer os headhunters, outra maneira de encontrar emprego é ficar atento às movimentações de cargo que acontecem entre suas conexões nas redes sociais. Por exemplo: se você é gerente de marketing e viu que um colega na mesma posição mudou de empresa, já sabe que existe uma vaga disponível ali. Nesse caso, a dica é conversar com seus contatos naquela companhia para se colocar à disposição e entender se o RH vai procurar alguém no mercado.
Aproximar-se de colegas é importante não só quando há uma vaga disponível. Vale ter essa atitude para sinalizar que você está aberto a desafios. “Seja transparente sobre suas intenções. Diga: ‘Estou entrando em contato porque busco uma nova oportunidade e gostaria de agendar um café para a gente se conhecer melhor’ ”, orienta Sérgio.
Segundo ele, a conversa deve ser feita diretamente com o gestor da posição que você almeja ou com o responsável pelo RH. Mas seja cauteloso com a quantidade de vezes que aciona a mesma pessoa. “Não se torne impertinente insistindo em ter uma resposta em curto espaço de tempo. Não pega bem”, diz Sérgio. Além disso, se você estiver empregado, mantenha a discrição para não prejudicar as relações com os atuais chefes e colegas. Nesse caso, o volume de contatos tem de ser pequeno e assertivo.
ENTREVISTAS
Face a face
Chegar à fase de entrevistas é sinal de que a chance de conquistar uma vaga é grande. Por isso, é importante se preparar. Estude o próprio currículo, sinta-se seguro para falar sobre datas e principais metas atingidas e tenha na manga detalhes de como as entregas foram feitas.
Não se esqueça, também, de pesquisar sobre a possível empregadora: olhe relatórios de sustentabilidade da empresa, busque notícias sobre a companhia e sobre o setor no qual ela atua. Além disso, tente descobrir um pouco sobre a trajetória do entrevistador. “Se você conta algo com o que a pessoa se identifica já quebra um gelo e cria a empatia”, diz Sérgio, da Michael Page.
Mas a questão mais importante é ser sincero — para falar, inclusive, sobre assuntos complicados. “Todo mundo passa por momentos que saíram do planejado. Eles devem ser abordados na entrevista, assim como as lições que ensinaram”, diz Sérgio.
Atente-se também a ser verdadeiro ao declarar o nível de fluência em uma segunda língua porque os entrevistadores podem mudar o idioma, de repente, no meio da conversa.
E lembre-se de que, dependendo do interlocutor, o objetivo do bate-papo muda. O gestor direto precisa entender se o profissional se encaixa na equipe e se aprofundar em questões técnicas. A conversa com o RH gira em torno de valores e competências. O trabalho do headhunter é compreender de forma macro quem é esse profissional e entrar em detalhes para direcioná-lo para a vaga certa.
Etiqueta básica
O básico para não errar na roupa é o bom e velho “menos é mais”. Vá de forma coerente com a posição que você pretende ocupar e com a cultura da empresa. “Mais importante do que estar de camisa ou camiseta é o cuidado que se tem. Se você vai a uma festa, você se arruma, então, mostre que teve esse cuidado para estar na entrevista também”, afirma Sérgio, da Michael Page.
Em termos de postura, sempre olhe no olho do entrevistador e não exagere supervalorizando as entregas. “Não é elegante perguntar sobre remuneração no momento da entrevista. No entanto, se for questionado sobre pretensão salarial, responda”, diz Rebeca, da Talenses.
Ao final da conversa, vale a pena acordar uma data para o feedback, seja ele positivo ou negativo. E, no caso de o recrutador não retornar na data combinada, pode ligar. Mas é educado insistir no retorno apenas por três tentativas. Se for necessário mais que isso, melhor desistir.