O volume de alunos entre 27 e 31 anos cresceu 29% em comparação ao ano anterior, segundo levantamento realizado pelo CIEE (FangXiaNuo/Getty Images)
Repórter
Publicado em 9 de setembro de 2023 às 08h02.
Uma nova tendência começa a surgir no mercado de trabalho: universitários interessados em estagiar estão ficando mais velhos. Enquanto o número de estudantes entre 19 e 22 anos apresentou retração de 5% no primeiro semestre, o volume de alunos entre 27 e 31 anos cresceu 29% em comparação ao ano anterior, segundo levantamento realizado pelo CIEE (Centro de Integração Empresa Escola), que utilizou informações de sua base de dados.
“Esses dados mostram uma quebra de paradigmas em que universitários não necessariamente serão os mais jovens. Em relação à contratação de estagiários mais velhos, houve um aumento tímido de 2,8% em nossa base de dados. É um número pequeno, mas já é um sinal de mudança de comportamento,” afirma Rodrigo Dib, superintendente institucional do CIEE.
Há dois motivos que podem estar provocando essa mudança de perfil de estagiários, segundo Dib:
“Se esse perfil de estagiários mais velhos é bom ou ruim, se vai atrapalhar os mais jovens ou não, se vai gerar uma empregabilidade melhor ou não, veremos apenas mais tarde com os resultados do mercado de trabalho,” diz Dib.
O estudo ainda apontou que ao menos 59,7% dos estudantes entre 27 e 31 anos que buscam por estágios são mulheres e 40,3% são homens.
“Quando a gente olha o nível de interesse, as mulheres nutrem esse desejo de ir além e por isso sempre buscam estar na frente quando olhamos para o recorte de estudos. Por isso, esse dado não surpreende,” afirma Dib.
O estado com o maior crescimento de universitários mais velhos neste ano é a Paraíba, que registrou aumento de 46% no volume de estudantes do ensino superior, seguido por Alagoas, com crescimento de 28,3%, e Roraima, com números 28% superiores aos do ano anterior, de acordo com o levantamento.
“Temos nos estados do Nordeste muitas políticas públicas de estímulo à educação. Ainda são suposições, afinal, precisamos de um estudo qualitativo para entender melhor essa tendência de estagiários mais velhos, mas trata-se de uma região onde existem muitos incentivos para a continuidade dos estudos,” afirma Dib.
Os universitários entre 27 e 31 anos, de acordo com o estudo, geralmente estão matriculados nos seguintes cursos de graduação:
“Apesar da tecnologia, áreas como administração e direito se destacam mostrando uma relação dessas áreas mais tradicionais com a idade do aluno,” diz Dib.
E sobre as áreas que os absorvem para estagiar, se destacam no estudo:
“Fico feliz de ver que educação é uma das áreas que mais absorvem estagiários mais velhos, afinal, tem relação com estudantes de pedagogias, que é uma das profissões que mais precisamos no país. Há um desinteresse grande dessa profissão, muito se fala da desvalorização dos professores no Brasil, mas se a gente olhar para o futuro eles são os propulsores da educação de qualidade”, diz Dib.
Os desafios podem ser contrários aos que um jovem sem experiência pode ter, diz Dib, que reforça que há líderes que poderão ser mais novos que os estagiários e terá empresas que irá preferir contratar estagiários que não tem experiência, mas o executivo reforça que a solução será o universitário mais velho estar aberto para o novo:
“Os estágios mais velhos trazem bagagens, eles precisam se atentar aos vieses e marcas do passado. No final do dia, ele está em uma posição de início de carreira e precisa estar aberto ao novo.”