Narayane Ribeiro Medeiros: “Se eu passar, vou levar outras pessoas comigo”. (Germano Lüders/Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 10h30.
Se não está em sala de aula, está no laboratório. E, se não está em nenhum dos dois, provavelmente está estudando. Aos 23 anos, Narayane Ribeiro Medeiros cursa graduação e mestrado simultaneamente em engenharia aeroespacial no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), lidera pesquisas com satélites, participa de um grupo de robótica humanoide, dá aulas em cursinhos populares e já começa a rascunhar os próximos passos — que devem incluir um doutorado na China.
Hoje uma das poucas mulheres aprovadas no ITA, Narayane percorreu um caminho improvável até o centro de excelência em tecnologia e defesa no Brasil. Nascida em Valparaíso de Goiás, no entorno do Distrito Federal, ela descobriu o ITA aos 15 anos por acaso, durante uma visita a um campus universitário. Desde então, mirou no objetivo e fez uma promessa: “Se eu passar, vou levar outras pessoas comigo”.
A rotina, desde cedo, foi puxada. Acordava de madrugada para estudar para o vestibular antes de ir à escola e ainda dar conta das tarefas domésticas. Ganhou uma bolsa para concluir o ensino médio em Brasília, mas não passou no ITA de primeira.
Em vez de desistir, usou suas aprovações em outras universidades para aplicar a cursinhos preparatórios populares no país inteiro até conseguir uma bolsa integral em uma escola no Ceará. Lá, passou um ano estudando em regime intensivo até o e-mail de aprovação no ITA finalmente chegar.
Já como aluna da instituição, ela prestou serviço militar obrigatório por um ano, lidera a equipe de nanossatélites do ITA e coordena pesquisas em montagem inteligente de aeronaves com apoio da Embraer e da Fapesp. No tempo livre (se é que sobra algum), dá aulas em cursinho voluntário para alunos de baixa renda e ajuda a ampliar o acesso à educação científica.
Narayane é uma das vencedoras do Prêmio Protagonismo Universitário 2025, na categoria Sudeste. O reconhecimento veio com o projeto GeoPredict, que aplica inteligência artificial e processamento de imagens de satélite para prever impactos ambientais até 2050.
A solução foi finalista global do NASA Space Apps Challenge, entre mais de 10 mil inscritos. Mas o alcance vai além da pesquisa acadêmica: Narayane promoveu oficinas de educação climática para mais de 200 alunos da rede pública, e agora trabalha numa nova etapa do projeto, que pretende mapear reservatórios hídricos no semiárido brasileiro com sensores de radar.
A robótica, outra frente que ocupa seu radar, também integra seu horizonte de futuro. Ela atua no grupo de pesquisa em robótica humanoide do ITA e estuda seguir carreira científica na área. “A ideia é buscar um doutorado na China, com foco em inteligência artificial aplicada à robótica”, diz.
Longe dos holofotes das redes sociais, Narayane acredita em ciência como ferramenta de transformação, e não como título bonito pendurado na parede. “A gente cresce ouvindo que existe lugar que não é para a gente. Mas quando você se vê fazendo, entende que não tem volta. Ou você puxa outros com você, ou volta pra trás. E voltar não é uma opção.”