Um professor que deixou a universidade para ser educador
Como um discípulo de Paulo Freire e Guimarães Rosa está transformando a educação nos rincões do país
Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2013 às 16h40.
São Paulo - Antropólogo por formação acadêmica, educador popular por opção política, folclorista por necessidade, mineiro por sorte e atleticano por sina.
É assim que Tião Rocha, de 65 anos, se autodefine. Há três décadas, ele abandonou a cadeira de professor na Universidade Federal de Ouro Preto para mergulhar no interior de Minas Gerais e fundar uma ONG — o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD).
“Cheguei à universidade e falei: ‘A partir de hoje, não quero mais ser professor. Quero ser educador. Professor ensina e educador aprende. E eu tô passando da hora de sair do lugar da ensinagem pra passar pro lugar da aprendizagem.’ E fui embora.” Tião partiu então para a cidade de Curvelo. Ali passou a testar na prática o verbo “Paulofreirar”, que cunhou em homenagem ao educador e filósofo Paulo Freire.
Hoje, o CPCD atua ativamente em dez municípios brasileiros, beneficiando 8.000 pessoas em suas bases de Minas Gerais, São Paulo e Maranhão, nas quais trabalham 80 funcionários e 135 bolsistas (jovens e mães que recebem uma ajuda de custo para colaborar com atividades em sua comunidade).
Em três décadas, a ONG contabiliza quase 117.000 pessoas atendidas pelos diversos projetos, que vão desde atividades para crianças (como contação de histórias, danças de roda, criação de brinquedos e pintura com tinta de terra) até oficinas profissionalizantes para jovens (como marcenaria, vídeo, artesanato e produção de softwares), passando pelo aprimoramento de técnicas agrícolas.
Tudo gratuito, graças ao apoio de grandes empresas, como Petrobras e Fundação Vale.
Tião Rocha é visto hoje como um decano do terceiro setor brasileiro, respeitado por entidades multinacionais, como as fundações Avina e Ashoka, que apoiam líderes com alto potencial de impacto social. Essa deferência já o levou a países como Moçambique e Guiné-Bissau, onde ele colaborou com a implantação de projetos inspirados no CPCD.
“Quando a gente chega a uma comunidade e nota que as pessoas estão com a autoestima muito baixa, a primeira coisa é fazê-las acreditar nas potencialidades que já têm”, diz Tião, explicando seu conceito de “empodimento”, uma corruptela bem-humorada do inglês empowerment. “Se eles alcançarem o ponto de falar ‘Quer dizer que nóis pode?!’, tá ótimo! A concordância resolvemos depois.”