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Descomplicando a criatividade: um manual para se tornar mais criativo

Se engana quem pensa que a habilidade está destinada aos artistas. Sofia Esteves ensina como manter sua mente criativa

 (sorbetto/Getty Images)

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Sofia Esteves

Sofia Esteves

Publicado em 1 de junho de 2020 às 12h00.

Última atualização em 2 de junho de 2020 às 17h25.

A criatividade é a responsável por nos ajudar a encontrar soluções para os desafios cotidianos e pelas boas ideias que impulsionam nossas carreiras e negócios. Não à toa ela se tornou uma das softs skills mais importantes para o futuro do trabalho.

No entanto, se engana quem pensa que essa habilidade está destinada aos artistas, ou aos gênios. Basta observar as crianças brincando para perceber como a criatividade faz parte da nossa natureza.

Mas, por que é tão desafiador se manter criativo?

É na infância, principalmente nos sete primeiros anos, que boa parte da nossa personalidade é formada. - Pai, mãe, olha o que eu fiz! Olha o que eu sei fazer! As crianças adoram nos mostrar cada nova descoberta, não é mesmo?

No entanto, cuidadores ocupados demais, ou sem paciência, não têm tempo para validar e elogiar as crianças. Mas, você sabia que a criatividade está intrinsecamente ligada a motivação?

Junto a isso, o modelo tradicional de ensino exige que crianças, cheias de energia e potencial criativo, permaneçam sentadas ouvindo os professores, sem questionar, por anos a fio!

A única motivação que elas têm são as avaliações. As notas “definem” a “inteligência” dos alunos e, a partir disso, criamos perfeccionistas e ansiosos, com medo de não serem bons o suficiente. Acontece que, o perfeccionismo é o maior responsável pelo bloqueio criativo e pela perda da capacidade de inovar.

Em seu livro “How Creativity Works” (Como a Criatividade Funciona), o neurocientista americano Jonah Lehrer, apresenta dados de um estudo que realizou em uma escola tradicional americana.

Ele observou que nos primeiros anos, 95% das crianças são criativas. Mas, a partir da 5ª série, a criatividade cai para 50% e no Ensino Médio, o índice é de apenas 10%.

Sendo assim, os profissionais chegam ao mercado esquecidos dessa capacidade, mas envoltos de pressão para serem originais e inovadores. Então, como criar o amanhã se estamos crescendo em meio a regras arcaicas?

Já que não é possível mudar o passado, precisamos usar o presente para fazer um futuro diferente. Logo, cabe a você, as empresas e as escolas, entenderem que a criatividade é construída através dos estímulos certos e caminhar em direção a essa reconexão.

Os princípios da criatividade

Confiança e atitude: Henry Ford certa vez disse: “Se você acredita que pode, você está certo. Se acredita que não pode, você também está certo”. Para começar um processo criativo, primeiro é necessário confiar que será possível.

Atenção: encontrar uma boa solução exige que você perceba claramente o desafio em que está inserido. Ou seja, que tenha atenção, sem distrações, inclusive emocionais.

Curiosidade: essa habilidade é a base da criatividade. Seja curioso e questionador, só assim você vai chegar aonde outros não chegaram por preguiça de saber mais. A importância da curiosidade se estende para toda a nossa vida. Quanto mais aprendemos, mais repertório adquirimos para criar algo novo.

Coragem: o medo do fracasso e da rejeição criam a ansiedade e o perfeccionismo, minando a criatividade. Coragem não é ausência de medo, é enfrentar o medo. Tudo bem ter medo, mas ele não pode ser maior que a sua vontade de fazer algo dar certo. Experimente criar algo com confiança e perceba os resultados.

Mudança de lente: só é possível inovar se houver um pensamento diferente da linha de raciocínio em que o desafio foi criado. Quebre as regras do pensamento lógico, evite o autojulgamento e permita-se pensar de maneira inédita.

Resiliência sem teimosia: o segredo do sucesso está em manter-se firme apesar dos tropeços no caminho. Contudo, não confunda persistência com teimosia. Teimosia é insistir num projeto quando todas as evidências mostram que seus objetivos não são realistas.
Dicas simples para estimular a criatividade

Silêncio: nossas mentes estão hiperestimuladas pela tecnologia e pela correria das rotinas agitadas. Para muitos, parar é assustador. No entanto, a ciência já comprovou os benefícios do silêncio mental.

A meditação é uma prática que funciona como um banho mental, tornando possível acessar a criatividade com mais facilidade. Diariamente, de preferência ao acordar e antes de dormir, simplesmente pare!

Existem muitas opções de aplicativos de celular gratuitos que ensinam a meditar. Pesquise e encontre o que se encaixa melhor no seu perfil.

Autocuidado: as pessoas costumam esquecer que o cérebro faz parte do corpo. Logo, para ter uma mente criativa, é necessário um corpo saudável. Durma bem, coma de forma saudável, deixe de lado as redes sociais e invista em práticas de autocuidado.

Não se compare, se inspire: deixamos de realizar muitas coisas boas porque nos comparamos com o sucesso de outras pessoas. Ninguém começa no topo, ou é tão feliz quanto parece nas redes sociais.

Abra mão da comparação e foque sua atenção nas habilidades, atitudes ou resultados que você admira. Lembre-se, você tem a mesma capacidade!

Consuma conteúdos inspiradores: depois da curiosidade, a inspiração é o maior combustível da criatividade. Separe um momento do dia para consumir conteúdos que te façam pensar, refletir ou te ensinem sobre algo que você gosta.

Para a criatividade ser acionada, é importante variar os estímulos. Diversifique os conteúdos entre vídeos, artes, textos, filmes, documentários, palestras e podcasts.

Tenha um baú de tesouros criativos: selecione os materiais que mais te inspiram e guarde em um local de fácil acesso. Pode ser em uma pasta, no computador, ou também em uma caixa, com textos, frases, obras de arte e citações. Antes de começar a trabalhar, ou em um processo de bloqueio criativo, abra o seu baú de tesouros e tome alguns goles de inspiração.

Converse com pessoas interessantes: saiba que uma pessoa interessante não é apenas o CEO daquela empresa que você admira. Seus pais e avós têm muito a te contar! Imagine quão criativos eles tinham que ser em tempos onde as respostas não estavam no Google?

Converse com familiares, amigos e profissionais da sua área de atuação e invista em formas de conhecer novas pessoas, que não tenham relação com o seu trabalho. A diversidade de pensamentos é fundamental para ampliar a sua mente e dar mais repertório para a sua criatividade.

Crie algo fora do seu trabalho: nossa tendência é automatizar nossa forma de trabalhar. Para não deixar que a sua mente enrijeça, é interessante ter projetos pessoais que te estimulem a novos movimentos.

Desde um novo curso, um projeto manual, até um empreendimento pessoal.

Faça algo inédito: toda a semana se comprometa a fazer algo pela primeira vez. Dessa forma, você criará o hábito na sua mente de se abrir a novas experiências, ampliando sua forma de enxergar o mundo e de ser criativo.

Seja legal com as suas relações: além da empatia ser uma soft skill importante para o futuro do trabalho, os conflitos nas relações geram estresse e roubam muita energia criativa. Gentileza, respeito e afeto nas relações só te trarão benefícios!

Todas essas dicas podem parecer muito simples. Mas, experimente testá-las por um mês e perceba os resultados. Um conhecimento não precisa ser complicado para ser bom. Muito pelo contrário, precisamos de mentes que tragam soluções simples e acessíveis ao mercado.

A simplicidade também é um valor da criatividade, descomplique a sua vida, a sua mente e todo o resto se tornará mais leve e fluido.

Boa jornada!

Sofia Esteves é presidente do conselho do grupo Cia. de Talentos

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