Em 2022, estes serão os desafios do modelo híbrido nas empresas
Vice-presidentes de RH da Natura &Co e da PepsiCo contam os preparos para o desafio do trabalho híbrido em 2022
Luísa Granato
Publicado em 22 de dezembro de 2021 às 10h00.
Última atualização em 22 de dezembro de 2021 às 11h06.
Para que serve o escritório no era do trabalho híbrido? O vice-presidente de recursos humanos da PepsiCo, Fabio Barbagli, faz questão de ter o novo mantra da empresa na ponta da língua para recitar a todos que fizerem essa pergunta.
“O escritório continua super relevante, mas muda seu propósito. Agora são os 4Cs: colaboração, criação, conexão e celebração”, explica.
A reforma do escritório em São Paulo segue essa lógica e a área do café, antes posta num canto escondido, se tornou a protagonista no novo espaço.
“Se você antes passava rápido para pegar um café e depois voltava pra responder um e-mail na sua mesa, agora descobrimos que o local é muito mais importante que isso. No futuro, queremos que o espaço mais nobre seja o café”, diz Barbagli.
Com mais de 12 mil funcionários no Brasil, apenas 10% deles trabalham na parte administrativa e usam o escritório. Para esses, o modelo será híbrido flexível, e se inicia em 2022.
O teste de fogo para o modelo híbrido foi uma das tendências para o próximo ano de destaque na nova edição da Revista Exame. Segundo a consultoria de gestão de riscos corporativos AON, a pandemia levou 73,3% das empresas a implementarem políticas de trabalho remoto .Antes de 2020, 68,5% delas não tinham home office.
Agora, o que assombra as lideranças é manter os ganhos do remoto e tentar desvendar o que é o tal de híbrido que foi acordado como o melhor caminho, mesmo que esteja se provando um tanto mais complexo.
Na pesquisa da consultoria Think Work Lab com cerca de 70 empresas no Brasil sobre esse modelo de trabalho, os RHs se mostraram indecisos sobre dois pontos cruciais e mais burocráticos que colocam panos quentes nos fãs do anywhere.
Entre os entrevistados, 24% disseram que ainda não têm clareza sobre mudança de contrato ou que grupos seriam contemplados. E 25% ainda não definiram como será a gestão de benefícios do híbrido.
São duas incógnitas que o VP da PepsiCo admite que também o preocupam.
“Diria que a grande barreira é a legislação trabalhista. Não é uma questão de decisão de custos, estamos dispostos a absorver um custo maior. A dificuldade maior é trabalhista”, diz.
Desde a reforma trabalhista de 2018, é possível que os contratos sejam adaptados para o teletrabalho. Um a dois dias em casa por semana ainda podem ser considerados dentro do modelo de contrato convencional, mas a partir do momento que o funcionário passa mais tempo fora do escritório ele pode configurar como teletrabalho. E isso muda a forma de administrar a jornada.
O novo líder do híbrido
A nova realidade que as empresas vão encarar com o híbrido é complexa. Mesmo quem se preparou por dois anos, como a Natura & Co, que estabeleceu um grupo multidisciplinar para estudar o novo modelo de trabalho para o pós-pandemia, ainda prefere deixar um espaço para adaptar o modelo conforme a necessidade.
No grupo, assim como em outras companhias, a exemplo da Loft, Google e Embraer, ao menos três modelos vão precisar conviver em harmonia: o totalmente presencial, o híbrido (com proporções diferentes de dias no escritório e flexibilidade) e também o 100% remoto.
Flavio Pesiguelo, vice-presidente de Pessoas, Cultura e Organização de Natura &Co, trata essa questão como outros desafios de inovação da empresa. Para ele, é necessário incluir aprendizados e transcender, sem voltar para trás.
Essa filosofia pode ser usada para inovar em diversos aspectos, como o novo modelo de trabalho, o papel da liderança nesse contexto e a evolução da cultura para que o híbrido passe no teste.
“Não dá para voltar e nem começar nada do zero. Você pega o que aprendeu até agora, inclui [na cultura] e transcende. Dá mais um passo. É nesse sentido que a gente vai trabalhar”, afirma.
O retorno foi renomeado de Projeto Ressignifica, que simboliza a necessidade de repensar o significado dos momentos de encontro, dos espaços físicos e do trabalho presencial e virtual.
“Não sei o que vai ser o trabalho híbrido daqui a quatro meses, mas sei que estaremos ressignificando o tempo todo. O projeto é um convite para poder construir a história juntos e aprender. Estamos nos preparando para retornar de forma cuidadosa e gradativa para testar os modelos”, diz.
Acima de mudanças estruturais e tecnológicas, como a renovação de escritórios, o executivo acredita que o híbrido irá virar a página de vez no manual de liderança das empresas.
Da mesma forma que o uso do escritório será guiado pelos 4C’s da PepsiCo, ele dá suas palavras de guia da liderança do futuro: orientar, desenvolver e empoderar.
"Quem faz são as pessoas e o líder precisa dar autonomia e dar liberdade para a potência humana. Isso ficou evidente na pandemia. E não tem mais o controle do supervisor, isso caiu por terra”, diz.
Com a cultura da empresa já em processo de mudança, ele vê uma aceleração para se adequar ao híbrido e essa mudança de papeis dentro da organização. A integração da Avon na companhia deixa o cenário mais complexo e redobra a atenção para o aspecto da cultura.
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