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Depois de Harvard e Yale, UnB também vai ensinar a ser feliz

Em entrevista para EXAME, o professor brasileiro que ensina a ser feliz conta como quer ajudar os estudantes da UnB com suas aulas

Professor Wander Pereira da Silva: “Não existe uma fórmula específica para a felicidade" (Beto Monteiro/Secom/UnB/Divulgação)

Professor Wander Pereira da Silva: “Não existe uma fórmula específica para a felicidade" (Beto Monteiro/Secom/UnB/Divulgação)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 2 de agosto de 2018 às 06h00.

Última atualização em 2 de agosto de 2018 às 06h00.

São Paulo - “Gostaria que todos meus alunos fossem fortes e maduros emocionalmente, sem problemas de saúde mental”, fala o professor Wander Pereira da Silva, da Universidade de Brasília (UnB).

Infelizmente, essa não é a realidade, diz ele.

Inspirado em grandes universidades como Yale e Harvard e buscando atender a demanda dos estudantes, o professor irá ministrar a primeira disciplina sobre felicidade do Brasil no segundo semestre deste ano. Todas as 240 vagas para a disciplina já foram preenchidas.

Wander Pereira da Silva leciona no curso de engenharia de software, atuando na área de recursos humanos de TI, e tem doutorado em Psicologia. Suas aulas sobre felicidade ocorrerão em auditório do campus Gama, onde ficam concentrados os cursos de engenharia. No entanto, a aula será aberta para todos os cursos e sem pré-requisitos.

“Até quem entrou agora no universidade pode se matricular”, conta o professor. “O curso será útil para todas as áreas. Ele surge no campus da engenharia por nosso perfil de inovação e minha experiência profissional. Acredito que o problema de saúde mental não é apenas das engenharias, mas generalizado na instituição”.

A iniciativa faz parte de ações da Comissão de Saúde Mental do campus que tenta melhorar a qualidade de vida dos alunos. O assunto se tornou prioridade na universidade há dois anos após ser observada a dificuldade de adaptação dos graduandos, a maioria vinda de outras cidades.

Também foi notado um aumento de casos de depressão e ansiedade. “Temos um problema grande com evasão. Uma maioria expressiva de alunos que abandona o curso e quer retornar apresenta atestado de saúde mental”, fala.

Segundo Pereira, o objetivo da nova disciplina será oferecer um espaço dentro do ambiente acadêmico, com horário fixo, onde o bem-estar dos estudantes possa ser prioridade. “Para melhorar o autoconhecimento, desenvolver habilidades socioemocionais e depois enfrentar problemas, como a dificuldade de lidar com a nova rotina, a pressão e o fracasso”, diz.

"Vamos lidar também com a falta de resiliência e aprender a diferenciar o sentimento de tristeza da depressão, que é uma doença. Queremos dar ferramentas para que os alunos tenham uma boa experiência nessa fase da vida”, comenta o professor.

Em primeiro momento, ele apresentará a base teórica sobre felicidade, mas apenas como alinhamento de conceitos de pesquisas científicas na área. Depois, o estudo passa a ser vivencial, focado em diálogos e dinâmicas. Eles vão trabalhar técnicas consagradas na psicologia que ajudam a desenvolver métodos para resolver adversidades da vida.

“Muitos têm dificuldade de expressar o que sentem. Uma habilidade a desenvolver é a assertividade, a capacidade de dizer o que pensa e sente, focando em si mesmo e não no julgamento do outro. É uma maneira de autoafirmação que aumenta sua capacidade de escolha”, explica ele.

No final do semestre, os alunos criarão um produto de felicidade para aplicar na universidade, que pode ser uma peça de teatro, música, dança ou um blog.

No momento, Pereira está focado no êxito da disciplina e dos estudantes da UnB. No futuro, ele avalia se seguirá o modelo das escolas americanas e disponibilizará as aulas online para um público mais amplo.

O movimento também poderá se espalhar por outras universidade brasileiras. Nesta semana, a Universidade de São Paulo (USP) lançou seu Escritório de Saúde Mental após o registro de quatro suicídio entre maio e junho deste ano, de acordo com reportagem da Folha. O recurso unifica os esforços para auxílio psicológico na USP pela primeira vez.

Em entrevista para EXAME, o professor conversou sobre conceitos que trará nas aulas:

O que é felicidade?

“Não vou abordar a minha opinião, mas recorrer a estudos sobre felicidade, principalmente às obras do Martin Seligman. Felicidade não é um conceito que pode ser definido em si mesmo, é necessário reunir vários conceitos. A felicidade diz respeito a uma sensação subjetiva e transitória que experimentamos em momentos na vida. Não é um local ou ponto de chegada, mas um caminho que se faz. Não posso ser feliz teoricamente, mesmo sabendo tudo sobre o que é ser feliz”

Como ser mais feliz?

“Não existe uma fórmula específica para a felicidade ou que funcione para todos. Por outro lado, o que sabemos através de pesquisas é que existem características comuns entre as pessoas felizes. Como a gratidão, a busca por espiritualidade e a capacidade de viver o presente. Mesmo assim, não é possível dizer que seguir esses pontos como regras será o caminho certo para a felicidade. Viver o hoje pode ser visto como uma busca por prazer ou como viver sem lamentar o passado, cada um vai entendê-las de modo peculiar”.

Para ensinar a ser feliz, é preciso ser feliz também?

“Não poderia passar uma prática para os alunos sem vivenciá-la. Me considero uma pessoa feliz. Às vezes, falar isso pode parecer arrogante, existe tanto sofrimento no mundo e se autodeclarar assim faz parecer que superei todos os desafios. Mas não, sou feliz porque tenho condições que me permitem ser feliz. Também tenho meus momentos de tristeza e angústia, mas desenvolvi habilidades que me ajudam nessas horas.

É o que meus alunos serão convidados a aprender. Na sociedade de consumo, a felicidade é vista como uma euforia e as pessoas tentam buscar senti-la permanentemente. É um equívoco achar que vai viver feliz e em euforia o tempo inteiro. Quero passar mecanismos para administrar suas emoções e propiciar autoconhecimento”.

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