De volta para casa
Muitas empresas estão recontratando os profissionais que demitiram durante a crise. Mas será que vale a pena regressar?
Da Redação
Publicado em 17 de maio de 2013 às 19h36.
São Paulo - Desde o início deste ano, quando a economia brasileira voltou a acelerar, teve início no mercado de trabalho brasileiro um fenômeno que chama a atenção: as empresas estão recontratando profissionais que elas mesmas demitiram durante o período de crise financeira, entre o último trimestre de 2008 e o terceiro trimestre do ano passado.
Vale, GM, Philips e Citibank integram esse grupo, que também é formado por muitas construtoras e firmas de auditoria. “Aceitei o convite de retorno sem hesitar”, diz Fábio Camacho, de 33 anos, coordenador de vendas da Plano & Plano, incorporadora do grupo Cyrela, que foi demitido em setembro de 2008, apenas dois meses após ter sido contratado, ao lado de outros 115 funcionários.
Fábio aceitou voltar para uma companhia da qual havia sido cortado pela possibilidade de crescimento. “Encaro a oportunidade como um segundo salto na carreira”, diz.
No caso de Fábio, existia um propósito de carreira claro para que ele optasse pelo regresso. Mas nem sempre é assim. Muitos profissionais resistem à ideia de voltar para um emprego do qual foram chutados. Se um dia isso acontecer com você, é preciso ter a resposta para a seguinte pergunta: “Vale a pena voltar?”.
Para começar, procure saber se é uma oportunidade realmente interessante e se você não foi escolhido apenas porque falta gente qualificada em meio ao cenário aquecido.
“O profissional precisa se assegurar que a sua recontratação não representa a solução mais fácil ou barata”, alerta Carlos Eduardo Altona, sócio da Exec, empresa de recrutamento. Para a consultora de carreira Irene Azevedo, da DBM, quando um profissional é chamado de volta é sinal de que ele fez um bom trabalho.
“Se tivesse apresentado um mau desempenho, a empresa jamais o recontrataria”, afirma. O movimento, aliás, pode ser interessante se você quiser apagar a marca de demissão da carteira.
“É uma maneira de mostrar ao mercado que sua saída não foi provocada por falta de resultados, mas uma necessidade pontual da empresa”, diz. Foi o que ocorreu com Hélio Inácio, de 28 anos, gerente da área de transações da Ernst & Young, empresa de consultoria e auditoria.
Cortado em abril do ano passado e recontratado seis meses depois, Hélio pesou os pontos positivos e descartou outros processos de recrutamento para retornar. “Além do ótimo ambiente de trabalho, com o qual já estava acostumado, eu conhecia muito bem as perspectivas de carreira que terei”, explica.
Poder de negociação
Para as companhias, é conveniente recompor seus quadros com gente que já recebeu investimento. “No mínimo, não precisamos investir na adaptação do funcionário, período que leva, em média, seis meses”, ressalta Elisa Carra, diretora de RH para América do Sul da Ernst & Young, que recontratou três profissionais, além de Hélio, quando a crise se dissipou.
Ou seja, um profissional demitido tem nas mãos um trunfo — caso tenha um histórico de boa adaptação — se optar por retornar. “Nós preferimos recontratar ex-funcionários”, diz Elisa.
Ao receber um chamado de retorno, também é possível negociar uma remuneração melhor. De acordo com Irene, da DBM, se a empresa precisa daquele profissional, reconhece suas habilidades e seu desempenho, certamente o poder de negociação é bem maior. “A menos que a pessoa ainda esteja desempregada”, explica.
Mesmo assim, ela diz que existe espaço para negociar um salário melhor num eventual retorno. “Se a empresa quer um ex-funcionário é porque ele conhece a cultura da organização, tem um diferencial em relação aos outros e vai ser a solução para os problemas da companhia.” A consultora ressalta, no entanto, que é preciso definir primeiro aspectos ligados ao escopo profissional, para só então discutir remuneração.
Para Carlos Eduardo Altona, da Exec, a capacidade de barganha de um ex-funcionário é limitada. “Normalmente, a pessoa volta para o cargo que ocupava antes e com o mesmo salário”, alerta. A regra muda quando o mercado está bastante aquecido, como, em geral, ocorre agora. “Se a pessoa que foi demitida já está empregada e a companhia faz o convite para ela voltar, certamente vai ter de pagar mais.”
A dica de Irene é: “Não feche nunca uma porta ao sair”. Seja qual for a circunstância, ela aconselha tratar muito bem os ex-chefes. “Eles podem ser seus empregadores amanhã ou suas referências em um futuro emprego.”