Carreira

Cuidados na hora de fazer gestão com foco na produtividade

Jornadas flexíveis trazem, ao mesmo tempo, liberdade e maturidade — tanto por parte dos profissionais quanto das organizações

 (Alexander Spatari/Getty Images)

(Alexander Spatari/Getty Images)

Sofia Esteves

Sofia Esteves

Publicado em 6 de abril de 2022 às 10h30.

Última atualização em 29 de abril de 2022 às 16h14.

Há algum tempo, o conceito de jornada das 8h às 17h caiu em "desuso". Uma rotina de trabalho mais flexível, com horários menos determinados, já era praticada por algumas empresas que, inclusive, incorporaram essa ideia como um benefício corporativo.

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Durante a pandemia, a tendência ganhou força à medida que as barreiras entre vida pessoal e profissional se confundiam. Mais importante do que determinar o horário de trabalho era garantir que as entregas fossem feitas, respeitando as particularidades da rotina de cada profissional.

E, nos últimos dias, esse tema ganhou novo destaque por conta da publicação da medida provisória que altera as regras do teletrabalho, incluindo no texto a possibilidade da contratação por produção, em vez de permitir apenas contratos que estabelecem um regime de horas.

Diante disso, você pode estar pensando que não há “nada novo sob o sol”. O foco nas entregas, como já comentei, era praticado em muitos lugares e, inclusive, usado como métrica de desempenho e até critério de aumento salarial.

Porém, nem por isso, essa forma de trabalhar era clara para todos na empresa e bem estruturada nas diversas áreas. Jornadas flexíveis trazem, ao mesmo tempo, liberdade e maturidade — tanto por parte dos profissionais quanto das organizações.

Isso significa que mudar a mentalidade e olhar mais para a produção do que para o cumprimento de horas requer alguns cuidados, a começar pela organização. Não é porque essa modalidade pressupõe flexibilidade que não é necessário “organizar a casa”.

Ou seja, definir com clareza o escopo da atividade ou função, a complexidade dos afazeres, a relação com as outras áreas, bem como entender as etapas dos projetos, o tempo necessário de desenvolvimento e a mecânica do trabalho.

Visualizar essas atribuições e o processo por trás das atividades é fundamental para definir quais entregas cabem na rotina. Esse é um exercício contínuo de análise que envolve o/a colaborador(a), a equipe e a sua liderança.

Juntos, esses três podem fazer outra coisa de extrema importância para o bom funcionamento do trabalho por produção: formalizar as etapas de uma atividade. Como já expliquei, ter a visão do processo ajuda a entender o que é possível fazer dentro de determinado tempo. E essa visão, veja bem, não deve ser abstrata, ficar só na conversa durante a reunião.

Considere desenhar os processos e, no caso de um projeto que envolve mais pessoas e outras equipes, pense em organizar tudo isso em ferramentas de gestão como Trello, Asana, Notion etc. Não se trata de engessar a rotina das pessoas ou de deixar tudo muito burocrático, mas de tornar o “passo a passo” claro e palpável para todos.

É também uma forma de medir o avanço das atividades e, assim, fazer um acompanhamento de metas — outro cuidado importante quando o assunto é foco na produtividade. Isso tudo, no entanto, deve ser estabelecido antes, criando objetivos individuais ou de um projeto e definindo resultados esperados ao longo do caminho. Metodologias como a de OKRs podem ajudar nesse momento.

Um último cuidado que vale citar tem a ver com a autogestão, uma competência que tem sido muito demandada, mas pouco desenvolvida. Sobre esse ponto, já fica o alerta: a autogestão não é só algo que se exige, mas que se ensina.

O que quero dizer com isso é que não basta falar para os profissionais administrarem o próprio tempo, serem donos das suas tarefas e aproveitarem a flexibilidade que a empresa dá se você, como liderança, não checar se as pessoas sabem atuar assim. Essa forma de trabalho que pode parecer tão natural para uns, precisam ser desenvolvidas em outros. E tudo bem. O problema é quando adotamos um estilo de produção, assim, no automático, sem entender que mudanças demandam tempo. Tempo para aprender, tempo para errar e tempo para ajustar os passos.

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