Crianças carentes: número de empresas brasileiras, de todos os tamanhos, que apoia comunidades e instituições é grande e crescente (SXC/SXC)
Da Redação
Publicado em 24 de julho de 2012 às 14h10.
São Paulo - No dia 12 de janeiro de 2010, um terremoto de sete graus na escala Richter, no Haiti, causou a morte de 200 000 pessoas, deixou outras 300.000 feridas e fez mais de 1 milhão de desabrigados. Dois dias depois da tragédia, uma dupla de médicos do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, chegava a Porto Príncipe, capital do país, com a missão de encontrar um local que servisse de enfermaria improvisada e de preparar a chegada de três equipes do hospital, mais toneladas de equipamentos, remédios e materiais.
No dia 4 de fevereiro, 49 profissionais — médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e engenheiros —, que se voluntariaram a cuidar das vítimas, começaram a chegar ao país. Entre os que passaram pelo Haiti estão a enfermeira Débora Puntel, de 40 anos, e o infectologista Alexandre Marra, de 36 anos.
No acampamento montado em Porto Príncipe, o grupo paulista realizou um trabalho bastante diferente do que costuma desenvolver diariamente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Einstein, um dos mais ricos e equipados hospitais do país. Na tenda onde os brasileiros trabalhavam, a temperatura chegava a 50 graus durante o dia. À noite, quando a energia elétrica acabava, o banho era de balde num banheiro aberto.
“Você precisa estar preparado para tudo”, diz Alexandre. O mais importante da experiência, diz ele, é perceber o quanto ela modifica sua visão do mundo. “Você começa a dar mais valor à sua vida e passa a considerar pequenos seus problemas de trabalho”, conta o médico. Como experiência pessoal, poucas atividades são tão enriquecedora como o trabalho voluntário — mesmo que você não receba dinheiro nenhum para fazê-lo. E não é preciso viajar ao Haiti para se engajar numa missão desse tipo.
O número de empresas brasileiras, de todos os tamanhos, que apoia comunidades e instituições é grande e crescente. O envolvimento de uma corporação numa ação de cidadania tem, evidentemente, um componente marqueteiro. Mas, em muitos casos, existe um interesse legítimo em ajudar e retribuir à sociedade da qual a empresa tira seu sustento. Mais importante, quem faz as empresas se mexerem são os funcionários. “Os profissionais estão mais engajados e querem conhecer as ações de cidadania que a companhia pratica para decidir se querem trabalhar nela”, comenta Enrique Soto, líder de sustentabilidade da consultoria Accenture.
“Hoje, a responsabilidade social virou uma ferramenta de atração e retenção de talentos.” O desejo de contribuir com a sociedade é ainda maior nos profissionais mais jovens, segundo Ruth Harada, diretora de cidadania corporativa da IBM. “O trabalho voluntário funciona como fator de motivação, especialmente para a geração de funcionários abaixo de 30 anos.” A ação social é uma oportunidade de desenvolver novas competências para sua carreira profissional — ou ao menos aprimorar habilidades que você já possui. Para o capixaba Welton Duque, de 33 anos, coordenador de operações da Vivo, empresa de telefonia celular, a atividade humanitária foi uma chance de aprimorar as técnicas de liderança.
Em março deste ano, Welton viajou ao Chile com uma equipe de nove profissionais da operadora para refazer a infraestrutura de telecomunicações da região de Concepción, a mais afetada pelo terremoto de 8 graus ocorrido em 27 de fevereiro. “Em campo, com poucos recursos, aprendi a dividir responsabilidades e compartilhar a liderança”, diz Welton. “Foi um aprendizado sobre trabalho em equipe.”
Trecho do blog Einstein no Haiti, feito por voluntários do Hospital Albert Einstein
"Houve integrações entre áreas como poucas vezes vista. Não encontrei ninguém que tivesse ficado indiferente, que não tenha percebido como essa missão mudou os profissionais que aqui trabalham. Não apenas no surgimento de lideranças, de ídolos (fantástico o papel do pessoal da engenharia e manutenção) e de grandes amizades. Consolidou o nosso modo de pensar e encarar nossas obrigações assistenciais. Estamos diferentes e melhores. Depois dessa missão, penso que não haja desafio que não se possa cumprir.” Oscar Pavão, nefrologista, gerente da UTI e coordenador da missão no Haiti
A IBM tem um programa internacional, chamado Corporate Service Corps (algo como “tropa de serviços corporativos”), cuja finalidade é enviar funcionários voluntários para passar um mês num projeto social de uma comunidade pobre de um país em desenvolvimento. No local, usando seu conhecimento profissional, o funcionário ajuda a promover melhorias no projeto.
Embora a IBM seja uma empresa de tecnologia, há funcionários realizando ações em áreas como vendas, administração e alianças, entre outras. “Esse tipo de trabalho ajuda o profissional a melhorar a capacidade de execução, a trabalhar com escassez de recursos e a eleger prioridades”, afirma Ruth. Detalhe: os critérios de escolha para participar do programa envolvem análises de potencial de crescimento do candidato e de sua capacidade de se tornar um líder global da empresa.
“Trabalhei na Romênia, com colegas americanos, indianos, finlandeses e suecos”, diz Welinton Chalabi, de 35 anos, que hoje mora na Malásia e é gerente de operações de serviços da IBM para sete países asiáticos. “O programa voluntário foi uma oportunidade de aprender a trabalhar com equipes multiculturais.” As ações de cidadania podem ajudar um profissional a bater suas metas e trazer resultados.
Na Accenture, os profissionais da área comercial são estimulados a convidar seus clientes para participar das atividades de cidadania empresarial. Além de ajudar com uma boa causa, a ação se transforma numa oportunidade de desenvolver um relacionamento com o cliente fora da mesa de negociações. “Isso fortalece o vínculo e vai facilitar o trabalho do executivo comercial numa venda futura”, explica Enrique.
Participar de trabalho voluntário também ajuda o profissional a ganhar destaque internamente e ficar em vantagem na hora da promoção. Em muitas empresas, essas participações são computadas na avaliação periódica de desempenho. Às vezes de maneira objetiva, quando o item trabalho voluntário aparece explicitamente.
Em outros casos, aparece de maneira menos clara, mas pode ser levada em conta quando a companhia quer saber se o profissional realiza tarefas que vão além das atribuições de seu cargo. Mas, mesmo fora da avaliação de desempenho, o trabalho voluntário conta pontos. “Valoriza o profissional”, diz Ruth. Obviamente, o trabalho voluntário toma um bom tempo e energia. Por isso, a recomendação é só assumir um compromisso desse tipo se você realmente pretende cumpri-lo. Interessado em ser voluntário? Então, tome a iniciativa, que é a competência fundamental de quem pretende ajudar. Verifique quais são as ações de sua empresa na área ou apresente novos projetos. Pode ser bom para todos.