As dicas do CEO global da EF para o Brasil aprender inglês mais rápido - e melhor
De acordo com a pesquisa da EF, o Brasil ficou na 81ª posição em proficiência no idioma mais falado do mundo. Em entrevista exclusiva à EXAME, Peter Burman, presidente global da EF Corporate Learning, conta as oportunidades e desafios do ensino do inglês no Brasil
Repórter
Publicado em 7 de dezembro de 2024 às 08h03.
“A maioria dos sistemas escolares ao redor do mundo não prepara os adultos para trabalhar em inglês. O inglês é uma habilidade que precisa ser desenvolvida, não apenas um conhecimento adquirido”, afirma Peter Burman, presidente global da EF Corporate Learning - uma divisão corporativa da EF, empresa internacional de educação de idiomas.
Fundada em 1965, em Zurique, Suíça, a EF Education First é uma das maiores empresas privadas de educação do mundo, presente em 54 países com mais de 52 mil funcionários. Especializada no ensino de idiomas, a EF atende a estudantes, empresas e instituições públicas, oferecendo mais de 70 idiomas, embora o inglês represente 97% da demanda, segundo Burman, que lidera as operações globais da EF Corporate Learning e trabalha com o Brasil desde 2001. “Vejo o Brasil como um dos mercados mais promissores para a expansão da educação em idiomas”, afirma Burman.
Em uma entrevista exclusiva à EXAME, Burman analisa as oportunidades e desafios do ensino de inglês no Brasil, comenta iniciativas locais e globais, e discute como a tecnologia, especialmente a inteligência artificial, está transformando o aprendizado de idiomas.
De acordo com a pesquisa da EF, o Brasil ficou na 81ª posição em proficiência de inglês. O Brasil é o mercado mais atraente para os negócios da EF?
A posição do Brasil na 81ª colocação do Índice de Proficiência em inglês da EF destaca uma oportunidade significativa, e não uma limitação. As habilidades em inglês são cada vez mais vistas como um ativo crucial para o desenvolvimento profissional e pessoal no Brasil, um país com uma economia vibrante.
O potencial de crescimento do país, aliado a um forte desejo por desenvolvimento de habilidades, torna o Brasil um mercado incrivelmente atraente para nós desde 1987. Estamos comprometidos em continuar investindo em programas e iniciativas adaptadas às necessidades únicas do Brasil.
Muitas empresas brasileiras estão retirando o inglês como requisito em seus processos de contratação para atrair profissionais diversos, como aqueles de baixa renda. Em contrapartida, essas empresas investem em seus funcionários, oferecendo suporte financeiro para cursos de idiomas. O que você acha dessa abordagem? Já ouviu falar de ações semelhantes em outros países?
O Brasil avançou bastante em termos de diversidade. Essa abordagem reflete uma mentalidade inovadora e inclusiva que se alinha estreitamente à missão da EF de abrir o mundo por meio da educação. Ao remover o inglês como barreira de entrada e investir no desenvolvimento dos funcionários, as empresas brasileiras não apenas promovem a diversidade, mas também fomentam o crescimento a longo prazo ao construir uma força de trabalho preparada para os desafios globais. Esse modelo é particularmente impactante para reduzir lacunas socioeconômicas e capacitar profissionais de todas as origens a prosperarem em mercados cada vez mais internacionalizados.
Globalmente, observamos tendências semelhantes em mercados como a China, onde as empresas investem pesadamente no aprimoramento das habilidades dos funcionários para atender às demandas dos negócios globais. Nos países escandinavos, também vimos uma forte ênfase no fornecimento de treinamento em idiomas como parte dos benefícios aos funcionários, impulsionada pelo foco da região na colaboração global.
Acreditamos que essa é uma estratégia ganha-ganha, que pode melhorar significativamente a mobilidade de talentos e a competitividade em escala global.
A EF possui iniciativas ou programas que foram particularmente bem-sucedidos no Brasil? Quais são os resultados?
Atualmente, temos mais de 3 milhões de estudantes matriculados em escolas públicas em diversos estados, como São Paulo, Paraná e Mato Grosso, além de grandes empresas e projetos de impacto social que beneficiam a sociedade.
No programa “Prova Paraná”, houve uma melhoria de 32,5% na proficiência em inglês entre 2021 e 2023, e hoje o estado está entre os 10 melhores do Brasil em níveis de proficiência.
Também vale destacar o alto nível de engajamento - entre os estudantes de escolas públicas, mais de 50 milhões de aulas foram concluídas este ano.
Quais são as maiores preocupações da EF em relação aos avanços da IA? O uso da IA reduziu a necessidade de professores humanos?
Nossa posição é que a IA não substituirá a necessidade de professores humanos. No entanto, o uso da IA já está tornando nossos professores muito mais eficientes e poderosos. A IA ajuda a fornecer feedback, gerar relatórios e reforçar o papel dos professores.
A linguagem é inerentemente social. Trata-se de construir relacionamentos, gerar confiança e colaborar para resolver problemas. Embora a IA possa ajudar com os aspectos técnicos da comunicação, ela não pode replicar a conexão humana, que é essencial para o trabalho em equipe e interações significativas.
Portanto, não acreditamos que a IA possa substituir os professores. É a combinação de tecnologia avançada com professores qualificados que torna a educação verdadeiramente eficaz. É importante lembrar que aprender um idioma também envolve responsabilidade. Se você sabe que está interagindo com um robô, pode ignorá-lo, mas se tem uma reunião com alguém, é diferente, e essa interação é insubstituível.
Quais tendências tecnológicas e educacionais você acredita que impactarão a educação corporativa nos próximos anos?
A IA se tornará um padrão para todos, e será algo que todos precisarão utilizar. Também acredito que soluções altamente personalizadas para a jornada de aprendizado de cada aluno se tornarão cada vez mais importantes.
Já houve uma grande mudança no aprendizado online, acelerada durante a pandemia. Conectar-se a um professor online tornou-se muito mais eficiente, facilitando o acesso dos alunos ao suporte de que precisam, independentemente de sua localização. Essa transformação continuará moldando o futuro da educação.
Como você enxerga o futuro do aprendizado de idiomas no ambiente corporativo?
A maioria dos sistemas escolares ao redor do mundo não prepara os adultos para trabalhar em inglês. O inglês é uma habilidade que precisa ser desenvolvida, não apenas um conhecimento adquirido.
O futuro do aprendizado de idiomas no ambiente corporativo provavelmente será moldado por uma combinação de inovação tecnológica, experiências de aprendizado altamente personalizadas e um aumento na ênfase na inteligência cultural.
Podemos ver a personalização impulsionada por IA, tecnologias imersivas sendo usadas para aumentar o engajamento e a tomada de decisões orientada por dados, mas sem perder a conexão cultural e a interação humana que são essenciais para o sucesso das empresas.