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Como esse brasileiro se tornou CEO global de uma empresa francesa que deve faturar 1 bilhão de euros

Após nove anos como presidente no Brasil, Maurilio Teixeira se muda para a França e assume o cargo de co-CEO do laboratório NAOS, dono da Bioderma, junto com mais três executivos

Maurilio Teixeira, co-CEO global da NAOS: A minha ida para França está baseada no compromisso de trazer novos olhares para essa operação, presente em mais de 130 países (NAOS/Divulgação)

Maurilio Teixeira, co-CEO global da NAOS: A minha ida para França está baseada no compromisso de trazer novos olhares para essa operação, presente em mais de 130 países (NAOS/Divulgação)

Publicado em 23 de abril de 2024 às 08h00.

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O que fez um menino do município de Dois Córregos, interior de São Paulo, ser escolhido para liderar uma empresa bilionária na Europa? Para Maurilio Teixeira, atual co-CEO do laboratório francês NAOS, dono da Bioderma, não há uma receita, mas sim um conselho: “Escolha estar onde você acredita que pode fazer a diferença e possa ser feliz”.

Com 42 anos e mais de 20 anos no mercado de marketing e vendas, o executivo é o primeiro brasileiro a ocupar uma das cadeiras de CEOs de uma das maiores empresas de dermocosméticos da França, que neste ano deve faturar mais de 1 bilhão de euros.

“Esse desafio para mim é muito mais humano do que técnico. Não tenho dúvida que a escolha da minha pessoa como um dos CEOs global da NAOS teve a ver com o meu estilo de gestão no Brasil”, afirma Teixeira.

A companhia que terá 4 CEOS

A NAOS foi criada em 1977, em Aix-en-Provence, cidade do Sul da França, pelo farmacêutico e biólogo Jean-Noël Thorel, que apostou em produtos dermatológicos e cuidados com a pele, dando origem a três marcas: Bioderma, Esthederm e Etat Pur. Entre alguns cases de sucesso da companhia, está a água micelar, tanto limpadora quanto a removedora de maquiagem com 70 patentes.

Após algumas tentativas para encontrar a pessoa ideal para liderar o laboratório que está presente em mais de 130 países, o fundador Thorel, aos 77 anos, teve uma ideia: criar um comitê de CEOs.

“Será uma liderança bem no estilo francês, ou seja, democrática, em que se não houver consenso entre os co-CEOS, poderá ter até votação”, afirma Teixeira que reforça que o fundador não tem filhos, mas que a esposa já faz parte do Conselho.

O comitê de CEOs foi então criado em março deste ano, reunindo quatro executivos, que tivessem como requisitos pelo menos 9 anos de grupo e resultados positivos nos últimos anos. Após uma entrevista presencial na França que durou dois dias, diretamente da casa do fundador da NAOS, Teixeira passou pelo processo seletivo e será o único brasileiro e o primeiro a sentar na cadeira de CEO da companhia, e com sua expertise em vendas terá como responsabilidade definir estratégias ligadas ao comercial e ao marketing. Junto com ele também estão Mira DragaNova, executiva búlgara responsável pela área de recursos humanos e processos transformacionais; Thomas Pierlot, francês encarregado da área de finanças e manufatura, e Jean Yves Desmond, francês, que será mentor do grupo, principalmente, na área internacional com foco em regionais.

“A trajetória que construí com a NAOS é cheia de significado. Com um modelo de negócios sem fins lucrativos, já que somos controlados por uma fundação e não estamos presentes na bolsa de valores, conseguimos colocar todo nosso foco em ações que fazem a diferença e não estão somente atreladas a resultados financeiros”, diz Teixeira. “Muito da minha ida para França está baseada no compromisso de trazer novos olhares para essa operação, presente em mais de 130 países”.

Os desafios do CEO começaram bem cedo   

A escolha de Teixeira para o novo cargo de CEO global foi resultado da sua experiência na NAOS no Brasil e em sua carreira de mais de 20 anos que envolve diferentes funções como vendas, marketing e liderança.

Nascido no interior de São Paulo e tendo estudado toda infância e juventude em escola pública, Teixeira investiu inicialmente em um curso técnico de programador de sistemas, mas aos 18 anos decidiu cursar administração na Instituição Toledo de Ensino, universidade privada em Bauru. “Foi a primeira e única transição que eu fiz na carreira. Acabei ficando na indústria, tanto que o meu primeiro emprego foi em uma farmacêutica como propagandista.”

O sucesso chegou cedo para Teixeira, assim como os desafios. Com 21 anos, o executivo trabalhava em uma empresa que à época fez um teste de competências de liderança para o futuro. “Com 22 anos fui promovido a gerente de território do interior de São Paulo. Foi um mega desafio, porque aí começa o maior desafio da minha vida que foi ocupar um cargo de gerência muito jovem em comparação com os meus liderados”, diz. “É muito legal do ponto de vista egóico, porque você é promovido muito cedo, mas você sofre muito, porque você tem que conquistar o reconhecimento e o respeito de todas as pessoas que estão lá e se acham muito mais sênior que você”, afirma Teixeira que com 24 anos era responsável pelas vendas do estado.

Além de liderar profissionais com mais tempo de casa, Teixeira teve que superar outros desafios como o inglês e o estilo de gestão. Aos 28 anos, chegou a ocupar o cargo de diretor global de marketing das marcas em Londres, no Reino Unido. “Para mim o espanhol veio primeiro do que o inglês, mas por trabalhar em uma empresa multinacional o inglês sempre esteve na mira e foi fundamental para o meu avanço na companhia, mas confesso que passei um sufoco nos meus primeiros meses na Inglaterra”.

Quanto ao estilo de gestão, foi esse ponto que fez com que Teixeira aceitasse mudar de companhia e chegasse na NAOS como CEO.

A chegada da NAOS no Brasil

Em 2015, Teixeira aceitou o convite para ser CEO da NAOS, empresa que tinha acabado de chegar ao Brasil com seu carro-chefe: a Bioderma. “Eu tive a oportunidade de tentar fazer de uma folha em branco um cenário que realmente corrigisse tudo que eu passei de ruim, mas que introduzisse tudo que eu aprendi de bom. A ideia não era apostar em metas inatingíveis, mas sim em lideranças inclusivas que poderiam trazer engajamento e saúde que é uma das nossas missões.”

A Bioderma chega em 2015 no Brasil, onde La Roche-Posay e Avene já estavam desde 2000. Com isso, o executivo conta que chegaram com uma necessidade enorme de inovar. “Mas onde inovaríamos se os produtos são globais? Foi aí que vi que ao inovar na gestão e em talentos diversos, poderíamos engajar e criar um corpo coletivo de entrega muito forte no mercado brasileiro.”

Após nove anos no país, o grupo já desembarcou suas duas outras marcas, Esthederm e Etat Pur, e faturou no último ano R$ 200 milhões. “A expectativa é de faturarmos 260 milhões em vendas brutas em 2024”, afirma Teixeira que afirma que o legado fica agora com André Mendoza, que ocupa a cadeira de CEO no Brasil.

“André é um executivo com muita experiência, que já atuou inclusive na África, e certamente saberá levar a gestão humana que construímos no Brasil. E já chega com um grande desafio, que é de dobrar a companhia nos próximos três anos”, diz o co-CEO global que adianta que o Brasil contará com R$ 50 milhões de investimentos do grupo ainda este ano.

Um negócio bilionário que continua em expansão

Para a NAOS, o Brasil é a 7º filial em vendas no mercado global do grupo, representando 3,6% do faturamento global, segundo Teixeira. Quanto às marcas, a Bioderma continua liderando as operações no Brasil e globalmente. No mundo a Bioderma representa 90%, a Esthederm 8% e a Etat Pur 2%. Já a nível nacional, a Bioderma representaa 85%, Esthederm 10% e a Etat Pur 5%.

“Hoje eu estou no cargo mais alto da empresa, mas nunca foi a minha vontade. O que eu quero primeiro de tudo hoje é ser feliz. E o fator que me estimulou a aceitar, entre outros pessoais, foi realmente poder usar essa história de folha em branco que eu tive no Brasil e tentar melhorar ainda mais a NAOS globalmente”.

Globalmente, a NAOS faturou 900 milhões de euros em 2023 e a expectativa para este ano é passar 1 bilhão de euros.

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