Como destravar sua carreira e ser sempre empregável
Em entrevista, Luciano Santos, escritor e executivo de vendas do Facebook, dá dicas de carreira e revela o tripé para ser sempre empregável
Luísa Granato
Publicado em 25 de março de 2022 às 09h00.
Última atualização em 29 de março de 2022 às 16h24.
Luciano Santos, executivo de vendas do Facebook e mentor de carreiras, conta que é até estranho falar que é dele o livro “ Seja egoísta com sua carreira ”, lançado no ano passado pela editora Gente Autoridade.
“Eu escrevi tudo, mas o conteúdo é uma junção de fragmentos de dúvidas e questões de carreira que chegaram até mim", diz.
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Nos últimos cinco anos, o executivo, que teve passagem em grandes empresas de tecnologia, como UOL, Google Brasil e o Facebook, chegou a mentorar cerca de mil profissionais.
Assim que começou a juntar histórias de insatisfações no trabalho: como trocar de emprego? Como se comunicar com o chefe? Devo planejar ou não a carreira?
“O livro nasce quando começo a buscar o motivo pelo qual a maioria das pessoas tem o trabalho como um lugar de sofrimento. Existem muitos motivos para isso, mas vi duas coisas em comum: falta de treinamento da liderança e falta de conhecimento sobre como gerenciar a carreira”, afirma.
Agora em transição de carreira para se dedicar totalmente à área de educação corporativa, o escritor falou com a EXAME sobre alguns dos maiores bloqueios na carreira profissional e formas para destravar essa jornada para o sucesso.
Confira as dicas de Luciano Santos na entrevista completa:
E me fala sobre os hábitos que travam a carreira das pessoas?
Poderia falar de 50 ou mais, mas quero falar aqui das principais. Não na ordem de ocorrência, mas na de importância, eu falaria que a questão de feedback é uma grande carência no mundo corporativo. Como eu dou e como recebo feedback. Eu vejo de tudo: medo de dar o feedback, de receber, tabus, usar como uma arma de destruição. Dar e receber é um músculo que quanto mais você exercita, mais forte fica. A falta disso é a trava número um na carreira.
Aí temos alguns fatores curiosos e o primeiro entre eles seria mentir. É muito comum mentir no mundo corporativo, mas na carreira a mentira não só tem perna curta, mas ela acaba com confiança futura.
Eu já trabalhei no Google e, depois que sai, uma pessoa de fora veio perguntar sobre um candidato que tinha uma passagem no currículo na empresa na mesma época que eu. Eu não confio na memória, mas não lembrava da pessoa. Fui checar com amigos, mandei o perfil para uma pessoa mais velha da equipe. Em pouco tempo, quando olhamos o perfil da pessoa, a menção ao Google havia desaparecido. Para o recrutador, só disse que não conheci, pois não era meu papel julgar. A história mostra que é muito perigoso mentir.
Acho que a última “trava” que trago é mais para inspirar: não seja seu próprio não. Tenho outra história sobre isso que nunca vou esquecer, uma pessoa me chamou no LinkedIn falando que sonhava em trabalhar no Facebook. E eu respondi que tínhamos um monte de vagas abertas. E a pessoa disse que não era para ela, que nunca passaria. Eu questionei: “como não?”. No final, a pessoa se aplicou para três ou quatro vagas e passou.
Muitas pessoas fazem isso. Não seja seu próprio não. E infelizmente isso é muito proeminente nas mulheres, elas normalmente tentam vagas apenas quando tem aderência de 80% ao que pede a vaga. As pessoas precisam tentar para ao saber se estão aptas ou não.
E existem mentalidades que ajudam a “empacar” a carreira?
Quando o assunto é nossa carreira, as pessoas buscam muito pouco o que fazer. Ser egoísta na carreira, o título do livro é muito uma provocação sobre como sempre temos um monte de coisas que pesam mais do que sua carreira. A opinião dos outros, mitos do mundo do trabalho... O lado que mais importa tem que ser o seu lado.
O primeiro ponto é: as pessoas precisam refletir mais o que significa ter uma carreira para elas. O que elas precisam fazer para crescer? Geralmente aparecem reclamações, sobre o chefe, sobre o salário... Sempre incentivo as pessoas a pensar quais as coisas importantes dentro do trabalho e ter uma lista disso. Como deixar a sua marca, aprender e se divertir; todos deveriam ter sua lista.
Tem um conceito que gosto: não correr “de”, mas correr “para”. Eu não corro do trabalho por não gostar de um chefe. Eu posso cair em algo pior. Se eu corro para algo, antes de sair correndo eu estou materializando um objetivo.
Em segundo, acho que as pessoas declaram pouco suas intenções. Uma pessoa que trabalhou comigo disse em um almoço que não conseguia dar um passo para a liderança, pois queria começar a gerenciar estagiários. Eu perguntei para ele: legal, mas o que sua gerente falou quando disse que queria isso? Ele não tinha falado para ela.
Aí se encerrou a conversa, pedi um café coado e ele um expresso. O que eu mais gosto daquele café, umas laranjas cristalizadas que acompanham, não vieram dessa vez. Chamei o garçom e disse que aquele acompanhamento era o motivo de ter pedido. Infelizmente não tinha mais. E logo ele voltou com um prato de chocolate de cortesia.
Meu colega achou que tinha feito de propósito, mas não foi. Mas fica a lição do poder de pedir. Se fico quieto, não ia comer o chocolate. Minha intenção era comer fruta, mas veio algo melhor. As pessoas têm esse mito de que os líderes sabem tudo, inclusive o que você quer e sua intenção. Isso, claro, não é verdade. Se quiser ser promovido, ter aumento, ir para uma área nova... você tem que declarar que é o quer deseja.
E que decisões podem parecer entraves de carreira, mas não são?
Existem tabus e mitos sobre o trabalho, como o pula-pula de troca de emprego. Escuto muito de profissionais dizendo que fizeram um curso que não faz sentido com a carreira e perderam tempo. E isso não faz mais sentido no mundo de hoje. O mundo do futuro pertence a pessoas plurais, com multiconhecimentos, qualquer curso pode virar sabedoria.
Entrevistei um menino para o meu time e perguntei se tinha alguma coisa no currículo que não me falou. Ele disse que tinha uma coisa que ele não colocava e tinha vergonha. Ele tinha feito um curso de palhaço! Você já viu o currículo de um curso desse? São dois anos de aula todos os dias para atuar, contar piada, fazer malabarismo... 80% daquilo absolutamente se encaixa na vaga de vendas.
Mas como você colocar o curso que faz a diferença. Você pode colocar e estressar os pontos importantes que aprendeu.
Esse é o ponto que muitos não sabem fazer. Você pode mitigar qualquer coisa da sua jornada se tiver uma narrativa boa e saber contar. Trocar de emprego pode parecer ruim, mas como você conta a história pode mostrar que é um profissional melhor e o quanto aprendeu. Se você fez um curso de palhaço, como utilizaria isso em uma empresa? É muito importante, se não a coisa mais importante, como a gente conta.
Que hábitos você recomenda adotar para destravar a carreira?
O conselho número um é ter muita atenção com seu networking. É muito comum as pessoas praticarem o networking do desespero. Quando sai do emprego ou está muito insatisfeito, sai acionando tudo mundo. O networking é uma ferramenta de longo prazo, que vamos criando com interações de qualidade.
Acho que o segundo ponto é começar a refletir sobre o que procuram no trabalho. O que é importante para você? Que elementos precisam estar presentes? Isso a ajudar a ter clareza dos próximos passos.
Outro ponto que gosto de citar: ter um mentor. Temos aquela ideia do mentor como um velhinho, mas o mentor deve ser alguém que sabe mais que a gente em determinada área. Já tive mentor de 24 anos em tecnologia. Olhe no seu entorno quem poderia te dar mentoria. Dentro da sua empresa devem ter pessoas que já deram os passos e viveram algo que possam compartilhar a experiência.
Por último, para reforçar, foco no tripé: currículo, narrativa e networking. Quem tem esse tripé é sempre empregável.
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