A crise ainda não chegou aos carros dos diretores
Um dos benefícios mais tradicionais no Brasil, a concessão de automóveis para altos executivos tem ganhado flexibilidade
Da Redação
Publicado em 9 de julho de 2015 às 07h18.
São Paulo - A crise pode fazer com que as empresas enxuguem seus quadros, mexam nas estruturas e até derrubem os salários, mas um benefício não só continua intacto no cardápio corporativo do brasileiro como tem ganhado mais atenção: o automóvel.
Enquanto na Europa quase metade das companhias está revisando a política de administração de frotas executivas em busca de soluções mais compactas, sustentáveis e baratas, e nos Estados Unidos a oferta de carros para presidentes caiu 3% em relação a 2013, no Brasil as empresas estão incrementando o benefício ao transferir para o profissional a escolha do modelo a ser comprado.
Num momento de aperto de cintos, em vez de mexer na frota, as companhias entendem que o carro pode representar uma moedinha a mais na negociação. “Uma empresa que não tenha a política de flexibilidade pode perder um funcionário para outra que ofereça um salário parecido, mas um carro melhor”, diz Ricardo de Bolle, diretor da Arval, empresa do Grupo BNP Paribas, especializada em gestão de frotas corporativas.
A livre escolha do modelo do carro é uma evolução dos sistemas tradicionalmente utilizados pelas companhias no Brasil, um dos países que mais oferecem esse benefício aos executivos. Segundo a Mercer, no Brasil cerca de 80% dos grandes negócios incluem o carro no pacote de diretores e presidentes. Nos Estados Unidos, apenas 24% oferecem automóvel para o número 1 da empresa.
No passado, quando as companhias começaram a montar suas frotas de carros de diretoria, os profissionais não davam pitaco nenhum no tipo de automóvel que receberiam como benefício. Com o tempo, passou a ser possível apontar o preferido entre uns poucos modelos. “Agora está ficando comum a empresa limitar apenas a faixa de valor”, diz Felipe Otávio, consultor de benefícios da Mercer.
O resultado dessa nova política é uma garagem bastante diversificada, com menos sedans clássicos e mais utilitários esportivos, o que tem agradado as fabricantes de carros importados, que até pouco tempo atrás não pensavam em investir nesse segmento.
“Reposicionamos parte de nossa linha para brigar com os carros clássicos de diretoria”, afirma Marcelo Barros, diretor da área de vendas corporativas da Audi Brasil. “Era um tipo de demanda que não tínhamos.”
Os carros que a Audi mais vende para executivos são o A3 e o A4, sedans tradicionais. O terceiro lugar das vendas é ocupado pelo Q3, um SUV compacto. Utilitários, aliás, estão caindo no gosto dos executivos. “Esse é o carro da moda, e isso se reflete nas frotas corporativas”, diz Bolle, da Arval.
Meu ou da empresa?
Se oferecer maior liberdade para o executivo escolher o carro já é uma tendência consolidada, o mesmo não se pode dizer da forma como esse benefício é administrado pelas empresas. Em alguns casos, o profissional escolhe o carro, mas a aquisição é feita pela companhia, que inclui o veículo em sua frota.
Outro modelo que tem se tornado bastante comum é o chamado cash allowance, que nada mais é do que uma espécie de bônus que a empresa paga para que o executivo possa ele mesmo comprar o carro de sua preferência. “A decisão do melhor modelo tem sido analisada entre o RH e a área financeira”, afirma Gerardo San Roman, da consultoria Jato, especializada em mercado automotivo.
A fabricante de canos de PVC Tigre adotou esse sistema em 2013. Em vez de oferecer o mesmo tipo de carro para os 13 diretores, cada um passou a receber 100 000 reais a cada três anos para adquirir o automóvel que quiser. “Cada um tem um perfil bem diferente e se sente mais à vontade com determinado tipo de carro”, diz José Renato Domingues, diretor de RH da Tigre.
Segundo ele, a opção pelo sistema foi feita com base nas pesquisas de satisfação e clima, que indicaram que um sistema mais flexível faria sucesso entre os executivos. O próprio Domingues resolveu fugir dos sedans clássicos ao fazer uso do benefício e comprou um Mini Cooper. “A variedade é tanta que é muito comum eu ter de estacionar meu Mini Cooper ao lado de um SUV ”, diz ele.
Os defensores desse sistema de bônus apontam que essa forma de concessão dá ao executivo uma espécie de voto de confiança, uma vez que ele pode não apenas escolher o modelo mas também negociar com a concessionária questões como os opcionais do carro e a melhor forma de quitar o valor excedente, caso opte por um veículo acima do limite estabelecido pela companhia.
Por outro lado, o cash allowance faz com que o profissional tenha de desviar o foco de sua atenção para lidar com as burocracias relacionadas à compra do automóvel, o que pode impactar sua produtividade. Outro ponto que pesa contra esse sistema é o fato de o valor ter de transitar pela folha de pagamentos do funcionário, gerando uma porção de custos fiscais e trabalhistas para a empresa e para o empregado.
Por esses motivos, há quem prefira investir na frota própria, que, mesmo dando ampla opção de escolha aos executivos, permite que a empresa controle alguns detalhes que considera importantes, como priorizar os modelos menos poluentes. Esse sistema também é visto por alguns profissionais de RH como um benefício de percepção mais duradoura, uma vez que o carro pode ser vendido ao executivo com preço abaixo da tabela após um tempo preestabelecido.
A grande desvantagem é que a companhia acaba tendo de montar uma estrutura para administrar essa frota — ou terceirizar esse serviço, o que também gera gastos constantes —, além de ter um ativo improdutivo em seu balanço.
A rede de lojas de material de construção C&C optou por esse caminho. Os diretores têm 80 000 reais para escolher o carro que desejam, e a aquisição é feita por meio de um contrato de leasing. Caso o executivo tenha optado por um carro acima do valor estabelecido, o excedente da parcela do financiamento é descontado em sua folha de pagamentos mensalmente.
A cada três anos a empresa renova a frota, e o profissional pode comprar o carro com um desconto de pelo menos 20% sobre a tabela Fipe, índice de referência para o preço de automóveis. “Notamos que quem escolhe carros acima de 80 000 cuida melhor do carro e acaba ficando com o veículo depois dos três anos”, diz Jorge Jubilato, diretor de RH da empresa.
São Paulo - A crise pode fazer com que as empresas enxuguem seus quadros, mexam nas estruturas e até derrubem os salários, mas um benefício não só continua intacto no cardápio corporativo do brasileiro como tem ganhado mais atenção: o automóvel.
Enquanto na Europa quase metade das companhias está revisando a política de administração de frotas executivas em busca de soluções mais compactas, sustentáveis e baratas, e nos Estados Unidos a oferta de carros para presidentes caiu 3% em relação a 2013, no Brasil as empresas estão incrementando o benefício ao transferir para o profissional a escolha do modelo a ser comprado.
Num momento de aperto de cintos, em vez de mexer na frota, as companhias entendem que o carro pode representar uma moedinha a mais na negociação. “Uma empresa que não tenha a política de flexibilidade pode perder um funcionário para outra que ofereça um salário parecido, mas um carro melhor”, diz Ricardo de Bolle, diretor da Arval, empresa do Grupo BNP Paribas, especializada em gestão de frotas corporativas.
A livre escolha do modelo do carro é uma evolução dos sistemas tradicionalmente utilizados pelas companhias no Brasil, um dos países que mais oferecem esse benefício aos executivos. Segundo a Mercer, no Brasil cerca de 80% dos grandes negócios incluem o carro no pacote de diretores e presidentes. Nos Estados Unidos, apenas 24% oferecem automóvel para o número 1 da empresa.
No passado, quando as companhias começaram a montar suas frotas de carros de diretoria, os profissionais não davam pitaco nenhum no tipo de automóvel que receberiam como benefício. Com o tempo, passou a ser possível apontar o preferido entre uns poucos modelos. “Agora está ficando comum a empresa limitar apenas a faixa de valor”, diz Felipe Otávio, consultor de benefícios da Mercer.
O resultado dessa nova política é uma garagem bastante diversificada, com menos sedans clássicos e mais utilitários esportivos, o que tem agradado as fabricantes de carros importados, que até pouco tempo atrás não pensavam em investir nesse segmento.
“Reposicionamos parte de nossa linha para brigar com os carros clássicos de diretoria”, afirma Marcelo Barros, diretor da área de vendas corporativas da Audi Brasil. “Era um tipo de demanda que não tínhamos.”
Os carros que a Audi mais vende para executivos são o A3 e o A4, sedans tradicionais. O terceiro lugar das vendas é ocupado pelo Q3, um SUV compacto. Utilitários, aliás, estão caindo no gosto dos executivos. “Esse é o carro da moda, e isso se reflete nas frotas corporativas”, diz Bolle, da Arval.
Meu ou da empresa?
Se oferecer maior liberdade para o executivo escolher o carro já é uma tendência consolidada, o mesmo não se pode dizer da forma como esse benefício é administrado pelas empresas. Em alguns casos, o profissional escolhe o carro, mas a aquisição é feita pela companhia, que inclui o veículo em sua frota.
Outro modelo que tem se tornado bastante comum é o chamado cash allowance, que nada mais é do que uma espécie de bônus que a empresa paga para que o executivo possa ele mesmo comprar o carro de sua preferência. “A decisão do melhor modelo tem sido analisada entre o RH e a área financeira”, afirma Gerardo San Roman, da consultoria Jato, especializada em mercado automotivo.
A fabricante de canos de PVC Tigre adotou esse sistema em 2013. Em vez de oferecer o mesmo tipo de carro para os 13 diretores, cada um passou a receber 100 000 reais a cada três anos para adquirir o automóvel que quiser. “Cada um tem um perfil bem diferente e se sente mais à vontade com determinado tipo de carro”, diz José Renato Domingues, diretor de RH da Tigre.
Segundo ele, a opção pelo sistema foi feita com base nas pesquisas de satisfação e clima, que indicaram que um sistema mais flexível faria sucesso entre os executivos. O próprio Domingues resolveu fugir dos sedans clássicos ao fazer uso do benefício e comprou um Mini Cooper. “A variedade é tanta que é muito comum eu ter de estacionar meu Mini Cooper ao lado de um SUV ”, diz ele.
Os defensores desse sistema de bônus apontam que essa forma de concessão dá ao executivo uma espécie de voto de confiança, uma vez que ele pode não apenas escolher o modelo mas também negociar com a concessionária questões como os opcionais do carro e a melhor forma de quitar o valor excedente, caso opte por um veículo acima do limite estabelecido pela companhia.
Por outro lado, o cash allowance faz com que o profissional tenha de desviar o foco de sua atenção para lidar com as burocracias relacionadas à compra do automóvel, o que pode impactar sua produtividade. Outro ponto que pesa contra esse sistema é o fato de o valor ter de transitar pela folha de pagamentos do funcionário, gerando uma porção de custos fiscais e trabalhistas para a empresa e para o empregado.
Por esses motivos, há quem prefira investir na frota própria, que, mesmo dando ampla opção de escolha aos executivos, permite que a empresa controle alguns detalhes que considera importantes, como priorizar os modelos menos poluentes. Esse sistema também é visto por alguns profissionais de RH como um benefício de percepção mais duradoura, uma vez que o carro pode ser vendido ao executivo com preço abaixo da tabela após um tempo preestabelecido.
A grande desvantagem é que a companhia acaba tendo de montar uma estrutura para administrar essa frota — ou terceirizar esse serviço, o que também gera gastos constantes —, além de ter um ativo improdutivo em seu balanço.
A rede de lojas de material de construção C&C optou por esse caminho. Os diretores têm 80 000 reais para escolher o carro que desejam, e a aquisição é feita por meio de um contrato de leasing. Caso o executivo tenha optado por um carro acima do valor estabelecido, o excedente da parcela do financiamento é descontado em sua folha de pagamentos mensalmente.
A cada três anos a empresa renova a frota, e o profissional pode comprar o carro com um desconto de pelo menos 20% sobre a tabela Fipe, índice de referência para o preço de automóveis. “Notamos que quem escolhe carros acima de 80 000 cuida melhor do carro e acaba ficando com o veículo depois dos três anos”, diz Jorge Jubilato, diretor de RH da empresa.