Felipe Fagundes, vice-presidente de Recursos Humanos da AGA: “Chegamos no consenso de que trabalho para nós não é mais medido em horas trabalhadas ou por lugar, mas sim pela entrega de resultado sustentável” (AngloGold Ashanti /Divulgação)
Repórter
Publicado em 22 de abril de 2024 às 07h00.
Última atualização em 22 de abril de 2024 às 11h39.
No ano em que completará 190 anos no Brasil, a mineradora AngloGold Ashanti, produtora de ouro, que inovar sua jornada de trabalho: a partir desta segunda-feira, 22, a companhia começa a testar a escala de trabalho 4x3, ou seja, todos os funcionários do administrativo terão 4 dias de trabalho e 3 dias de descanso.
“Vimos que temos condições de combinar a tradição com a vanguarda. Até porque, se olharmos ao longo da história da empresa, apostamos em inovação em vários aspectos que nos ajudaram a chegar até aqui”, diz Felipe Fagundes, vice-presidente de Recursos Humanos da AGA, que afirma que cerca de 500 funcionários do escritório localizado em Nova Lima, MG, participarão do piloto de 4 dias de trabalho.
O principal objetivo para a mineradora centenária apostar agora no projeto 4x3, segundo Fagundes, é se preparar e deixar a companhia um pouco mais madura para a experiência que acreditam que pode fazer parte do futuro do trabalho.
“Não vamos tirar benefícios, nem tão pouco diminuir os salários, além disso, vamos manter o regime híbrido para os 4 dias de trabalho, sendo dois dias no presencial e dois dias de home office”, afirma o VP de RH.Para chegar nessa fase de teste com o time mais preparado, Fagundes diz que algumas iniciativas foram adotadas como eliminação de reuniões nas sextas-feiras e até orientação para que um dos três dias de home office fosse realizado neste último dia da semana.
“Fomos forçados pela pandemia, como todas as empresas, a adotar o trabalho home office, e no retorno percebemos que com o regime híbrido é possível desafiarmos o modelo conceitual de trabalho sem perdas na produtividade”, afirma Fagundes. “Com essa experiência, chegamos no consenso de que trabalho para nós não é mais medido em horas trabalhadas ou por lugar, mas sim pela entrega de resultado sustentável.”
Apesar do desafio de flexibilizar a jornada de trabalho começar pelo administrativo, a expectativa, segundo o VP de RH que responde pelas operações no Brasil e da Argentina, é de trazer opções de escala de trabalho também para os funcionários do operacional, que representam boa parte da companhia - hoje são 1.200 empregados na Argentina e 3.800 no Brasil, sendo que apenas 500 funcionários fazem parte do administrativo e estão no Brasil.
“Existe um desejo de quebrar esse paradigma de trabalho para a operação, por isso já estamos testando, por exemplo, a escala 4x4 para o operacional, em que trabalham 12 horas por 4 dias e folgam 4 dias. Estamos tendo retornos positivos com essa escala, entre as diversas combinações que temos para essa área que precisa rodar 24 horas”.
Entre os maiores receios do RH com a nova escala, segundo Fagundes, há dois que chamam a atenção na equipe – o primeiro será manter ou melhorar o nível de qualidade das entregas e a segundo é se haverá muito impacto na vida dos funcionários ao trabalhar 1h30 por dia a mais de segunda a quinta.
“Manteremos uma escuta ativa semanal para entender se essa escala fará sentido para o nosso time e para os nossos negócios”, diz. “Em empresas de tecnologia já vimos que é mais comum essa flexibilidade na gestão de trabalho, mas agora queremos trazer uma contribuição para o ramo industrial”, diz Fagundes que acredita que se der certo na mineradora, esse modelo poderá ser adotado em siderurgias e demais segmentos industriais.
O piloto de 4x3 da mineradora terá duração de dois meses, com conclusão no final de junho, sem ajuda de empresas terceiras. Se os resultados forem positivos, a implementação da escala de 4 dias de trabalho para o administrativo já tem previsão de início.
“Vamos precisar nos organizar em termos de gestão de horas, porque dependendo será necessário até desenvolver um sistema. Mas dando tudo certo no piloto, a implantação deverá acontecer ainda no segundo semestre, entre agosto ou setembro.”
As operações brasileiras da AngloGold Ashanti respondem por cerca de 13% da produção global de ouro do grupo - em 2023 a companhia produziu 490 mil onças de ouro nas operações LATAM e 338 mil onças de ouro no Brasil. O grupo tem sede em Londres, no Reino Unido, e atuação em nove países, com 10 operações. No Brasil, a empresa possui minas e plantas metalúrgicas e de beneficiamento nos estados de Minas Gerais e Goiás. Como empresa de capital aberto, suas ações são negociadas nas Bolsas de Valores de Nova Iorque (Estados Unidos), Joanesburgo (África do Sul) e Gana.
“Vale ressaltar que em momento nenhum falamos que estamos 100% seguros de que vai dar certo a escala 4x3, mas decidimos desafiar o novo. Tem muita coisa que uma empresa centenária apostou e arriscou para se manter no mercado por 190 anos, esse movimento de gestão será mais um desses passos,” afirma Fagundes.