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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h32.
Quase todos os aspectos da minha vida acadêmica no MBA foram diferentes dos que experimentei durante a universidade, no Brasil. Da participação em sala de aula ao sistema de notas, o MBA mudou radicalmente minha maneira de encarar a vida de estudante. Talvez a grande diferença esteja na maneira com que o MBA te força a estudar. Fiz engenharia na UFRJ, um curso reconhecidamente puxado. Eu e meus colegas costumamos relembrar, com prazer masoquista, as muitas noites que passamos em claro decifrando os mistérios do cálculo e da física. Isso pode te chocar, mas o MBA costuma ser ainda mais pesado. Num caso médio, um MBA em Wharton exige umas 30 horas de estudo por semana, fora da sala de aula. É claro que há variações; conheço gente que vem se matando de estudar, mas também há outros que fazem somente o mínimo necessário. Na faculdade, ficávamos semanas sem abrir os livros, mas nos esfolávamos nas semanas de prova para compensar. O MBA te força a estudar mais constantemente, por dois motivos: a curva forçada e as notas de participação em aula.
A curva forçada é adotada por algumas escolas, como por exemplo Wharton e Harvard. Funciona assim: para cada curso, há um percentual pré-estabelecido de alunos que ficarão em cada nível de notas. Em Wharton, esses níveis são: DS ( distinguished ), que engloba os 15% melhores alunos; HP ( high pass ), com os próximos 20% melhores; P ( pass ), com os próximos 55% e QC ( qualified credit ), que abriga os 10% alunos com pior performance em cada curso. Sim, você entendeu direito: em cada curso, necessariamente 10% vão segurar a lanterna. Isso não seria tão grave, não houvesse um limite para o número de QCs que você pode tomar. Se atingir tal limite, o aluno é convidado a se retirar do curso. Poucos alunos chegam a tal extremo; por ano, diria que no máximo 5 entre os 700 que iniciaram o MBA.
Mas que inferno , você pode estar pensando. Era exatamente o que eu achava quando cheguei por aqui. Encarar a tal curva forçada, numa escola com fama de difícil, e ainda por cima em inglês, me parecia um desafio meio assustador. Como você percebeu, a curva relativiza todas as notas. Então, não adianta nada acertar 99% de uma prova, se todos os outros a gabaritaram você ficará com um QC. O que fazer? Estudar com níveis de afinco e constância até então inéditos para mim.
Você já deve ter ouvido que o primeiro semestre é o pior do MBA. É mesmo, e acho que principalmente por esse motivo. Como você não sabe exatamente o que vai encontrar, a tendência é estudar em demasia. Isso acaba sendo meio estressante, e não sobra muito tempo para aproveitar a vida não acadêmica. Terminado o primeiro semestre, entretanto, dá para ter uma idéia melhor do que esperar de você mesmo e dos seus colegas, e a vida costuma melhorar.
Além da curva forçada, a participação em aula é o outro grande incentivo para estudar. Para participar você naturalmente tem que preparar a aula, ou seja, ler os materiais indicados para aquele dia. A nota de participação costuma representar entre 10% e 30% do total de cada curso, em Wharton. Para garantir que todos preparem as aulas, as escolas adotam um recurso chamado de cold call , que é um dos pesadelos de qualquer MBA. Imagine numa segunda feira às nove da manhã, você ainda moído pelo final de semana, e o professor, sem aviso, abrindo a aula com Então, Eduardo, você é a favor ou contra a fusão X, e por quê? . Sentiu a pressão? Muito mais do que garantir uma boa nota, participar decentemente das aulas é decisivo para um dos aspectos mais importantes do MBA: a construção da sua reputação para com seus colegas e professores. Tal reputação pode valer desde convites para trabalhos em grupo até propostas para sociedades em futuros negócios. As escolas percebem que há muito em jogo e usam o cold call para deixar todo mundo ligado. Quanto à tal fusão X, fui salvo por uma leitura de última hora, às 2 da manhã da segunda feira...
* Eduardo Luz é carioca, formado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1996. Hoje, é aluno da classe de 2002 da Wharton School, na Universidade da Pensilvânia