Homem de terno com colar de dólar (Fabio Heizenreder e Anderson Marçal/VOCÊ S/A)
Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2013 às 15h00.
São Paulo - A onda de transformações positivas da economia brasileira foi fundamental para a melhora da vida financeira de todos os brasileiros. A renda média de quem é assalariado cresceu 2,2% entre 2008 e 2009 e a taxa de desemprego caiu para 6,2% em setembro, a menor desde 2002, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com mais gente empregada, o Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todas as riquezas produzidas no país, deve fechar em 7% neste ano.
“Só tínhamos ouvido falar nesse avanço na década de 1960, o crescimento do Brasil está mais equilibrado e deve continuar nos próximos anos”, diz Roberto Piscitelli, professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB). Portanto, para não perder a chance de se dar bem nas finanças, é hora de reavaliar seus hábitos com o dinheiro e aprender a poupar para investir e realizar seus sonhos. Nas próximas páginas, você vai conhecer as histórias de jovens que estão aproveitando a boa fase do país para ganhar um bom dinheiro. Você confere também as estratégias certas e as melhores aplicações financeiras para começar 2011 com o pé direito.
Com a inflação controlada — o índice deve fechar em 4,66% neste ano — e o cenário econômico estável e previsível, as pessoas estão mais confiantes no futuro. O Índice de Expectativas das Famílias (IEF), pesquisa mensal realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que 60,5% dos núcleos familiares brasileiros acreditam que o Brasil será melhor nos próximos 12 meses.
“Essas mudanças não são um fenômeno internacional, o momento é particular da economia brasileira”, diz Cristina Helena de Melo, professora de macroeconomia do curso de administração da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo. Diante de um cenário tão positivo, em que as pessoas estão ganhando mais e acreditam que não vão perder o emprego nos próximos meses, há dois caminhos a seguir. O primeiro é usar a renda extra para o consumo e o outro é utilizar o dinheiro para investir e ter independência financeira no futuro.
É tempo de investir
Uma trajetória não exclui a outra, mas você deve equilibrar as duas para não perder uma boa chance de aproveitar o momento econômico, começar a poupar agora e ganhar um bom dinheiro nos próximos anos. Por enquanto, a maior parte das pessoas parece que ainda prefere a compra parcelada de produtos. A demanda do consumidor por crédito cresceu 15,7% entre janeiro e outubro de 2010 em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Indicador Serasa Experian.
Uma das consequências do crédito acessível é que as pessoas fazem aquisições de bens e produtos mais caros. Ao comprar uma casa maior e mais luxuosa, por exemplo, o consumidor não se dá conta de que os gastos com manutenção — jardineiro, empregada e móveis — vão crescer. “A melhora do padrão de vida gera efeitos colaterais indesejados, como o comprometimento maior da renda”, diz Antonio Cássio Segura, gerente executivo da diretoria de varejo do Banco do Brasil (BB), em Brasília.
O fato é que ainda não estamos acostumados com o novo Brasil, que está cheio de oportunidades para quem quer enriquecer e ganhar dinheiro no longo prazo. “Vivemos por quatro décadas em uma cultura de inflação elevada, a renda se depreciava e era preciso antecipar o consumo, o que não nos educou para poupar”, diz Roberto Piscitelli, da UnB.
Portanto, este é o momento para surfar na onda das boas notícias e encontrar o equilíbrio entre consumo e capacidade de poupança, e ainda guardar uma grana para investir. “É importante não desperdiçar essa oportunidade de lidar de forma consciente com o dinheiro e se prevenir dos momentos estressantes”, diz Ângela Nunes Assumpção, economista e consultora financeira da MoneyPlan, em São Paulo.
Hora é agora
O ganho é maior
A tal da renda variável
Agora, se sua intenção é deixar o dinheiro aplicado por um período superior a cinco anos, uma alternativa é o investimento em ações. O preço dos papéis negociados na bolsa de valores deve continuar bom nos próximos meses, e as ações serão uma possibilidade de investimento. A bolsa deve ser sustentada pelos investidores estrangeiros, porque eles procuram países com aplicações financeiras com boa rentabilidade para ganhar dinheiro. Na Europa e nos Estados Unidos, a taxa de juros está baixíssima. Já no Brasil, os juros continuam altos em relação às outras economias do mundo. “Há uma entrada maciça de recursos, que reflete no desempenho das aplicações”, diz Aureliano Angel Bressan, professor de finanças da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Há também outras boas notícias, que podem afetar positivamente seus investimentos.
As boas novas
De olho em um cenário positivo, que pode ter mais gente com dinheiro no bolso e pronta para investir, as instituições financeiras estão querendo atrair cada vez mais clientes, principalmente quem está entrando pela primeira vez no mundo dos investimentos. “O grande desafio é educar as pessoas para que façam uma poupança regular por muitos anos”, diz Edson Franco, superintendente executivo de investimentos do Grupo Santander, em São Paulo. Já que os bancos querem você como cliente, é hora de aproveitar as ferramentas de educação financeira que as instituições oferecem para iniciar um novo plano de investimentos.
Este é um caminho tecnológico sem volta. Os clientes bancários estão cada vez mais plugados na rede mundial de computadores. De acordo com pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o número de pessoas com contas no internet banking subiu 18% de 2008 para 2009, e já são 35 milhões de usuários. Gustavo Roxo, diretor de tecnologia da Febraban, diz que o uso da web vai exigir mais sofisticação no tratamento com o cliente. Existem três novas tecnologias que os bancos devem desenvolver para os próximos anos.
A primeira tecnologia é um mecanismo que faça sugestões dos melhores investimentos de acordo com o objetivo de cada cliente. A segunda tecnologia deve ser capaz de fornecer uma previsão orçamentária que, com base na análise do comportamento do investidor, permita enxergar o fluxo de gastos e a capacidade de poupança.
A terceira novidade na área de tecnologia que deve surgir nos próximos anos será a intensificação da comunicação com clientes e investidores por meio das redes sociais. “Os bancos vão ter de ajudar o cliente em qualquer hora do dia e em qualquer assunto, fazendo o que o gerente das agências já faz hoje no horário comercial”, afirma Gustavo Roxo.
De acordo com a Febraban, os gastos das instituições financeiras com tecnologia cresceram 6% entre 2008 e 2009, mas foram menores do que em 2008, quando o aumento foi de 11% em relação a 2007. “Nos últimos anos, os bancos investiram contra fraudes, mas é preciso equilibrar esses investimentos e pensar um pouco mais no futuro”, diz o diretor de tecnologia da federação.
E quem você é?
Conservador, moderado e arrojado são os termos mais comuns para definir o apetite de um investidor quanto aos ganhos em suas aplicações.
A vez dos arrojados
A queda da taxa básica de juros da economia, a Selic, nos últimos anos foi o principal incentivo da Anbima para criar e supervisionar a API. Com os juros em queda, a renda fixa perde atratividade, e quem quer ganhar mais precisa escolher aplicações mais arrojadas. “As pessoas vão ao mercado de capitais em busca de uma rentabilidade maior, e o investidor deve ter total consciência do produto que está comprando”, diz Edson Franco, do Grupo Santander. O risco do investidor em uma situação nebulosa é colocar todo o dinheiro em uma aplicação e não saber que pode perder tudo.
A preocupação da Anbima é legítima, porque hoje há uma variedade de produtos disponíveis nas prateleiras das instituições financeiras. A instituição classifica 34 tipos de fundos de investimento. “Com a API, o investidor tem um guia científico de informações e a possibilidade de ter um desapontamento no futuro é menor”, diz Marcos Daré, presidente do Comitê de Distribuição de Produtos de Varejo da Anbima.
O Banco do Brasil oferece mais de 90 opções de fundos ao cliente do varejo. No entanto, ao responder o questionário da API, apenas três produtos são sugeridos ao investidor. “Em uma época de melhoria da renda e das pessoas subindo de classe social, a ordem é a simplicidade”, diz Antonio Cássio Segura, do Banco do Brasil. Mas o que acontece quando o investidor se recusa a seguir a indicação da API ou opta por um investimento mais arrojado do que o recomendado na análise de perfil?
Bom, cabe ao banco alertá-lo dos riscos. Além disso, o cliente assina um documento se responsabilizando pela decisão contrária ao que o banco sugeriu. Mas, apesar da vida do investidor ter melhorado com a API, os analistas acreditam que o sistema bancário ainda precisa se desenvolver. Caio Torralvo, da FIA, explica que é necessário avançar em outros temas. “A API mostra qual é o apetite do investidor quanto aos riscos, mas o relacionamento interpessoal não deixa de existir, o gerente precisa entender quem é o investidor antes de indicar o produto”, diz o professor.
Escolha sua aplicação
Se você já sabe qual é seu perfil, é hora de escolher o investimento mais adequado para você.
Além de identificar que tipo de investidor você é, saber sua necessidade de usar o dinheiro é importante. Observe o exemplo de duas pessoas com 30 anos. A primeira tem uma única reserva para bancar o casamento, que vai acontecer em seis meses. A outra é casada, tem dinheiro disponível para emergências e suas responsabilidades financeiras estão garantidas. O resultado é que elas terão de pensar em aplicações diferentes. “No primeiro caso, o prazo para investir é curtíssimo, portanto o grau de risco da aplicação deve ser zero. No segundo, o prazo é maior ou indefinido, o investidor pode se arriscar mais”, diz Fábio Gallo Garcia, professor de finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (Eaesp-FGV). É importante ter reservas de dinheiro para emergências de curto ou longo prazo antes de destinar uma grana a novos investimentos.