Cafezinho? Papo de corredor? Os riscos da volta à firma antes da vacina
Hábitos comuns da cultura corporativa se tornaram inimigos da retomada ao trabalho presencial antes do fim da pandemia
Luísa Granato
Publicado em 20 de setembro de 2020 às 08h00.
Para quem estava com saudades da rotina do escritório, a volta pode decepcionar. Hábitos comuns da cultura corporativa se tornaram inimigos da retomada antes do fim da pandemia .
O papo no corredor? Nem pensar. A primeira regra da nova convivência na firma é manter o distanciamento a todo momento. Em alguns lugares, setas indicam a direção que as pessoas devem andar para não se cruzar ao entrar em sala ou caminhando pelos corredores.
A simples pausa para o café, por exemplo, precisou ser repensada. O planejamento cuidadoso dos novos protocolos e pontos de risco é primordial para trazer os funcionários de volta em segurança.
Manter a distância de mais de 1,5 metro, se sentar em lugares intercalados, usar máscaras o tempo todo. Essa é a nova realidade das empresas que já resolveram voltar às atividades presenciais.
Na reportagem “Em casa e na firma” da revista EXAME, uma pesquisa da KPMG revela que 51% dos executivos planejam chamar uma parte de seus funcionários de volta ao batente presencial até o fim do ano.
Na pesquisa, 90% dos respondentes disseram que o uso de máscaras será obrigatório. Outros protocolos de segurança comuns serão a medição de temperatura (68%) e questionários de saúde (48%). E 27% farão testes periódicos de covid-19.
Como não se vive só de café, outro ponto preocupante é a alimentação. Alguns escritórios optaram por bloquear o acesso à copa, outros adotaram turnos para contornar o horário do almoço.
Na Raia Drogasil, o refeitório mudou para se adequar ao novo contexto. As refeições são servidas em embalagens individuais descartáveis e os utensílios são embalados; e o distanciamento deve ser mantido.
Sérgio Athié, dono do Athié Wohnrath Arquitetos, vê que essa é uma tendência e grande preocupação dos empregadores. Poucos profissionais voltaram ao ambiente, e a maioria dos restaurantes nas redondezas não abriram.
Em seu escritório, foi contratada uma pessoa para manejar a higienização e entrega de comidas. Eles também utilizam um aplicativo para agendar o horário de almoço e evitar aglomerações.
Athié conta que eles instalaram uma estação de reconhecimento facial para ter acesso ao local. Mas, segundo ele, isso não é regra: os investimentos e demandas para reformar o escritório são variáveis, pois muitas empresas não estão dispostas a pagar por itens que serão descartados passada a crise de saúde.
“Quando falamos de redesenhar o escritório, são poucas. Muitas vão esperar o próximo ano e a vacina para fazer algo pensando nas demandas pós-pandemia. Apenas mudando o layout e adaptando a higienização, a maioria já correu atrás disso”, fala ele.
Um exemplo de investimento de não se tornará permanente são as divisórias de acrílico.
Segundo Anarita Buffe, diretora de Desenvolvimento de Projetos e Consultoria do Hospital Israelita Albert Einstein, que tem ajudado as empresas nessa adaptação, elas não são obrigatórias. O distanciamento correto de 1,5m já é efetivo.
“As maiores preocupações de quem nos procura são o espaço e as pessoas”, diz Anarita Buffe, diretora do Hospital Albert Einstein, que dá consultorias sobre a retomada.
Na cartilha do Einstein estão sugestões que devem nortear a arquitetura de escritórios no futuro, como layouts das baias em zigue-zague para dificultar o caminho do vírus.
O escritório seguro é aquele em que se evita ao máximo pontos comunitários de contato, como botões ou maçanetas. A higienização de todas as superfícies precisa ser facilitada, então as mesas devem ficar limpas de papeis ou itens pessoais.
As janelas devem ficar abertas, ou o sistema de ar condicionado precisa ser limpo ou ter filtros adicionais. Intervenções visuais servem para comunicar os comportamentos novos, como setas para separar o fluxo de entrada e saída, assim evitando que as pessoas se cruzem, ou indicações de assentos alternados para se acomodar.
Outra prática indicada é que todo o equipamento de trabalho, como computadores e teclados, seja individual e o funcionário leve com ele para casa, o que facilita no rodízio de lugares e na limpeza.