Exame Logo

Autonomia total na Valve, dona do CounterStrike

Como trabalhar com liberdade e assumir o controle sobre suas decisões de carreira

Reprodução de Counter-Strike, da Valve (Reprodução)
DR

Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2014 às 19h29.

São Paulo - Com mais de 25 milhões de unidades vendidas desde que foi lançado, em 200, o videogame de tiroteio CounterStrike é um dos mais populares do mundo. Ao longo desse tempo, recebeu críticas por estimular o porte de armas e incitar a violência - a venda do jogo chegou a ser proibida no Brasil em 2008.

Bem menos famosa é a empresa que o desenvolve, a Valve Corporation, da cidade de Bellevue, no estado americano de Washington. Do ponto de vista da gestão, no entanto, essa firma de 300 funcionários tem um dos modelos mais inovadores do mundo: ela eliminou os chefes. E não fez isso no estilo de CounterStrike, na base da bala.

A empresa adotou um modelo de autonomia total no qual todos os empregados são igualmente responsáveis pelo resultado. Na visão da Valve, gestores servem para assegurar que as tarefas sejam executadas da maneira que a empresa definiu. Só que os fundadores da
Valve abominam processos.

Num negócio criativo, baseado em design , roteiro de cinema e tecnologia, fazer diferente vale mais do que fazer igual. Na Valve, todo funcionário pode aprovar orçamentos e escolher o projeto em que vai trabalhar. Só não há espaço para encostados. Quem não entrega está fora.

"Num ambiente de autonomia, quem não faz nada é expelido pelo grupo", diz o consultor Mauricio Goldstein, da Corall, de São Paulo. "Colegas são mais implacáveis que chefes, porque o resultado do time depende de cada um."

O modelo de gestão da Valve mira o principal alvo das aspirações profissionais no século 21: a autonomia. A liberdade de escolher o que e como fazer é vista, atualmente, como uma das mais importantes fontes de realização profissional.

Nos últimos 60 anos, pesquisas nas áreas da psicologia e da administração de empresas já identificaram que uma pessoa obtém resultados muito melhores quando assume a responsabilidade por suas escolhas profissionais.


As teorias do Y, da autodeterminação e das Âncoras de Carreira são exemplos de estudos sobre o assunto. No livro Motivação 3.0, o escritor americano Daniel Pink aponta a autonomia como um dos combustíveis pessoais mais importantes, ao lado do propósito e da excelência.

"O profissional trabalha motivado quando sente que está no comando, que é competente e que sabe por que está realizando aquele trabalho", diz o consultor Paulo Campos, professor do Afferro Lab, do Insper e da Sustentare, de São Paulo.

No dia a dia, essa aspiração emerge de maneiras muito diferentes. Pode ser a vontade de imprimir seu estilo na gestão da empresa. Ou a agonia por livrar-se da supervisão de chefes. O desejo de autonomia também está presente na possibilidade de decidir que emprego aceitar. Ou ainda na liberdade de escolher um trabalho pelos efeitos que ele produz na sociedade.

"A percepção de autonomia varia conforme a pessoa", diz Ana Luiza Lopes, pesquisadora e coordenadora de MBA da Coppead, escola de negócios do Rio de Janeiro. Em sua tese de doutorado, Ana Luiza entrevistou 25 profissionais, como engenheiros, advogados e especialistas em TI, e analisou como eles vivem a autonomia.

"Esse desejo pode aparecer tanto nas escolhas das tarefas cotidianas quanto nas decisões de carreira", diz Ana Luiza. Todo profissional deseja autonomia e tem algum medo dela também. A responsabilidade acompanha a liberdade, e nem todo mundo está disposto a assumir desafios maiores.

Mas dirigir a própria carreira é melhor do que delegar essa decisão ao acaso do mercado. "Autonomia na carreira é ponto de partida", diz Tania Casado, professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo e da Fundação Instituto de Administração.

Nesta reportagem, você descobre como conquistar a independência profissional, os sacrifícios que ela impõe e as vantagens que ela traz. Afinal, como escreveu o escritor argelino Albert Camus, autor do clássico universal O Estrangeiro, a liberdade não é nada senão a oportunidade de ser melhor. Veja como chegar lá.


1Assuma o comando

Autonomia não é apenas uma aspiração. "Ao longo da vida profissional, a pessoa pode ser forçada a assumir a contragosto uma atitude de independência", diz Ana Luiza. Trata-se de uma imposição do mercado de trabalho. O exemplo básico é o emprego.

O ideal é estar sempre criando condições de escolher o lugar onde trabalhar. A mesma pessoa pode ter condições de escolher um aspecto da autonomia e nada fazer em relação a outro. Por exemplo: ela pode ter muitas ofertas de emprego, mas todas elas envolvem trabalhos controlados de perto por chefes.

2O preço da liberdade

"Autonomia tem um preço", diz Caroline Pfeiffer, diretora de marketing, vendas e gestão da mudança da LHH/DBM, empresa de transição de carreira de São Paulo. Ao escolher um caminho independente, a pessoa renuncia a um tipo de conforto que a orientação dos chefes oferece.

"Tem muita gente que se queixa de falta de autonomia, mas ao mesmo tempo lamenta receber pouco apoio do chefe", diz Caroline. Não dá para ter as duas coisas. Viver de maneira independente também significa assumir maiores responsabilidades, tomar mais decisões e correr riscos.

3Avalie a empresa antes de começar

O nível de liberdade varia de trabalho para trabalho. Existem funções e profissões em que a pessoa tem mais liberdade de fazer sugestões e encaminhar as coisas da maneira que entende. Em outras, a flexibilidade é bastante restrita. Se a autonomia é importante para você, existe uma avaliação sobre o grau de independência que deve ser feita antes de aceitar uma proposta de emprego.

"O profissional precisa entender bem a rotina da empresa para fazer a escolha mais adequada às suas aspirações", diz  Caroline, da LLH/DBM.


4Quanto você quer ser o autor?

No dicionário, autonomia é definida como "a capacidade de se autodirigir", o que sugere que ela envolve liberdade e responsabilidade. No trabalho, a autonomia também está presente no desejo de o profissional ser reconhecido.

"Quando a pessoa diz que quer deixar uma marca, quando sente vontade de enxergar a própria contribuição no resultado da empresa, é autonomia o que ela busca", diz Eduardo Seindenthal, fundador da Rede Ubuntu, organização que ajuda pessoas no desenvolvimento de projetos profissionais e de vida, de São Paulo.

5Disciplina

Seja para fazer uma tarefa sem supervisão na empresa, seja para tornar-se consultor, o profissional que busca trabalhar com maior liberdade vai precisar ser muito disciplinado. Na empresa, uma série de controles — os processos, o expediente — ajuda o profissional a se organizar.

Quanto mais livre dessas amarras, mais o profissional precisará, por conta própria, criar maneiras de garantir que vai entregar o que prometeu. O exemplo mais simples é o do home offce. Trabalhar em casa só funciona se o desempenho não cair.

6Planejamento

Para ter autonomia, o profissional terá de se planejar mais. Assumir a responsabilidade significa investir mais em dizer com precisão o que é possível ou não de ser feito. Não se trata de palpite, mas de fazer as contas previamente e assumir apenas metas realizáveis.

Quando o laboratório AstraZeneca implantou o expediente com término às 14 horas nas sextas-feiras, há dois anos, poucos funcionários deixavam a empresa nesse horário. O hábito foi pegando aos poucos. "As pessoas aprenderam a se planejar para sair às 14 horas", diz Miguel Monzu, diretor executivo de recursos humanos e comunicação do laboratório AstraZeneca, de São Paulo.


7As trocas

A opção por um tipo de autonomia pode significar a perda de outro tipo. Por exemplo: um consultor, ao optar por trabalhar por projetos, fica livre das ordens de um chefe, mas torna-se mais pressionado por cumprir prazos. Outro ponto de vista: um profissional pode pautar sua escolha de emprego em algo que lhe dá satisfação pessoal muito forte, como trabalhar numa ONG de proteção ambiental.

No entanto, nessa instituição, ele pode assumir um trabalho mais burocrático do que tinha no emprego anterior. Como resultado, para exercer a independência de escolher o lugar para trabalhar, ele sacrificou uma rotina mais livre. "Tudo é troca", diz Tania Casado, da FEA/USP.

8A negociação

A conquista da autonomia é sempre negociada. A regra mais importante é que seja combinada antes. Não pode ser cada um faz o que quer. A autonomia exige diálogo. É a conversa que substitui os mecanismos de controle tradicionais, como o prazo de entrega, o relógio de ponto e os relatórios.

9Autonomia é diferente de fazer sozinho

Por mais independente que o profissional deseje trabalhar, ele vai precisar de ajuda para cumprir tarefas. Acessar as pessoas que têm conhecimento complementar ao seu é uma competência.

"Quando você é autônomo, precisa tomar mais decisões por conta própria", diz o consultor Mauricio Goldstein, da Corall. "E você precisa de pessoas para acertar nas decisões." Uma palavra da moda nas empresas hoje é interdependência. "Autonomia é a liberdade de operar num sistema interdependente", diz Mauricio.


10O aspecto positivo de ser dependente

Para o sociólogo americano Richard Sennett, autor do livro O Declínio do Homem Público, existe no mercado um discurso de exaltação da independência, e esse discurso tem um aspecto negativo por transformar a dependência numa condição tão negativa que as pessoas sentem até vergonha de depender, como se fosse uma fragilidade.

Na verdade, a dependência deveria ser encarada como parte da autonomia. "A pessoa realmente autossuficiente não se revela de modo algum tão independente quanto supõe os estereótipos. Ela é capaz de depender de outras quando a situação exige e sabe em quem convém confiar", escreve Sennett. "Quem tem vergonha de depender não aprende a confiar", diz Mauricio.

11O que é imprescindível

A maioria das atividades hoje em dia é complexa e exige interdependência. Sempre é necessário sacrificar algum aspecto da liberdade para ter outro. O desafio é identificar as partes do trabalho em que autonomia é imprescindível e as partes em que se pode ceder. Mas sempre existe uma contrapartida.  "É difícil encontrar um trabalho em que se faz tudo sozinho", diz Mauricio.

12Desistir não vale

Assumir a responsabilidade pela entrega de um resultado é uma atividade que deve ser considerada uma viagem sem volta. "Não vale desistir quando o bicho pega e devolver o problema para o chefe resolver", diz Miguel Monzu, diretor executivo de recursos humanos e comunicação do AstraZeneca. "Muita gente tem cabeça de liderado e precisa mudar essa mentalidade."

13Sem vigilância

A autonomia funciona melhor num ambiente favorável ao erro. Em empresas que não toleram o erro, a pessoa não terá espaço para ser livre. "Autonomia vigiada perde o sentido", diz Miguel. As pessoas estão acostumadas a trabalhar no modelo de gestão baseado no controle. É preciso interromper esse esquema. O primeiro passo é evitar a tentação de controlar as pessoas ao redor.

14Arrume um tempo para praticar

O principal ganho que a autonomia traz é o sentimento de ser dono do próprio destino. "Além de produzir um efeito motivador, a independência estimula a criatividade porque deixa que as pessoas procurem soluções em vez de esperar uma ordem", diz Mauricio Goldstein.

Um exemplo clássico é o da 3M, que dá aos funcionários 15% do tempo livre para que eles toquem projetos e busquem inovações. O excesso de trabalho limita a criatividade e inibe a responsabilidade.

Veja também

São Paulo - Com mais de 25 milhões de unidades vendidas desde que foi lançado, em 200, o videogame de tiroteio CounterStrike é um dos mais populares do mundo. Ao longo desse tempo, recebeu críticas por estimular o porte de armas e incitar a violência - a venda do jogo chegou a ser proibida no Brasil em 2008.

Bem menos famosa é a empresa que o desenvolve, a Valve Corporation, da cidade de Bellevue, no estado americano de Washington. Do ponto de vista da gestão, no entanto, essa firma de 300 funcionários tem um dos modelos mais inovadores do mundo: ela eliminou os chefes. E não fez isso no estilo de CounterStrike, na base da bala.

A empresa adotou um modelo de autonomia total no qual todos os empregados são igualmente responsáveis pelo resultado. Na visão da Valve, gestores servem para assegurar que as tarefas sejam executadas da maneira que a empresa definiu. Só que os fundadores da
Valve abominam processos.

Num negócio criativo, baseado em design , roteiro de cinema e tecnologia, fazer diferente vale mais do que fazer igual. Na Valve, todo funcionário pode aprovar orçamentos e escolher o projeto em que vai trabalhar. Só não há espaço para encostados. Quem não entrega está fora.

"Num ambiente de autonomia, quem não faz nada é expelido pelo grupo", diz o consultor Mauricio Goldstein, da Corall, de São Paulo. "Colegas são mais implacáveis que chefes, porque o resultado do time depende de cada um."

O modelo de gestão da Valve mira o principal alvo das aspirações profissionais no século 21: a autonomia. A liberdade de escolher o que e como fazer é vista, atualmente, como uma das mais importantes fontes de realização profissional.

Nos últimos 60 anos, pesquisas nas áreas da psicologia e da administração de empresas já identificaram que uma pessoa obtém resultados muito melhores quando assume a responsabilidade por suas escolhas profissionais.


As teorias do Y, da autodeterminação e das Âncoras de Carreira são exemplos de estudos sobre o assunto. No livro Motivação 3.0, o escritor americano Daniel Pink aponta a autonomia como um dos combustíveis pessoais mais importantes, ao lado do propósito e da excelência.

"O profissional trabalha motivado quando sente que está no comando, que é competente e que sabe por que está realizando aquele trabalho", diz o consultor Paulo Campos, professor do Afferro Lab, do Insper e da Sustentare, de São Paulo.

No dia a dia, essa aspiração emerge de maneiras muito diferentes. Pode ser a vontade de imprimir seu estilo na gestão da empresa. Ou a agonia por livrar-se da supervisão de chefes. O desejo de autonomia também está presente na possibilidade de decidir que emprego aceitar. Ou ainda na liberdade de escolher um trabalho pelos efeitos que ele produz na sociedade.

"A percepção de autonomia varia conforme a pessoa", diz Ana Luiza Lopes, pesquisadora e coordenadora de MBA da Coppead, escola de negócios do Rio de Janeiro. Em sua tese de doutorado, Ana Luiza entrevistou 25 profissionais, como engenheiros, advogados e especialistas em TI, e analisou como eles vivem a autonomia.

"Esse desejo pode aparecer tanto nas escolhas das tarefas cotidianas quanto nas decisões de carreira", diz Ana Luiza. Todo profissional deseja autonomia e tem algum medo dela também. A responsabilidade acompanha a liberdade, e nem todo mundo está disposto a assumir desafios maiores.

Mas dirigir a própria carreira é melhor do que delegar essa decisão ao acaso do mercado. "Autonomia na carreira é ponto de partida", diz Tania Casado, professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo e da Fundação Instituto de Administração.

Nesta reportagem, você descobre como conquistar a independência profissional, os sacrifícios que ela impõe e as vantagens que ela traz. Afinal, como escreveu o escritor argelino Albert Camus, autor do clássico universal O Estrangeiro, a liberdade não é nada senão a oportunidade de ser melhor. Veja como chegar lá.


1Assuma o comando

Autonomia não é apenas uma aspiração. "Ao longo da vida profissional, a pessoa pode ser forçada a assumir a contragosto uma atitude de independência", diz Ana Luiza. Trata-se de uma imposição do mercado de trabalho. O exemplo básico é o emprego.

O ideal é estar sempre criando condições de escolher o lugar onde trabalhar. A mesma pessoa pode ter condições de escolher um aspecto da autonomia e nada fazer em relação a outro. Por exemplo: ela pode ter muitas ofertas de emprego, mas todas elas envolvem trabalhos controlados de perto por chefes.

2O preço da liberdade

"Autonomia tem um preço", diz Caroline Pfeiffer, diretora de marketing, vendas e gestão da mudança da LHH/DBM, empresa de transição de carreira de São Paulo. Ao escolher um caminho independente, a pessoa renuncia a um tipo de conforto que a orientação dos chefes oferece.

"Tem muita gente que se queixa de falta de autonomia, mas ao mesmo tempo lamenta receber pouco apoio do chefe", diz Caroline. Não dá para ter as duas coisas. Viver de maneira independente também significa assumir maiores responsabilidades, tomar mais decisões e correr riscos.

3Avalie a empresa antes de começar

O nível de liberdade varia de trabalho para trabalho. Existem funções e profissões em que a pessoa tem mais liberdade de fazer sugestões e encaminhar as coisas da maneira que entende. Em outras, a flexibilidade é bastante restrita. Se a autonomia é importante para você, existe uma avaliação sobre o grau de independência que deve ser feita antes de aceitar uma proposta de emprego.

"O profissional precisa entender bem a rotina da empresa para fazer a escolha mais adequada às suas aspirações", diz  Caroline, da LLH/DBM.


4Quanto você quer ser o autor?

No dicionário, autonomia é definida como "a capacidade de se autodirigir", o que sugere que ela envolve liberdade e responsabilidade. No trabalho, a autonomia também está presente no desejo de o profissional ser reconhecido.

"Quando a pessoa diz que quer deixar uma marca, quando sente vontade de enxergar a própria contribuição no resultado da empresa, é autonomia o que ela busca", diz Eduardo Seindenthal, fundador da Rede Ubuntu, organização que ajuda pessoas no desenvolvimento de projetos profissionais e de vida, de São Paulo.

5Disciplina

Seja para fazer uma tarefa sem supervisão na empresa, seja para tornar-se consultor, o profissional que busca trabalhar com maior liberdade vai precisar ser muito disciplinado. Na empresa, uma série de controles — os processos, o expediente — ajuda o profissional a se organizar.

Quanto mais livre dessas amarras, mais o profissional precisará, por conta própria, criar maneiras de garantir que vai entregar o que prometeu. O exemplo mais simples é o do home offce. Trabalhar em casa só funciona se o desempenho não cair.

6Planejamento

Para ter autonomia, o profissional terá de se planejar mais. Assumir a responsabilidade significa investir mais em dizer com precisão o que é possível ou não de ser feito. Não se trata de palpite, mas de fazer as contas previamente e assumir apenas metas realizáveis.

Quando o laboratório AstraZeneca implantou o expediente com término às 14 horas nas sextas-feiras, há dois anos, poucos funcionários deixavam a empresa nesse horário. O hábito foi pegando aos poucos. "As pessoas aprenderam a se planejar para sair às 14 horas", diz Miguel Monzu, diretor executivo de recursos humanos e comunicação do laboratório AstraZeneca, de São Paulo.


7As trocas

A opção por um tipo de autonomia pode significar a perda de outro tipo. Por exemplo: um consultor, ao optar por trabalhar por projetos, fica livre das ordens de um chefe, mas torna-se mais pressionado por cumprir prazos. Outro ponto de vista: um profissional pode pautar sua escolha de emprego em algo que lhe dá satisfação pessoal muito forte, como trabalhar numa ONG de proteção ambiental.

No entanto, nessa instituição, ele pode assumir um trabalho mais burocrático do que tinha no emprego anterior. Como resultado, para exercer a independência de escolher o lugar para trabalhar, ele sacrificou uma rotina mais livre. "Tudo é troca", diz Tania Casado, da FEA/USP.

8A negociação

A conquista da autonomia é sempre negociada. A regra mais importante é que seja combinada antes. Não pode ser cada um faz o que quer. A autonomia exige diálogo. É a conversa que substitui os mecanismos de controle tradicionais, como o prazo de entrega, o relógio de ponto e os relatórios.

9Autonomia é diferente de fazer sozinho

Por mais independente que o profissional deseje trabalhar, ele vai precisar de ajuda para cumprir tarefas. Acessar as pessoas que têm conhecimento complementar ao seu é uma competência.

"Quando você é autônomo, precisa tomar mais decisões por conta própria", diz o consultor Mauricio Goldstein, da Corall. "E você precisa de pessoas para acertar nas decisões." Uma palavra da moda nas empresas hoje é interdependência. "Autonomia é a liberdade de operar num sistema interdependente", diz Mauricio.


10O aspecto positivo de ser dependente

Para o sociólogo americano Richard Sennett, autor do livro O Declínio do Homem Público, existe no mercado um discurso de exaltação da independência, e esse discurso tem um aspecto negativo por transformar a dependência numa condição tão negativa que as pessoas sentem até vergonha de depender, como se fosse uma fragilidade.

Na verdade, a dependência deveria ser encarada como parte da autonomia. "A pessoa realmente autossuficiente não se revela de modo algum tão independente quanto supõe os estereótipos. Ela é capaz de depender de outras quando a situação exige e sabe em quem convém confiar", escreve Sennett. "Quem tem vergonha de depender não aprende a confiar", diz Mauricio.

11O que é imprescindível

A maioria das atividades hoje em dia é complexa e exige interdependência. Sempre é necessário sacrificar algum aspecto da liberdade para ter outro. O desafio é identificar as partes do trabalho em que autonomia é imprescindível e as partes em que se pode ceder. Mas sempre existe uma contrapartida.  "É difícil encontrar um trabalho em que se faz tudo sozinho", diz Mauricio.

12Desistir não vale

Assumir a responsabilidade pela entrega de um resultado é uma atividade que deve ser considerada uma viagem sem volta. "Não vale desistir quando o bicho pega e devolver o problema para o chefe resolver", diz Miguel Monzu, diretor executivo de recursos humanos e comunicação do AstraZeneca. "Muita gente tem cabeça de liderado e precisa mudar essa mentalidade."

13Sem vigilância

A autonomia funciona melhor num ambiente favorável ao erro. Em empresas que não toleram o erro, a pessoa não terá espaço para ser livre. "Autonomia vigiada perde o sentido", diz Miguel. As pessoas estão acostumadas a trabalhar no modelo de gestão baseado no controle. É preciso interromper esse esquema. O primeiro passo é evitar a tentação de controlar as pessoas ao redor.

14Arrume um tempo para praticar

O principal ganho que a autonomia traz é o sentimento de ser dono do próprio destino. "Além de produzir um efeito motivador, a independência estimula a criatividade porque deixa que as pessoas procurem soluções em vez de esperar uma ordem", diz Mauricio Goldstein.

Um exemplo clássico é o da 3M, que dá aos funcionários 15% do tempo livre para que eles toquem projetos e busquem inovações. O excesso de trabalho limita a criatividade e inibe a responsabilidade.

Acompanhe tudo sobre:Ambiente de trabalhoComportamentoEdição 185Gamesgestao-de-negociosInovaçãoLiderançaMotivação

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Carreira

Mais na Exame