Hesse e Schnabl, da Automotive Mastermind: reunião em sala feita com sal do Himalaia (Harrison Hill/The New York Times)
Da Redação
Publicado em 18 de setembro de 2017 às 18h15.
Última atualização em 18 de setembro de 2017 às 18h15.
Os empresários em geral têm uma reputação de trabalhar longas horas para tocar seus negócios, o que pode levar seus funcionários a se desgastarem rapidamente.
Alguns instituíram atividades que parecem mais adequadas para um acampamento de verão: sessões de planejamento ao ar livre, reuniões em uma sala de sal, acordos sobre uma prancha de surfe. Podem parecer divertidas e relaxantes, mas foram criadas para serem produtivas.
Eric Tetuan tem o tipo de emprego, em Nova York, que poderia fazê-lo ficar no escritório 100 horas por semana e ainda pensaria sobre o trabalho todo o resto de suas horas acordado – e provavelmente algumas durante o sono.
Ele ama o que faz, o gerenciamento de uma empresa de eventos e produções chamada Production Glue, no centro de Manhattan. No entanto, alguns anos atrás, sentiu os efeitos da imensa carga de trabalho assumida por sua equipe. Percebeu que o moral das pessoas estava afundando, e os erros haviam aumentado. Então, começou a forçar os funcionários a sair para caminhadas, a andar de bicicleta ou apenas a sentar na beira do Rio Hudson.
Havia somente um problema: esses não eram momentos solitários para recarregar as energias, mas atividades compartilhadas com os colegas para discutir sobre o trabalho fora do escritório. Seu objetivo era aumentar a criatividade da Production Glue, um negócio que prospera criando espetáculos.
“Eu sabia que o problema não era supervisionar as tarefas; precisávamos de uma mudança holística na forma de encararmos o trabalho”, afirma Tetuan, um dos fundadores da empresa e seu principal diretor de inovação.
O que significava deixar o escritório para trás. “Existem várias distrações quando você está em uma sala de reuniões; em uma caminhada, estimulamos mais as ideias”, explica, afirmando que os trabalhadores ficam focados metade no encontro e metade em seus equipamentos.
Longe de imitar as vantagens muitas vezes ridicularizadas da indústria da tecnologia – como o Google recompensando seus funcionários com massagens ou com concertos do Spotify na hora do almoço –, esses empresários, com uma mão de obra que vai de um punhado de funcionários até várias centenas, estão usando abordagens pouco convencionais para melhorar o foco de seus colaboradores.
Estudos mostram que os funcionários buscam certos benefícios quando estão à procura de emprego. A maioria tende a ir atrás de vantagens mais tradicionais como seguro saúde, horas flexíveis e férias, segundo descobriu a agência de propaganda Fractl, de Delray Beach, na Flórida; mas benefícios mais elaborados como salas de jogos e passe para a academia de ginástica são importantes na hora de manter os empregados, de acordo com um estudo da agência de marketing Tecnology Advice, do Tennessee.
“Acima de um determinado nível de segurança financeira, as pessoas se preocupam com o fato de serem parte de uma comunidade e de sentir que são parte do trabalho. A visão mais importante sobre esses tipos de benefícios é que eles unem as pessoas e tornam as tarefas mais divertidas. Dessa maneira, aumentam efetivamente a motivação e o desempenho”, explica Jennifer Chatman, professora de Administração da Faculdade de Negócios Hass de Berkeley.
David Heath, um dos fundadores e executivo chefe da Bombas, startup que doa um par de meias para cada par que vende, diz que a empresa tem uma taxa de retenção de 96 por cento desde que foi fundada, em 2013. Ele atribui o baixo volume de mudanças no quadro de funcionários às reuniões feitas em locais não muito convencionais.
“Se as pessoas criam vínculos quando vão para a Soul Cycle ou para a manicure, isso estabelece um relacionamento diferente. São coisas que você normalmente faz com amigos e desenvolve o respeito”, explica.
“Mesmo dar uma notícia ruim, por exemplo, vem de um momento de empatia.”
Heath conta que a Bombas teve uma receita de US$70 milhões, que representa uma taxa de crescimento ano após ano de 500 por cento, e doou quatro milhões de pares de meias até agora. E que a retenção dos 37 funcionários da empresa durante esse período de crescimento tremendo tem sido a chave desse sucesso.
Heath diz que focou em “uma agenda espontânea”, que inclui marcar várias de suas reuniões mensais em lugares incomuns para que seus funcionários façam o mesmo.
Esse método de trabalho está funcionando para patrões e empregados, mas claramente há momentos e locais em que ela não dá certo.
Tetuan conta que todos os encontros criativos iniciais da empresa com os clientes acontecem em salas de reunião para acomodar todas as pessoas que precisam estar envolvidas no trabalho.
Lyss Stern, executiva chefe da Divalysscious Moms, empresa de marketing direto direcionada para pais, afirma que desistiu dos almoços longos e dos drinques depois do trabalho porque consumiam muito tempo. Seu local preferido de reuniões agora é uma sala de sal do Himalaia na Modrn Sanctuary, em Manhattan.
O piso de sal é antifúngico e antibacteriológico e algumas pessoas acreditam que pode ajudar em problemas respiratórios. Para outras, dá uma sensação de energização.
Nem todo mundo, porém, gosta de deixar uma reunião com poeira de sal no terno. “Se é um executivo chefe que não tem tempo e só quer se encontrar na própria sala de reuniões, então não funciona; ou se é alguém muito direto, muito conservador, pode não ser o tipo de encontro em que se deva pensar”, conta.
Ainda assim, ela tenta marcar reuniões ali sempre que pode. “Você se senta para a reunião, mas também está recebendo todos esses benefícios para a saúde mental. Está inalando sal seco, fazendo coisas benéficas para você e para os outros”, explica.
Outra possível desvantagem desses locais de reunião não convencionais é ficar fora do alcance dos próprios clientes que estão pagando pela caminhada, as horas de surfe ou as conversas na sala de sal. E uma grande quantidade de empreendedores hoje precisa permanecer sempre acessível.
Para Tetuan, tirar algumas horas longe do escritório – e dos clientes – é uma troca válida.
“Quando tenho essa hora para pensar sem ser incomodado, sou capaz de render muito mais ao longo do dia. Alguém pode passar duas horas nos procurando, mas, no final da semana, essa pessoa sabe que está conseguindo mais conosco do que com os outros”, afirma.
Sua atividade favorita de reunião é ciclismo de aventura com a equipe criativa, esporte não muito propício para mensagens de texto.
“Posso deixar o celular de lado e limpar minha cabeça. Não estamos ocupados dando respostas rápidas e essa pode ser a diferença entre US$100 mil e US$1 milhão”, explica Tetuan.
Paul Sullivan © 2017 New York Times News Service
The New York Times News Service/Syndicate – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.