Carreira

O que um péssimo chefe pode ensinar para a sua carreira

É possível extrair lições da situação negativa que é ter um chefe ruim, dizem especialistas. Saber que você consegue trabalhar com qualquer tipo de pessoa é uma delas


	Experiências  ruins com chefes anteriores podem servir de alerta para você não replicar determinados padrões no futuro
 (Getty Images)

Experiências  ruins com chefes anteriores podem servir de alerta para você não replicar determinados padrões no futuro (Getty Images)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 19 de abril de 2013 às 18h37.

São Paulo - É difícil que algum profissional nunca tenha se deparado com um chefe que considerasse péssimo ao longo da carreira. Intimidador, despreparado, centralizador ao extremo, indiferente. Qualquer destes perfis pode ser uma incômoda pedra no sapato na relação de trabalho e é capaz de tirar do sério até o mais paciente dos profissionais.

Mas, de acordo com especialistas consultados por EXAME.com, é, sim, possível tirar lições positivas e que podem ser levadas consigo ao longo da trajetória profissional quando se tem um gestor com qualidades negativas. 

“De todos os eventos negativos e traumáticos é possível tirar lições para viver que não ficam restritas simplesmente ao evento em si”, diz Eduardo Shinyashiki, consultor organizacional, escritor e palestrante. Confira então algumas delas:

1 Fortalecimento da autoconfiança e resiliência

De acordo com Shinyashiki um chefe intimidador, por exemplo, revela uma personalidade insegura na capacidade de atingir resultado. “Ele convida o outro a se desvalorizar também”, explica. O aprendizado trazido por uma situação deste tipo vai no sentido de saber se valorizar sem depender do outro. 

“Sobreviver” a um chefe carrasco pode fortalecer a sua autoconfiança e resiliência para fazer acontecer mesmo nas situações mais adversas, diz Fernando Jucá, sócio da Atingire. “Depois de ter passado um ano com um mau chefe, esse profissional terá certeza de que pode trabalhar com qualquer pessoa e lidar com qualquer equipe”, diz Jucá. 

“A lição é entender o quanto eu espero que os outros me validem, o quanto eu confio na minha capacidade de atingir resultado e como eu mantenho o foco e direciono todo o meu talento, minha energia para lidar com essa pressão”, explica o especialista.

Além disso, quem passa por isso também vai se questionar sobre seus próprios objetivos de carreira, o que é recomendável. “É ter claro se aquilo que eu estou fazendo é o que eu desejo”, diz Shinyashiki.


2 Saber dar limites

Você mal terminou um relatório e ainda há outras cinco tarefas urgentes por fazer. Em meio ao olho do furacão, seu chefe despeja mais trabalho e avisa: “quero tudo pronto para ontem”. Seu inimigo, o relógio já marca 18h30. Mais uma noite em claro, no escritório?

Chefes que deixam todo o trabalho a cargo de seus subordinados são bons termômetros da sua capacidade de dizer não. “Em momento algum é se eximir da responsabilidade, mas saber dar o limite e não agir como uma criança que tem medo de corresponder às expectativas”, diz Shinyashiki.

 Profissionais sobrecarregados são aqueles que sempre dizem sim, esperando que, um dia, o gestor perceba – sozinho - seus exageros. “Esperam que o chefe acorde para a vida”, explica Shinyashiki.

Se eu não fizer, serei um forte candidato à demissão, podem esbravejar alguns. Shinyashiki discorda. “Ouço muita gente dizer isso, mas o medo vai diminuindo a performance e o maior temor dessas pessoas vai se tornando a sua realidade”, explica. Ou seja, o fraco desempenho causado pelo medo pode acarretar em demissão.

3 Consciência dos erros que você não quer cometer quando for chefe

O sentido se dá pela negação. Ou seja, você pode aprender o real sentido de alguns valores a partir da ausência deles no seu chefe, segundo Jucá.

“Sofrer na pele é uma tremenda fonte de aprendizado para ter a consciência de erros que você não vai cometer quando for chefe”, diz Jucá. Ele conta que costuma ouvir de muitos executivos, durante programas de treinamento e workshops, que experiências ruins com chefes anteriores os ensinaram a não replicar determinados padrões no futuro. “Pode provocar o aprendizado dessa forma”, diz. 

Um chefe arrogante pode despertar em você a importância da humildade por oposição ao comportamento negativo dele. Trabalhar com um gestor que não reconhece o valor de seus subordinados pode revelar o impacto negativo desta atitude e fazer com que você prometa a si mesmo que quando for chefe vai agir de modo diferente.


4 Repertório estratégico para lidar com pessoas difíceis

Com o objetivo de manter a qualidade da relação de trabalho, profissionais podem desenvolver poderosas estratégias para lidar com um chefe difícil. E isso pode ajudá-los ao longo de toda a carreira. “Como o chefe é uma pessoa com quem o profissional lida continuamente, isso vai estimulá-lo a criar certas estratégias”, diz Jucá. 

Não falar quando está nervoso, não levar críticas para o lado pessoal, saber administrar o tempo são algumas das táticas que você pode lançar mão para que o expediente transcorra com o mínimo possível de sobressaltos. “O aprendizado maior é de Inteligência emocional”, lembra Jucá. 

5 Perceber que todos têm qualidades e defeitos

Por mais terrível que ele possa parecer, vasculhe um pouco o perfil do seu chefe e verá que por baixo de tantos defeitos existem também algumas qualidades. Afinal, ele não chegou onde está por pura obra do acaso. 

A conclusão é que não existem chefes só ruins ou só bons. Isso vai ser importante para que você perceba que precisa prestar atenção para que seus defeitos não sobrepujem suas qualidades a ponto de você mesmo receber a etiqueta de “mau” quando chegar a sua vez de liderar uma equipe. 

“É um aprendizado raro de se encontrar, são poucos os executivos que eu ouço dizerem isto, mas é o mais relevante e profundo de todos”, diz Jucá. 

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