Jacob Rosenbloom, CEO da Emprego Ligado: apenas neste ano, a empresa já fez mais de 2 milhões de convocações de candidatos para participar de entrevistas de emprego perto de casa (Paulo Pampolin / VOCÊ RH)
Da Redação
Publicado em 18 de dezembro de 2014 às 11h21.
São Paulo - Trem. Ônibus. Metrô. Casa. Para grande parte dos trabalhadores que vivem nas regiões metropolitanas do Brasil, essa rotina de transporte é diária. O deslocamento extenso faz com que cada um gaste horas de seu dia no trânsito. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 18,6% dos empregados nessas regiões levam mais de 1 hora por dia somente na ida de casa para o trabalho.
No Rio de Janeiro, o tempo médio gasto nesse trajeto é de 47 minutos; em São Paulo, 45,7 minutos. Esse desperdício de horas traz consequências negativas tanto para o trabalhador quanto para a empresa que o contratou, especialmente quando se trata de funcionário que ocupa cargo operacional. Está provado que, quanto maior o percurso entre a casa e o trabalho, maiores os índices de absenteísmo e turnover.
“Pelo padrão do mercado, cerca de 80% dos profissionais de funções operacionais tendem a deixar o emprego nos primeiros seis meses”, afirma Jacob Rosenbloom, CEO da Emprego Ligado, empresa especializada em divulgar vagas operacionais para as classes C e D, em São Paulo.
Rosenbloom foi um dos primeiros a perceber uma oportunidade diante desses números desagradáveis. A Emprego Ligado criou uma ferramenta de geolocalização que permite o encaminhamento de mensagens SMS aos celulares dos candidatos sobre vagas operacionais de trabalho em um raio de 4 quilômetros de sua residência.
Segundo Rosenbloom, atualmente mais de 60% dos contratados por meio desse serviço permanecem mais de seis meses no emprego. A empresa tem apenas dois anos e só entre janeiro e setembro deste ano já fez mais de 2 milhões de convocações de candidatos para participar de entrevistas de emprego perto de sua casa.
O negócio tem se mostrado tão promissor que no início de setembro a Emprego Ligado recebeu um aporte de 16 milhões de reais de um grupo internacional de investidores, formado por empresas como Monashees Capital, e.Bricks e Qualcomm Ventures.
O objetivo é a expansão da automação para ajudar as áreas de recursos humanos, clientes da empresa, como o grupo Sinal, uma rede de concessionárias de veículos.
Com um quadro de 2 500 funcionários, o grupo Sinal precisa preencher uma média de 90 a 100 vagas por mês de variados perfis para manter a força de trabalho.
Para os cargos operacionais, como porteiros, auxiliares de serviços gerais, faxineiros e técnicos em manutenção, a empresa, que já tinha como estratégia contratar pessoas para essas funções que morassem perto das unidades, passou a usar o serviço de geolocalizaçao e viu na ferramenta outro ganho.
“Ficou mais fácil encontrar esses profissionais”, diz Alexandre Vieira, coordenador da área de recrutamento e seleção do grupo Sinal. “Esse serviço nos poupa das atividades de triagem e do tempo gasto com ligações telefônicas.”
Um mercado em expansão
A Emprego Ligado não está sozinha nesse mercado. Há outras empresas que vêm lucrando com esse negócio. O site Easy Emprego é uma delas. Em funcionamento desde janeiro deste ano, o Easy Emprego também oferece serviços de geolocalização. O sistema identifica onde está o candidato pelos dados do computador ou CEP da residência e mostra em um mapa as vagas mais próximas dele.
Em pouco tempo de atuação, o site já conta com 600 empresas clientes e mais de 10 000 usuários cadastrados nas principais capitais brasileiras. O faturamento vem crescendo à ordem de 50% ao mês, segundo Renan Godinho, sócio-fundador do Easy Emprego.
Assim como a Emprego Ligado, a maior parte dos anúncios de emprego é para vagas operacionais, mas a plataforma também comporta vagas para outros perfis. “Oferecemos ainda oportunidades para pessoas que procuram trabalhos esporádicos e voluntários”, afirma Godinho.
Há quem já ofereça esse serviço especificamente para um nicho. A Conquest One se especializou na seleção de profissionais para o setor de tecnologia da informação. Por meio de um sistema de big data, a consultoria faz pesquisas de relevância em um conjunto de dados para encontrar os candidatos mais alinhados às empresas.
Entre os critérios analisados, como formação e fluência em idiomas, a distância entre a residência e o local da vaga ou do projeto também faz diferença. “A proximidade é importante fator de escolha.
Há profissionais abrindo mão de um percentual do ganho para trabalhar mais próximo”, diz Marcelo Vianna, sócio-diretor da Conquest One. A solução de big data foi implantada em abril e, até setembro, houve um aumento de 40% no fechamento de vagas.
Fundada em 1996 e pioneira no segmento de classificado online de empregos no país, a Catho foi responsável no ano passado por 184 000 contratações. A plataforma conta com mais de 1 milhão de currículos ativos. Com faturamento de 230 milhões de reais ao ano e portfólio de 85 000 empresas que já publicaram vagas no portal, a Catho também vai entrar no mundo da geolocalização.
Ainda neste ano, a empresa deve lançar uma solução para que as empresas possam identificar profissionais próximos de suas bases. Segundo Luís Testa, líder de pesquisa e estratégia da Catho, dos seis times de desenvolvimento da Catho, um já está exclusivamente dedicado à solução de geolocalização.
“Temos certeza de que o uso desse tipo de ferramenta aumentará”, afirma Testa. Para ele, o principal motivo do uso desse serviço é reduzir a rotatividade dos profissionais nas empresas. “O trabalho perto de casa gera maior satisfação e é um dos principais fatores de permanência do empregado na empresa.”
Fugas alternativas
Além do sistema de geolocalização, que já caiu no gosto das empresas, há alternativas mais comuns — mas não menos eficientes — adotadas pelas companhias para diminuir o tempo que os funcionários perdem no trânsito.
Ao mudar sua sede da Vila Olímpia, zona sul de São Paulo, para Barueri, em 2012, a AES Brasil precisou repensar sua logística. Para não correr o risco de perder parte dos 1 449 funcionários que precisaram se transferir, a empresa implementou 30 linhas de ônibus fretados que contemplam 27 localidades, incluindo todas as regiões da cidade de São Paulo, municípios do ABC, entre outros.
Com a mudança da sede, foi estabelecido também um novo horário de trabalho, das 7 às 16 horas, puxado para mais cedo e descolado do período de maior pico no trânsito, para que as pessoas pudessem usar o fretado e aproveitar melhor o tempo em atividades pessoais.
Hoje, quase metade dos funcionários da sede utiliza o serviço. Somado a isso, a AES Brasil oferece ônibus em horários alternativos — 15 e 19 horas — que vão da sede até a estação Barra Funda do Metrô. No horário do almoço, há uma linha de fretados para o centro comercial de Barueri.
A Gol adotou outra rota para tornar a vida de alguns funcionários menos estressante e as atividades mais eficientes. Dos 1 500 operadores de atendimento da companhia aérea, 936, ou seja, 62% do quadro, trabalham no sistema home based, estratégia que permite que os empregados trabalhem sempre de casa, com jornada de 6h20, com 40 minutos de descanso.
“O projeto home based permitiu redução de custos para a empresa, qualidade de vida para os funcionários e satisfação aos clientes”, afirma Jean Carlo Alves Nogueira, diretor de RH da companhia aérea. O controle de entrada e saída é feito por meio de sistema online, que também permite que os gestores observem as atividades de seus funcionários.
Os atendentes home based se comunicam com os clientes via chat, e-mail e telefone. “A alternativa não apenas elimina o tempo de deslocamento entre a casa e o trabalho como também abre o mercado de trabalho para pessoas com dificuldade de locomoção e ajuda na redução da saturação do transporte público”, diz Rogério Castro Pereira Nunes, diretor de relacionamento com cliente da Gol.
O quadro de funcionários da companhia aérea conta com mais de 15 000 pessoas, que estão espalhadas em mais de 65 localidades. São mais de 5 000 em voos, além dos empregados administrativos que se concentram na base, em Congonhas.
Com todo esse tamanho e complexidade, buscar trabalhadores que morem perto não chega a ser um critério para contratações. “Mas, se pudermos unir a localização do candidato à sua competência para ocupar o cargo, melhor”, diz o diretor de RH.