São Paulo - O primeiro passo na construção de uma apresentação é entender quem é a sua audiência. Parece óbvio? Mas tem gente que se esquece desse (grande) detalhe, segundo Rogério Chequer, sócio da SOAP - State Of the Art Presentations.
“Muitas pessoas fazem apresentações em que falam para elas mesmas", diz. "Também acham que saber os cargos das pessoas para quem vão fazer a apresentação já é suficiente, mas não é”.
Ele e Eduardo Adas, também sócio da SOAP, sugerem que o apresentador faça um raio-x do perfil da plateia. Quem é o público alvo? Além da idade, gênero, cargo, quais são seus valores e quais as suas objeções?
Tudo isso deve ser levado em conta na hora de alinhar o conteúdo e construir o discurso, que, lembre-se, deve ser voltado, sempre, para a plateia (e não para você mesmo).
Ok, mas feito isso, o apresentador está livre de encarar os chatos e “cricris” da plateia? Não, dizem Chequer e Adas. Ao mostrar que conhece seu público você quebra algumas barreiras e cria empatia, mas não se livra dos chatos.
“Muito da plateia o apresentador vai aprender durante o encontro”, diz Chequer. E para quais tipos de pessoas o apresentador deve se preparar para encarar? Veja os principais tipos de chatos e as estratégias para lidar (bem) com eles:
1 O pessimista
Como ele age: considera que o discurso do apresentador não serve para ele e também não se aplica à realidade.
O que fazer: empatia é a palavra-chave para interagir com o pessimista. É mostrar que o entende. “O que não significa concordar com ele”, diz Adas.
Além disso, o especialista recomenda ir direto ao ponto. Comece a apresentação fazendo perguntas para investigar as crenças da plateia. Em seguida, traga a sua visão sobre o tema, deixando claro que respeita as crenças e valores do seu público.
2 O sem expressão
Como ele age: faz cara de paisagem e não esboça nenhuma reação.
O que fazer: quem vê cara não vê coração, diz o ditado. Portanto, não conclua, de antemão, que a apresentação não agrada. A recomendação dos dois especialistas é ter cuidado com suas suposições. “O apresentador tende a se afetar negativamente, mas cada pessoa tem uma forma de reagir e de prestar atenção”, diz Chequer.
Fazer uma pergunta para essa pessoa pode ser uma estratégia para tentar engajá-la. Chequer também sugere mudar o ritmo da apresentação, o tom de voz, como forma de testar se há mudança na reação.
3 O sabichão
Como ele age: coloca o apresentador à prova o tempo todo, seu comportamento é desafiador, o que é bem chato. Pode ser um risco para a atenção dos outros.
O que fazer: “ao identificar este perfil, minha recomendação é fazer a apresentação o mais breve possível e dizer que ao final dela será aberto um momento para perguntas”, diz Adas.
De acordo com ele, é uma forma de tentar inibir interrupções, embora não elimine esta possibilidade por completo. Ao ser interrompido, seja assertivo. “Diga que o tema sai da linha e que é preciso voltar ao trilho principal”, diz Chequer.
4 O questionador
Como ele age: faz muitas perguntas, algumas em hora errada. Há os que perguntam “para mostrar serviço” e aqueles que, naturalmente, são cheios de dúvidas.
O que fazer: Novamente, a recomendação é explicar que ao final da apresentação haverá espaço para perguntas. Quando as dúvidas são genuínas é mais fácil de lidar e controlar o tempo da sua resposta. Tantas perguntas, diz Adas, trazem até vantagem para o apresentador. “É uma pessoa mais transparente, dá para saber o que se passa na cabeça dela”, diz o especialista.
5 O colegial
Como ele age: conversa com colegas o tempo todo atrapalhando a concentração dos outros e do apresentador.
O que fazer: Dispersão do público pode ser um sinal de que a apresentação não está no rumo certo. Por isso, é sempre bom fugir da rigidez e ter sempre um plano B de roteiro na manga, segundo os dois especialistas.
De acordo com Adas, uma boa apresentação deve ter um conteúdo relevante aliado a uma história impactante. Por isso, se a dispersão é geral entre o público-alvo, aposte em mudanças no roteiro porque, claramente, algo não vai bem e a culpa pode ser sua. Caso sejam conversas de pessoas não envolvidas diretamente com a palestra, a saída é pedir, elegantemente, por silêncio.
6 O orientador
Como ele age: diz o que o apresentador deve fazer todo o tempo. É um tipo raro, mas pode aparecer, sobretudo, na figura do responsável pela organização da apresentação.
O que fazer: Uma reunião de alinhamento antes da apresentação é essencial para evitar problemas e deixar o organizador mais tranquilo.
Segundo Chequer, dar destaque ao trabalho de preparação realizado por esta pessoa também pode ajudar, se a questão estiver mais relacionada à necessidade de atenção.
7 O que não desliga nunca
Como ele age: não desgruda os olhos da tela do smartphone ou tablet, checa emails e atualiza status em redes sociais.
O que fazer: “Eu mudei minha opinião com o tempo. Hoje em dia pedir para desligar celular não é mais real”, diz Adas. Os dois especialistas lembram que se a apresentação for relevante e com uma boa história vai, naturalmente, prender a atenção do público durante a maior parte do tempo.
8 O soneca
Como ele age: Boceja, pisca longamente, demonstrando seu cansaço e sono.
O que fazer: Em plateias grandes é natural que haja pessoas cansadas, afirmam Adas e Chequer. Caso seja uma minoria, não se deixe influenciar negativamente. Mas se o número de pessoas visivelmente com sono for grande, a luz vermelha acende para a sua apresentação. Pode ser a hora certa para lançar mão de estratégias para atrair a atenção e engajar a audiência.
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1. Apresentações interessantes
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1/10 (Getty Images)
São Paulo - A fórmula de
apresentação clássica no Powerpoint (ou Keynote, como queira) pode estar com os dias contados. Pelo menos se depender de algumas das palestras mais incríveis já feitas nos palcos da conferência TED. EXAME.com pediu para Alexandre Franzolim, diretor de criação da
MonkeyBusiness, selecionar algumas das apresentações mais incríveis do TED e dar dicas sobre como adaptar as ideias ao contexto da
carreira – sem que você perca o próprio estilo. “Um palestrante perfeito tem que ser quem ele é. Ele se comunica de forma clara e assertiva”, afirma o especialista. Sem se deixar engessar por algumas técnicas.
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2. Palestra com gingado
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“A dança pode, realmente, tornar a ciência mais fácil de se entender”. Com esta premissa em mãos, o cientista John Bohannon dividiu o palco do TED com os bailarinos da companhia Black Label Movement para explicar alguns conceitos científicos e sua teoria sobre apresentações. Lição 1: “A plataforma não dita regras. Quem dita é o palestrante”, afirma Franzolim. Por isso, antes de fazer a próxima apresentação, questione-se se o PowerPoint é realmente a ferramenta adequada para o contexto e assunto em questão. Há diferentes formas de apresentar um mesmo conteúdo – mesmo quando você usa as ferramentas convencionais.
Lição 2: A harmonia e sintonia da palestra, provavelmente, custaram muitas horas de ensaio para os bailarinos e para Bohannon. Mesmo sem ter que arriscar passos de dança em um palco, como eles, o preparo prévio à apresentação é fundamental. “Quando você pratica, tudo flui naturalmente”, afirma o especialista. E os hiatos e divagações sonoras tendem a diminuir.
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3. A palestra como experiência
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Mais do que suprir o público de informações, o objetivo do maestro Benjamin Zander era levar a plateia a experimentar a música para, então, defender sua tese sobre música erudita e paixão. Para isso, ele leva um piano ao palco. Lição 1: Novamente, não é preciso uma apresentação de slides para fazer uma palestra ou conduzir uma reunião. Mas não é só isso. “O piano não é um instrumento de percepção visual, mas sim auditiva”, afirma o especialista. E isso faz toda a diferença para a maneira como a plateia apreende as informações passadas. Lição 2: Foco na plateia é outro atributo essencial de uma boa apresentação. “Em diversos momentos, ele se volta para a plateia e mesmo quem não entende música clássica consegue perceber as características”, diz Franzolim.
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4. O palestrante como (quase) protagonista
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Depois de lançar seu livro “O poder dos quietos” (Editora Agir), a introvertida autora Susan Cain partiu em uma jornada de cursos para aprender a fazer boas apresentações. O esforço deu certo. Lição 1: “Ela faz um paralelo entre a vida pessoal e um assunto técnico”, descreve o especialista. Segundo ele, é mais fácil conquistar as pessoas quando você alia o conteúdo a um aspecto emocional. “È um laço humano. É o molho que faz toda a diferença”. Lição 2: Apesar do tom dócil com que conduz a palestra, Susan surpreende em vários momentos – seja quando canta e dança ou quando mostra a mala, o único objeto que leva ao palco.
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5. Um “Harlem Shake” dos dados
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Nesta palestra, o estatístico Hans Rosling quebra com todos os estereótipos e tradições na hora de apresentar dados. Inspirado nos narradores esportivos, “ele praticamente não respira, não faz pausas e emenda um dado a outro”, descreve o especialista. Com isso, os números, antes destinados a amorfa estrutura do tédio, ganham vida e um roteiro para lá de dramático. Lição: “Cada gráfico, antes de ser gráfico é uma informação”. E que não necessariamente precisa ser exibido em barras ou outras estruturas convencionais. Outra dica é aprender a selecionar os números que pretende exibir. Se a ideia é mostrar o quanto a empresa cresceu nos últimos anos, por exemplo, um slide que ilustre este crescimento com um único número pode ser suficiente.
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6. Sócrates para o expediente
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“Quando navega contra o vento, um barco não faz o percurso em linha reta, mas vai em ziguezague”, afirma Franzolim exemplificando um conceito básico da dialética socrática. E é com base nesta lógica que Enio Ohmay, CTO e CXO da Education First, compôs sua apresentação. “Ele conta pequenas histórias que poderiam ser contadas isoladamente, mas que mostram uma continuidade”, descreve o especialista. “Ele supre a plateia de algumas estórias e depois dá uma conclusão”. A estratégia é válida para apresentações em que é necessário defender uma tese. “Você supre a audiência de exemplos que valem como justificativas”, diz. Lição: Crie um roteiro para a sua apresentação. “Não há uma fórmula matemática. Você precisa aprender a construir de acordo com seus objetivos e o material que você tem que apresentar”, afirma o especialista.
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7. O método de Lessig
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Para apresentar esta palestra, o professor Gil Giardeli baseou-se nos princípios do método de Larry Lessig, um dos fundadores do Creative Commons. “É um método muito louco, parece um ataque epilético de slides”, brinca Franzolim. “È quase um slide por frase”. Para quem adere a esta estratégia, o slide não pode ser repleto de informações. “Tem que ter pouco texto”, diz o especialista. Palavras chaves, números ou mensagens quase telegráficas são uma boa medida. Afinal, a ideia é mais reforçar o que o palestrante está falando. Lição: Por ser tão dinâmico, o método de Lessig praticamente proíbe que o orador leia os slides. Mesmo sem usar esta estratégia, ler slides pode ser um tiro no pé. É essencial estabelecer um contato visual com a plateia – seja para mensurar a recepção dela ao conteúdo quanto criar um vínculo e prender a atenção. Mas isso exige treino. “A sincronia é forte porque ele praticou muito”, diz o especialista.
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8. Carisma e conversa
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De acordo com Franzolim, nesta palestra, o músico
Bono Vox se aloca no meio termo entre o método de Lessig e o drama de dados de Hans Rosling. “Ele lembra muito o estilo de Steve Jobs: alternando o discurso com os gráficos”, diz o especialista. A estrutura da narrativa segue o esquema da pirâmide de Freytag. “Ele fala sobre as boas notícias e quando o clímax acaba, ele conclui mostrando os obstáculos para que isso aconteça”, diz o especialista.
Lição: O ponto alto do vídeo, segundo Franzolim, é o carisma e a naturalidade de Bono. “É como se ele estivesse conversando, ele é espontâneo”, afirma. Mas ninguém precisa copiar o líder da banda U2 para cativar a plateia. Ao contrário. “Você não tem o dever de ser outra pessoa”, diz o especialista. “Você não precisa ser a pessoa mais legal do mundo, mas se fizer a apresentação de uma maneira clara, as pessoas vão gostar”.
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9. O X da questão
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Você já parou para pensar por que usamos a letra x para descrever o que é desconhecido? Terry Morre, diretor da Fundação Radius, refletiu sobre o assunto e compartilhou as descobertas em um dos palcos do TED. Lição: “Ao começar a apresentação com uma dúvida, você prende a atenção. Você coloca um ponto de interrogação e conduz a palestra até chegar à resposta”, descreve Franzolim.
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10. Agora, veja se seu chefe saiu de uma série de TV
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10/10 (Divulgação)