7 carreiras com horários malucos
De advogado criminal passando por engenheiro das plataformas de petróleo e controlador de tráfego aéreo: confira como funcionam os expedientes com horários alternativos
Talita Abrantes
Publicado em 17 de agosto de 2012 às 18h38.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h19.
São Paulo – É sexta-feira começar para muitos profissionais por aí iniciarem uma espécie de contagem regressiva coletiva para o fim de semana. Mas, Brasil afora, muita gente raramente irá participar deste tipo de movimento. Em algumas profissões , a ideia de sábado e domingo como sinônimo de dias de folga é ficção ou história de um reino muito, muito distante. Horário comercial então? Nem pensar. Para manter a segurança do tráfego aéreo, garantir a defesa de suspeitos de crimes ou as turbinas da extração de petróleo funcionando, muitos profissionais encaram um expediente muito diferente do clássico das 9 às 18h, cinco dias úteis por semana. EXAME.com conversou com pilotos de avião, jornalistas e auditores, entre tantos outros para mostrar como é a rotina de quem decidiu tocar sua carreira em horários (bem) alternativos. Clique nas fotos acima e encha-se de orgulho da sua rotina (ou de inveja de quem está longe dos horários de pico de trânsito e coisas que só o horário comercial pode proporcionar).
Toda vez que um suspeito de um crime é preso, um advogado criminal, provavelmente, treme nas bases. Não porque ele não queira cumprir seu dever e garantir o direito de todo cidadão à defesa perante a lei. Mas porque ele pode ser chamado a qualquer momento, em qualquer dia da semana para fazer seu trabalho. Essa é a rotina da equipe do advogado criminalista Roberto Podval, conhecido por ter defendido o casal Nardoni perante o júri. “A gente trabalha um pouco como médico. Afinal, a qualquer momento alguém pode ser preso, pode ter busca e apreensão na casa de um cliente”, descreve. “A prisão do cliente não pode ser decretada e ninguém te encontrar”. Esta realidade limou, até, um benefício da equipe do escritório de Podval. “Todos os anos, a equipe de advogados fazia uma viagem juntos em um navio. Nos últimos dois anos que fizemos isso, sempre alguém teve de abandonar o navio para cuidar de algum caso”, conta. “Agora, fazemos só um almoço de final de ano”.
Com a missão de manter o tráfego de aviões em ordem (e consequentemente prevenir acidentes), os controladores de tráfego aéreo ficam ligados 24 horas por dia, sete dias por semana no que rola nos céus do Brasil. “Essa é uma profissão que exige uma visão pontual, raciocínio e tomadas de decisão rápidas o tempo todo”, afirma o capitão Paulo Sérgio de Jesus Barcellos, chefe da seção de instrução e atualização técnica do Centro de Gerenciamento de Navegação Aérea e presidente da junta de julgamentos da Aeronáutica. Por conta disso, neste tipo de função, jornadas de trabalho superiores a oito horas são vetadas. Mais de (cerca de) duas horas desempenhando a mesma função, também. Desta forma, todos os dias, as equipes que atuam nas torres de controle dos aeroportos, nos centros de controle de aproximação e nos centros de controle de área dividem seu trabalho em três turnos de 8 horas cada – que são revezados pela equipe. Neste período, descontadas as horas de descanso, o controlador de tráfego aéreo faz um revezamento de funções. “Dependendo do número de recursos humanos disponível, ele pode trabalhar, por exemplo, duas horas como controlador, ter um período de descanso, depois como assistente de controlador e, por fim, como coordenador”, afirma o capitão Barcellos. “Ao final de uma jornada de três sequências de oito horas, o controlador tem uma folga”, conta. Que pode ser durante o fim de semana, feriados ou dias úteis mesmo.
Em 15 anos de carreira como comissária de bordo da TAM, Alessandra Costa (ou comissária Tamiza) passou apenas quatro natais ou réveillons com a família. Os outros onze foram a bordo de um avião. O que para muita gente pode ser significado de pesar (e reclamação), para ela é satisfação. “Como nós, muitas vezes, o passageiro também está longe da família nestas datas. É gratificante atendê-lo nestas ocasiões”, afirma. Foi bem na virada do ano de 2008 para 2009, em uma decolagem em Paris, que o comandante Euler de Souza teve um dos momentos mais marcantes de sua carreira. “Fizemos uma curva em direção à Torre Eiffel e, neste momento, começou a queima de fogos”, conta. “Se tivesse cronometrado não teria dado tão certo”. Por lei, a jornada de trabalho de um aeronauta varia de acordo com o tipo de tripulação que ele integra. Essas jornadas variam de 11 a 20 horas. O período de repouso correlato de 12 a 24 horas – dependendo do tipo de jornada que o profissional desempenhou. Se estiver longe de casa, o tripulante tem direito à acomodações e transporte para o aeroporto. São nestes períodos, afirmam os dois profissionais, que é possível, sim, conhecer o mundo. Geralmente, a escala de voos do mês é entregue para a tripulação do avião nos últimos dias do mês anterior. “Nossa vida é desregrada, mas é programada”, afirma o comandante. No mínimo, os aeronautas têm direito a oito folgas por mês. Destas, pelo menos duas devem ser juntas e cair em um fim de semana. “Quem trabalha em avião nasceu para isso”, diz a comissária Tamiza. “Às vezes, tem o aniversário de alguém e você não pode ir, é triste, mas você tem que ser resiliente. A profissão tem muitos ganhos: a cidade está com aquele trânsito e você de folga, tem a cultura e o conhecimento de outros países”.
Os profissionais da Petrobras que atuam nas plataformas de petróleo da companhia encaram, em média, 14 dias de trabalho (e vida) em alto mar. A jornada de trabalho tem duração de 12 horas. Mas, após este período, não dá para voltar para casa. O tempo livre deve ser exercido ali mesmo, na plataforma. Para isso, as embarcações dispõem de áreas de convivência. Em algumas, é possível até nadar – em uma piscina, não em alto mar. Segundo informações da área de Exploração e Produção da Petrobras, todos os funcionários, contudo, ficam em regime de sobreaviso após o expediente. Na prática, isso significa que se algum pintar alguma urgência, todos podem ser convocados para voltar aos seus postos. O regime de folgas é o que, provavelmente, faz os olhos de muita gente brilhar. A cada dia de trabalho, o empregado tem um dia e meio de folga. Ou seja, se o profissional trabalhar 14 dias tem a garantia de 21 dias de folga.
Independente do horário e dia da semana, onde um fato relevante para a sociedade acontecer, um jornalista deve estar por perto (mesmo que por telefone) para noticiar. Durante pouco mais de quatro anos, a rotina do repórter Cláudio Junqueira foi passar as madrugadas na redação da rádio Bandeirantes para cobrir o que acontece nas altas horas da noite paulistana. O expediente começava às 2 horas da manhã e só terminava às 9 horas. Neste período, o mais difícil não era driblar o sono, ele afirma, mas sim garimpar as informações. “É muito mais difícil encontrar pessoas para entrevistar. O trabalho é você e você, não tem um produtor para ajudar”, afirma. Ele conta que, certa vez, houve um tumulto no final de uma partida do time de futebol São Caetano, no México, e não havia nenhum repórter brasileiro no local. A solução foi passar duas horas ligando para todos os hotéis até encontrar o time brasileiro para ter informações. Mas nem sempre a apuração tem um final feliz assim. Em outro dia, chegou a informação na redação de que um delegado havia sido baleado. Ele procurou o nome da vítima na lista telefônica e um homem com o mesmo nome atendeu, era o pai do delegado baleado.
“É um constrangimento acordar uma pessoa no meio da madrugada com uma notícia dessas”, afirma. Mas o horário também tinha itens de fazer inveja para todo jornalista que encara uma sexta-feira mais longa para deixar algumas reportagens prontas para o fim de semana: “Às 9 horas da manhã de sexta-feira começava meu fim de semana”, conta. “Mas domingo, às 2 horas da manhã, já tinha que entrar para trabalhar”.
“É um constrangimento acordar uma pessoa no meio da madrugada com uma notícia dessas”, afirma. Mas o horário também tinha itens de fazer inveja para todo jornalista que encara uma sexta-feira mais longa para deixar algumas reportagens prontas para o fim de semana: “Às 9 horas da manhã de sexta-feira começava meu fim de semana”, conta. “Mas domingo, às 2 horas da manhã, já tinha que entrar para trabalhar”.
Quando o assunto é horários alternativos de trabalho, provavelmente, os médicos são a primeira imagem que vem à mente de muita gente. Dependendo da senioridade e especialidade do médico, o conceito é verdadeiro, sim. No pronto atendimento do Einstein, onde Alvarenga trabalha, os turnos de trabalho tem duração de 12 horas e, evidentemente, se estendem durante todos os dias da semana. Aos novatos, geralmente, são dedicados os turnos menos populares de plantão – como noites, madrugadas e finais de semana. “Quanto mais antigo no hospital, menor o número de plantões durante o fim de semana e noites”, diz o médico. Mesmo assim, pelo menos, a cada 15 dias, todos ficam de plantão no fim de semana. Segundo o especialista, geralmente, os médicos são contratados para trabalhar 30 horas por semana. O que, na prática, significaria dois plantões e meio no esquema do pronto atendimento. Mas a rotina profissional, neste caso, não se restringe às horas dedicadas ao hospital. “De uma maneira geral, trabalhamos 60 horas por semana contando o tempo no hospital e consultório”, diz Marcelo Alvarenga, clínico geral e endocrinologista do Hospital Israelista Albert Einstein.
Responsável por checar em minúcias a avalanche de dados que toda empresa deve informar em seus balanços trimestrais e anuais, além de outros documentos exigidos por lei, os auditores também possuem um rotina bem atípica. “Você nunca faz a mesma coisa todos os dias”, diz José Domingos, sócio líder da área de auditoria da Deloitte. E o trabalho não é dividido de maneira igualitária ao longo dos meses. Tudo depende dos projetos que a equipe está tocando. Segundo Domingos, geralmente, a carga de trabalho fica mais concentrada entre 15 de janeiro a 15 de março, além dos 15 dias após o fechamento de um trimestre. “Nestes períodos, há um volume grande de horas extras”, diz. “Os profissionais que trabalham na análise de dados, muitas vezes, varam a noite num processo de auditoria. Em alguns dias, passam de 15 a 18 horas para terminar um projeto”, afirma Ricardo Barcelos, da consultoria de recrutamento Havik. No resto do ano, exceto quando uma empresa contrata a consultoria para outros pedidos específicos, a rotina tende a ser mais leve. “Os horários são mais flexíveis e é possível até coordenar os estudos, para quem está começando a carreira”, afirma Domingos.
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