(miflippo/Thinkstock)
Claudia Gasparini
Publicado em 7 de novembro de 2016 às 15h00.
Última atualização em 7 de novembro de 2016 às 15h00.
São Paulo — Aperfeiçoar o inglês, dar um passo estratégico na construção de uma carreira internacional e, de quebra, ganhar em dólar: não faltam boas razões para buscar uma experiência profissional nos Estados Unidos.
O que muita gente ignora é que a aventura exige, em contrapartida, doses cavalares de esforço, dedicação e paciência.
De acordo com Pedro Drummond, sócio da consultoria Drummond Advisors, o processo de expatriação apresenta desafios de diversas naturezas. Além da dificuldade de regularizar a sua situação jurídica e tributária no novo país, é preciso ultrapassar inúmeras barreiras culturais e linguísticas.
Esses obstáculos se apresentam de forma "democrática" — atingem tanto o jovem recém-formado quanto o executivo de cabelos brancos. “As dificuldades existem para todos, sem distinção por grau de senioridade, nível hierárquico ou porte da empresa”, diz Drummond.
Veja a seguir os 4 grandes desafios de um profissional brasileiro em terras ianques, e como driblá-los, na opinião de três especialistas no assunto:
1. Navegar pela burocracia da imigração
A primeira dificuldade enfrentada pelo profissional que vai emigrar para os Estados Unidos já começa em território brasileiro. Após conseguir uma oferta de emprego no país, é preciso compreender as diferenças entre os tipos de vistos e green cards e então avaliar o tipo de documento mais adequado para o seu perfil.
Em seguida, feita a petição de imigração, é preciso agendar uma entrevista no Centro de Atendimento ao Solicitante de Visto (CASV) e na embaixada ou consulado mais próximo.
Todo o passo-a-passo de como obter permissão oficial para atuar profissionalmente nos Estados Unidos pode ser visto aqui. O processo burocrático é tão complexo que muitos executivos buscam o acompanhamento de um advogado ou consultoria especializada.
2. Regularizar sua situação fiscal
A preocupação com a papelada não termina quando se desembarca em solo norte-americano. Mesmo que você já esteja com todos os seus documentos em dia, é preciso verificar se é necessário tomar providências pós-imigração. A mais importante delas tem a ver com as suas obrigações tributárias, explica Drummond.
“Muitos expatriados esquecem que é preciso declarar imposto de renda tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil”, diz o especialista. Existe uma grande variedade de situações em que você pode se enquadrar — dependendo da quantidade de dias que você passa no país, você se torna um “residente fiscal” e precisa pagar tributos.
De acordo com Melissa Fernandes, especialista em legislações tributárias da Drummond Advisors, o profissional deve informar sua situação à Receita Federal brasileira por meio da CSD (Comunicação de Saída Definitiva do País), que substitui o IR no Brasil. Além da CSD, também é preciso entregar a DSD (Declaração de Saída Definitiva) para ficar em dia com o Fisco. Regras e prazos de entrega dos documentos podem mudar de ano para ano.
Brasileiros que moram nos Estados Unidos também precisam entender como funciona a declaração do IRS (Internal Revenue Service), a Receita Federal americana. As regras são rígidas e é preciso estar atento aos detalhes para não cometer erros passíveis de multa.
3. Dominar o inglês profissional
Segundo Leonardo Freitas, sócio-diretor da consultoria Hayman-Woodward, a quantidade de brasileiros que vão trabalhar nos Estados Unidos sem conhecimento suficiente da língua inglesa é maior do que se imagina.
“Muita gente acha que só vai falar com clientes brasileiros ou que pode enrolar um ‘portunhol’ em estados com forte presença hispânica, como a Flórida”, explica. “Na prática, você vai precisar de inglês avançado ou fluente sim, tanto no trabalho quanto na sua rotina em geral”.
Dificuldades na comunicação com os locais trazem efeitos extremamente nocivos para o dia a dia de um expatriado, e comprometem qualquer chance de sucesso de uma carreira internacional. Freitas diz que o brasileiro não deve esperar para aprender a língua lá: é preciso estudar antes de fazer as malas e já chegar com um domínio satisfatório do inglês. Permanecer aberto ao aprendizado contínuo do idioma também ajuda.
Para Drummond, a maior dificuldade está em se apropriar do inglês profissional, isto é, aprender o vocabulário específico da sua profissão no idioma. “Além de dominar a norma culta da língua de forma geral, é imprescindível conhecer os termos técnicos do seu setor”, diz ele. Sem saber os jargões da área, você terá dificuldade para participar das reuniões e conquistar a confiança do cliente sobre o produto ou serviço que você oferece.
4. Adaptar-se à cultura de trabalho local
Outra dificuldade recorrente entre expatriados brasileiros é a “aclimatação” aos costumes dos Estados Unidos, principalmente no que diz respeito às relações profissionais. Além do enorme apreço pela pontualidade e no foco absoluto em produtividade, os norte-americanos cultivam diversos outros valores muito diferentes dos praticados por aqui.
“Eles têm uma comunicação mais objetiva, o que frequentemente é confundido com grosseria pelo brasileiro”, afirma Freitas. Se você quer dizer “não”, diga “não”, e não "talvez" ou "vamos ver"; e entenda que receber uma negativa sem muitos rodeios nem sempre é sinal de que o interlocutor está irritado com você.
Diferenças culturais também aparecem na interação com colegas e chefes norte-americanos em almoços ou intervalos para o café. Há menos espaço para conversar sobre a vida pessoal, fazer brincadeiras ou dar presentes. De forma geral, a relação é mais fria.
A forma de fazer negócios nos Estados Unidos também pode causar choque em desavisados. O ciclo de vendas costuma ser mais curto, e por isso há uma grande velocidade no fechamento das negociações. “Eles não costumam debater amenidades para ‘quebrar o gelo’ antes das reuniões, por exemplo”, diz Drummond. “Valoriza-se mais o tempo de cada pessoa, o que significa que você precisa sempre ir direto ao ponto em qualquer situação profissional”.