Positivo e negativo: se bem gerenciadas, falhas da geração Y podem virar vantagens competitivas (Thinkstock/ Blackregis)
Claudia Gasparini
Publicado em 13 de março de 2015 às 14h00.
São Paulo - Pelo volume de críticas que recebe por todos os lados, a geração Y deveria estar com as orelhas constantemente vermelhas. Os jovens de hoje, insistem diversos especialistas, são superficiais, ansiosos, impacientes e egocêntricos.
Não é perseguição. Falar mal da juventude é um hábito antigo, de acordo com Sidnei Oliveira, especialista em conflitos de gerações.
Os “baby boomers”, que nasceram depois da 2ª Guerra Mundial, eram vistos como rebeldes e insubordinados pelos mais velhos. Mais tarde, a geração X, que veio ao mundo entre a década de 1960 e o começo dos anos 1980, levaria a pecha de consumista.
Mas nenhum jovem foi tão criticado quanto o Y, na opinião de Sidnei. “Houve uma tentativa exagerada de explicar essa geração, o que acabou levando a várias distorções”, afirma.
Ele diz que o estereótipo mais comum - e também o mais perverso - é o de que o jovem é um profissional pouco confiável. “São acusações exageradas, que trazem sobrecarga para quem está entrando no mercado de trabalho”.
Defeitos pelo avesso
Não que a geração Y não tenha suas fragilidades. "O jovem de hoje foi poupado a vida inteira pelos pais, então não está acostumado a perder, só a ganhar", diz Sidnei. Por isso, segundo ele, são justas as críticas à ansiedade crônica e à dificuldade para lidar com a frustração, dois traços típicos do grupo.
A boa notícia é que um manejo estratégico dessas tendências negativas pode trazer resultados surpreendentes. Veja a seguir cinco defeitos frequentemente atribuídos à geração Y que podem ser traduzidos em vantagens competitivas:
1. Ansiedade
O problema, que não atinge apenas os jovens, pode ser canalizado em forma de energia para o trabalho. “A ansiedade é como um turbo, que você pode usar para acelerar qualquer coisa”, comenta Sidnei.
Além de servir como combustível para a ação, a ansiedade também pode tornar o jovem mais atento, detalhista e até estratégico. Isso porque, diz o especialista, a preocupação com o futuro pode ajudar o profissional a investir em planejamento e ampliar sua visão sistêmica de um problema.
2. Impaciência
De uma página da internet que não carrega a uma promoção na empresa que não chega, os mais novos odeiam esperar. Se bem gerenciada, essa inquietação pode estimular o autodesenvolvimento. “A vontade de subir rápido na carreira pode fazer com que o jovem se mobilize para adquirir as competências que ainda não tem”, diz Sidnei.
Segundo Eline Kullock, especialista em geração Y, a impaciência também tem um lado bom se for aplicada à resolução de problemas e à inovação. “Ela promove a chamada 'raiva criativa', a angústia que leva ao aperfeiçoamento próprio e dos processos ao seu redor”, explica ela.
3. Superficialidade
Habituado à multitarefa, o jovem é acusado de ser incapaz de se aprofundar no trabalho. Mas a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo pode ser um grande diferencial, segundo Sidnei. “Há um ganho de agilidade, desde que você saiba separar o trabalhos que permitem múltiplos focos e trabalhos que não permitem”, explica.
O rótulo de superficial também se aplica aos conhecimentos da juventude sobre o mundo. “A geração Y sabe um pouco sobre muitas coisas", diz Eline. "É uma cultura rasa por um lado, mas abrangente por outro". Trabalhando em equipe, os jovens podem somar uma quantidade imensa de referências, informações e pontos de vista, o que é essencial para a inovação, segundo a especialista.
4. Necessidade de feedback constante
O apetite do jovem por comentários - e elogios - sobre a sua performance pode ser irritante para alguns chefes e colegas. Por outro lado, a tendência pode estimular a autocrítica e favorecer aprendizados.
“O segredo é saber o que fazer com o feedback, principalmente com o negativo”, explica Eline. “Se for ouvido com humildade, ele pode servir como estímulo para crescer”.
5. Arrogância
É difícil tirar algo de positivo desse defeito, porque ele é muito mal visto socialmente. Mesmo assim, a característica pode ser traduzida em impetuosidade - uma postura que conta pontos a favor da carreira, na opinião de Sidnei.
"A autoconfiança nos torna mais propensos à experimentação e facilita nossa exposição a riscos, o que pode ser muito bom", diz ele. “Se o jovem souber aprender com as consequências disso, está no lucro”.