4 lições que o mercado financeiro pode ensinar à carreira
Empregar raciocínios típicos do mercado financeiro pode alavancar sua vida profissional. Veja como ter um olhar de investidor sobre a sua própria carreira
Claudia Gasparini
Publicado em 31 de março de 2016 às 15h34.
São Paulo - O brasileiro costuma ser personagem, e não autor, de sua própria história profissional: via de regra, ele não “escreve” a narrativa da sua carreira, mas apenas reage aos seus acontecimentos de forma passiva.
O diagnóstico é de Joseph Teperman, sócio-fundador da consultoria de recrutamento INNITI "Vejo muitos executivos construírem sua trajetória aleatoriamente, sem traçar metas nem avaliar riscos", diz ele.
Muitas vezes, a decisão de mudar de área, cargo ou empresa é motivada por ganhos financeiros imediatos ou simplesmente pelo convite de um amigo, ex-colega ou ex-chefe, por exemplo.
A falta de planejamento de carreira é mais nociva do que se imagina. Segundo Teperman, profissionais que não têm um olhar a curto, médio e longo prazo sobre sua trajetória perdem oportunidades valiosas e demoram mais para crescer.
Uma saída interessante para o problema é empregar raciocínios típicos do mercado financeiro na condução da sua vida profissional.
A vantagem de pensar como um investidor é adquirir visão sistêmica e priorizar a análise lógica dos riscos e oportunidades de cada movimento de carreira.
“Se você enxergar o seu trabalho como o seu maior bem, ou ativo, pode tomar decisões mais conscientes, precisas e acertadas”, diz o especialista.
Veja a seguir 4 lições sobre planejamento que o mundo financeiro pode ensinar a qualquer profissional:
1. Defina seus objetivos e estabeleça prazos de investimento
Do mesmo modo como se faria com uma aplicação financeira, é fundamental definir metas para a sua carreira. Você pode traçar objetivos gerais e específicos, e para cada um deles estabelecer prazos anuais, com revisões trimestrais. Estabelecer alvos e datas para atingi-los ajudará você a tomar decisões melhores.
Suponha que o seu objetivo seja se tornar CEO daqui a 20 anos. Munido de um planejamento estratégico e um cronograma, dificilmente você fará movimentos que o desviem do seu propósito de chegar à presidência.
“Você sabe que precisa ter habilidades comerciais fortes para ser CEO, então não aceitará um cargo completamente fora dessa área só por causa de um salário mais alto, por exemplo”, explica Teperman.
2. Antes de tomar uma decisão, avalie o impacto para a sua “liquidez profissional”
No mercado financeiro, "liquidez" significa a capacidade de transformar um ativo em dinheiro, isto é, a facilidade de vender um determinado recurso ou bem. Teperman propõe uma tradução do termo para o universo da carreira: a liquidez de um profissional seria sua empregabilidade - a facilidade de vender o seu trabalho para um determinado empregador.
Se você vai aceitar uma vaga em outra cidade ou estado, por exemplo, é importante avaliar se a mudança não pode afastá-lo do seu networking e, com isso, reduzir as suas chances de conseguir uma recolocação no futuro.
A mesma preocupação deve existir ao avaliar uma oportunidade numa área específica demais, que pode torná-lo um profissional “coringa” e dificultar novas contratações.
3. Diversifique os seus investimentos
Quando se fala em dinheiro, quem nunca ouviu a recomendação “Não ponha todos os ovos numa cesta só”? O mesmo raciocínio pode ser aplicado à gestão da carreira. Buscar fontes de renda alternativas ao emprego tradicional pode ser uma tática interessante, sobretudo em meio à crise econômica.
Para ampliar suas opções, diz Rafael Souto, presidente da consultoria Produtive, cada vez mais executivos têm optado pela pós-graduação stricto sensu. Além de render salários mais altos nas empresas, mestrados e doutorados abrem portas para uma segunda opção de carreira: a de professor universitário.
Um leque amplo de possibilidades de trabalho também depende de um networking extenso e heterogêneo, diz Teperman. Quanto mais diversas forem as suas conexões, mais fácil será criar pontes entre profissionais e, assim, tornar-se uma referência para os seus pares.
4. Avalie a situação de mercado de potenciais empregadores
Se você enxerga o seu trabalho como um recurso a ser aplicado, é preciso ter um “olhar de investidor” sobre as empresas em que você pretende atuar.
A dica de Teperman é fazer uma análise crítica sobre a situação de mercado de todo potencial empregador. Como ele se posiciona frente a competidores internos e externos? Qual é o perfil dos líderes? O negócio está em expansão ou retração? Há espaço para galgar posições internamente?
Essa avaliação - que, no caso das companhias abertas, pode ser complementada com dados disponíveis nas páginas online de relações com investidores ou no site da CVM - permitirá calcular os riscos e oportunidades de apostar num empregador. “Só com essa análise você saberá de quais processos seletivos vale realmente participar”, conclui o especialista.
São Paulo - Mudar de carreira é tarefa para os fortes. São muitas as dúvidas, incertezas e dificuldades do processo - para não falar na falta de compreensão ou mesmo de apoio de familiares e amigos.
A decisão, contudo, pode marcar o início de uma vida muito mais feliz , leve e realizada: sem o peso de uma profissão que já não faz sentido, há todo um novo mundo a ser explorado e, com sorte, conquistado.
Nesta galeria, você conhecerá as histórias de 10 pessoas que escolheram alterar sua rota profissional e não se arrependem do movimento. Os profissionais retratados são oriundos de áreas tão diversas quanto medicina, direito, comunicação, gestão, TI e artes, e decidiram apostar em carreiras por vezes radicalmente opostas à sua formação original.
Pensa em fazer o mesmo? Clique nas imagens a seguir e inspire-se nestas 10 histórias relatadas com exclusividade a EXAME.com.
Filho do comandante Rolim Amaro, fundador da TAM, Marcos começou sua carreira na empresa do pai, como trainee. Algum tempo depois se tornou sócio das Óticas Carol, que sob sua batuta se firmou como uma das maiores redes de óticas do Brasil. Em 2013, decidiu vender tudo para fazer uma mudança radical: tornar-se artista plástico. Desde então, tem feito exposições de seus trabalhos em cidades como São Paulo, Zurique e Miami. Paralelamente é sócio minoritário de duas empresas ligadas ao mercado imobiliário e a serviços de wealth management, que, segundo ele, ocupam cerca de 10% do seu tempo.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Marcos diz que sempre gostou de desenhar e não se lembra de um momento da sua vida em que não se sentisse envolvido pela arte. A venda das Óticas Carol teve algo de estopim e de pretexto para mudar de profissão. “Foi um processo longo, de amadurecimento, até eu me permitir expressar um lado que sempre me acompanhou”, explica ele.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
O artista plástico acredita que o principal obstáculo para a transição foi vencer resistências próprias e alheias - ainda mais diante de uma mudança tão radical. “No fundo, a dificuldade é lutar para respeitar a sua própria natureza e ser genuíno consigo mesmo”, diz.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
De acordo com Marcos, persistência, disciplina e organização são ingredientes fundamentais para o processo. “O segredo é combinar vontade e oportunidade, disposição e disponibilidade para a transição”, afirma o artista. Também é necessário resistir ao julgamento alheio: você precisará defender a sua autenticidade, diz ele, mesmo que isso não agrade a todo mundo.
Aos 18 anos, Manuela via a odontologia como a profissão perfeita para ela. Filha de dentista, ela se graduou na UFRJ, dando início a uma carreira bem-sucedida na área. Com apenas quatro anos de formada, ela já trabalhava mais de 10 horas por dia e atuava como dentista da Marinha. “Não tinha do que reclamar, ganhava bem, viajava”, conta. “Mas não me identificava verdadeiramente com a profissão, não era feliz”. Na busca por uma alternativa à odontologia, ela acabou sendo contratada por uma agência de publicidade e branding e, dois anos mais tarde, entrou para a equipe do Google. Atualmente é gerente de parcerias no YouTube.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Manuela se lembra bem de uma conversa com sua mãe, em que ela disse que a filha havia vencido, chegado ao topo, mas parecia infeliz. “Isso me petrificou, porque percebi que aquilo estava estampado na minha cara”, conta ela. Em seguida, ela se casou e se mudou para São Paulo. Recomeçar a vida do zero numa cidade nova foi a oportunidade perfeita para migrar de área profissional. O processo durou cerca de 9 meses. “Durante uma viagem com amigos, comentei que estava mudando de carreira e uma amiga me perguntou se não poderia ser para vendas”, diz Manuela. “Eu ri e disse que não, pois era dentista, mas ela me respondeu: ‘E daí? Eu te contrataria…’”. A partir desse momento, ela passaria a enxergar novas possibilidades.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
Manuela confessa que não foi fácil abandonar uma carreira promissora, com bom salário, para fazer uma aposta incerta. “Minha familia ficou arrasada, meu pai mal falava comigo”, conta ela. “Eu tinha a sensação de estar jogando fora uma vida de estudos e dedicação”. Na época em que era trainee de uma agência de branding, seu salário era muito inferior ao que ela tinha antes. Outro desafio: a sensação de estar sempre atrás dos demais. “Eu estudava muito e me esforçava ao máximo, pois não queria perder tempo”, diz a gerente do YouTube.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
Foco, determinação e maturidade foram o segredo para que sua história profissional tivesse um desfecho feliz, diz Manuela. Para outras pessoas que querem mudar de carreira, seu conselho é ter um ótimo planejamento financeiro, além de muita resiliência. Ela também diz que é preciso colocar o foco nas suas próprias qualidades. “Você se comunica bem? É bom em planejamento? Quais são os seus destaques? Ensaie o discurso e escolha as empresas que podem estar procurando o seu perfil”, recomenda.
Publicitária formada na Faap e com MBA em marketing pela ESPM, Thaís trabalhou em empresas como Reebok, Microsoft, Fox e Yahoo!. Após dez anos dedicados ao mundo corporativo, ela decidiu mudar tudo e abrir um centro de equoterapia: a Estância Tordilha. Sediado em Indaiatuba (SP), o centro aplica métodos terapêuticos e educacionais centrados em cavalos, com foco em crianças especiais. “Todo dia tenho metido minhas mãos e meus pés em serragem, feno e estribos”, conta ela. “Desde que foi criada, a Estância tem possibilitado a transformação de muitas vidas, a começar pela minha”.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
A frieza dos escritórios corporativos, as longas jornadas e as incontáveis demandas do dia a dia, lembra Thaís, começaram a minar sua motivação para o trabalho. “Entendi que a raiz da minha frustração estava no desequilíbrio entre o que eu fazia e o que eu realmente gostaria de fazer”, diz ela. “Queria trabalhar com um propósito, com algo que pudesse transformar vidas para melhor”. Foi então que, por meio de uma amiga, Thaís descobriu a equoterapia. “Quando vi pela primeira vez uma criança especial em cima do cavalo, feliz, viva, sendo criança, em um ambiente ao ar livre, vi que tudo fazia sentido, vidas eram transformadas, os resultados eram incríveis”, diz ela.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
Thaís fez uma transição organizada: depois de muito conversar com pessoas envolvidas no mundo da equoterapia e experimentar a área de forma voluntária, ela desenhou um modelo de negócios. Apesar de estar fazendo tudo “com o pé no chão”, ela estava se aventurando em águas inéditas para ela até então. Para facilitar seu ingresso na nova área, fez pós-graduação e diversos cursos sobre o tema. “O aprendizado não foi fácil, porque não venho da área da saúde e o cavalo era um hobby de fim de semana, não um companheiro de trabalho”, conta. Para completar, também foi necessário lidar com uma infinidade de assuntos burocráticos, do contato com órgãos públicos às dificuldades para abrir uma associação.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
Além do apoio do marido, Thaís atribui seu sucesso à sua disposição para conhecer pessoas, ir atrás de contatos, pesquisar e planejar a transição. “É importante ter foco, fazer algo alinhado aos seus valores, ter apoio de pessoas boas e competentes, saber muito bem o que você quer”, resume ela.
Bruno começou a trabalhar cedo, aos 15 anos, numa loja de computadores perto de sua casa. Pela proximidade com o mundo da informática, acabou ingressando na área de publicidade digital. Após anos de experiência como analista e gerente de operações online em diversas empresas, decidiu largar tudo para abraçar seu trabalho dos sonhos: ser piloto de avião. Hoje, ele faz parte da tripulação de um dos Falcons 2000 LXS da Global Aviation
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
“Desde que me conheço por gente tenho o desejo de ser piloto”, conta Bruno. A estabilidade e o bom salário na área de operações online adiaram o sonho - até uma memorável semana em junho de 2011. Na época, aos 24 anos, ele trabalhava para uma empresa inglesa quando recebeu duas ligações importantes. Uma o convidava para participar do processo seletivo do Facebook, que estava abrindo sua sede no Brasil. O outro telefonema era da Líder Aviação, que o chamava para ser copiloto. O “clique” já tinha acontecido muito tempo antes, mas essa foi a deixa para ele largar tudo e finalmente entrar para o mundo dos aviões.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
O maior desafio foi cair de paraquedas numa realidade inteiramente nova: não havia uma rotina definida, nem o conforto de horários flexíveis, ele ganhava 20% do seu salário anterior e desconhecia completamente o novo mercado. “Demorou um tempo para eu me adaptar e descobrir as nuances desse novo setor, em especial a aviação executiva”, explica ele.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
Para Bruno, a clareza sobre sua própria vocação e o apoio de outras pessoas foram fundamentais para o sucesso de sua transição. Segundo ele, há dois elementos essenciais para fazer esse movimento: saber para onde você quer ir e não ter medo da mudança. “Será muito difícil no começo, mas com certeza vai valer a pena depois”, diz.
Aos 13 anos de idade, Lívia decidiu que queria ser bailarina. Após anos de estudo, foi estudar dança em Nova York com uma bolsa de estudos. De volta ao Brasil, entrou para o Theatro Municipal, onde se apresentou por cinco anos como solista. Às vésperas de completar 24 anos, ela decidiu largar o emprego no Municipal e procurar uma oportunidade na área de publicidade, na qual acabou se graduando. Após diversas passagens por empresas de telecomunicações, hoje é diretora de publicidade e gestão de marca da TIM.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Lívia conta que a vida de bailarina não era fácil: no Brasil, o investimento em dança é baixo, e havia poucas temporadas por ano. Desmotivada, ela voltou sua atenção para a carreira executiva. “O mundo do balé ficou pequeno, e eu queria descobrir coisas novas”, lembra ela. “A publicidade tinha um lado lúdico que me interessava, e então me lancei à descoberta desse outro universo”.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
Em função de uma forte autocrítica, Lívia diz que se sentia sempre atrás dos colegas da sua nova profissão. “Precisei estudar muito para tirar o prejuízo”, conta ela. A isso se somou a dificuldade técnica, sobretudo com o mundo da informática. No fundo, a determinação e até a pressa em atingir o mesmo patamar dos seus pares acabaram se traduzindo em vantagem competitiva.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
A garra e a obstinação são poderosos aliados de qualquer mudança, diz Lívia. Também é importante ter consciência de que toda experiência - mesmo a acumulada com uma profissão que você deseja abandonar - poderá ser útil no futuro. Segundo a diretora da TIM, a disciplina e o comprometimento trazidos por anos de balé contribuíram muito para que ela pudesse se apropriar das competências necessárias ao seu novo ofício.
Formada em Direito, Priscila se mudou do Rio de Janeiro para São Paulo em 2008, logo que saiu da faculdade. Ao longo dos sete anos seguintes, ela advogou, deu aulas, fez cursos no exterior, apresentou trabalhos em congressos e defendeu sua dissertação de mestrado na área de direitos humanos, que chegou a ser publicada pelo selo do Ministério das Relações Exteriores. Tudo mudou quando ela decidiu dar adeus ao Direito e criar o blog Trailer 55, dedicado a temas como música, arte, viagens e comida. A marca cresceu e hoje já inclui uma linha e camisetas e bonés que materializam o estilo de vida pregado pela blogueira.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Apesar do sucesso, Priscila conta que a sensação de estar trilhando uma carreira que não trazia realização pessoal foi se tornando cada vez mais clara para ela. “Eu sentia que a vida profissional não podia ser preto e branca, precisava ter cor, alma, paixão”, explica. “Eu sentia uma necessidade muito grande de me expressar de forma mais artística e com menos amarras”. Em seu tempo livre, ela buscou cursos de fotografia, caligrafia e design gráfico. Aos poucos, o quebra-cabeças foi se montando e ela percebeu que buscava a carreira acadêmica porque gostava de se comunicar, expor ideias e trocar experiências. O estalo veio assim: um blog seria o meio de mostrar o seu mundo para as outras pessoas.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
Priscila diz que, dos seus 7 anos como advogada, os dois últimos foram os de maior inquietação. Uma grande dificuldade foi saber que durante algum tempo ela teria que contar com suas economias até o negócio girar - e poderia não dar certo. Também pesou a decisão de deixar para trás anos de formação e prática numa área para se dedicar a algo que ela mal conhecia. “Meu conhecimento sobre internet nunca foi além do botão de curtir e de compartilhar”, conta. “De uma hora para outra, tive que criar um site, gerar conteúdo, dominar softwares de tratamento de fotos, entre outras atividades completamente novas”.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
Para a blogueira um fator essencial para que sua transformação desse certo foi o apoio incondicional do marido. Também contou muito o desejo de respeitar sua própria natureza. “Cheguei à conclusão de que o meu talento, o que faço de forma natural, é escrever”, diz ela. “Muitas vezes queremos inventar a roda, desenvolver habilidades que não são inatas, e acabamos subestimando aquilo que fazemos com maior facilidade”. Para dar certo, diz ela, o profissional que quer mudar de carreira precisa de uma dose cavalar de perseverança, mesmo - e sobretudo - diante de dúvidas, adversidades e críticas de familiares e amigos.
Juliane atuou por 18 anos como advogada, ocupando os cargos de diretora jurídica e diretora de investimentos na Odebrecht. Embora tenha recebido diversas promoções e oportunidades na empresa, ela acabou pedindo demissão e tirou um ano sabático. Foi então que ela decidiu criar a Petalusa, um espaço colaborativo que abriga workshops, cursos e outros eventos ligados à arte e à qualidade de vida. Além de organizar a agenda da casa, ela também ajuda pessoas que buscam operar processos de transição profissional e pessoal.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Juliane conta que, enquanto advogada, não sentia que seu potencial criativo era verdadeiramente aproveitado. “Tinha um trabalho dinâmico, convivia com pessoas maravilhosas, mas nada daquilo fazia muito sentido”, explica. Não que houvesse um outro objetivo claro: ela diz que não sabia exatamente o que desejava. Após se envolver em projetos ambientais e sociais, ela entendeu que sua verdadeira vocação passava longe dos escritórios corporativos, e se encontrava necessariamente no universo das artes. “As vivências que tive ao longo do meu ano sabático me trouxeram a resposta que eu tanto buscava”, conta ela.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
Descobrir o que de fato gostaria de fazer profissionalmente foi a grande prova de Juliane. O processo exigiu uma grande desconstrução de conceitos sobre si mesma. Ela também diz que a necessidade de criar algo completamente novo, que não cabe numa “caixinha”, também não foi fácil. Uma terceira dificuldade foi explicar sua proposta pouco convencional para as outras pessoas.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
Juliane acredita que desapego, planejamento financeiro e coragem para se lançar ao desconhecido foram os principais pontos de apoio do seu movimento de carreira. “Às vezes, você só põe uma maquiagem no que te incomoda na sua profissão, mas tudo continua igual”, explica. “É importante não ter medo de pular”. Apesar disso, ela afirma que a transformação nem sempre precisa ser tão radical quanto a que ela empreendeu. “Mudar de chefe, empresa ou especialidade pode ser o suficiente para tornar a sua vida profissional mais feliz”, diz ela.
Formado em medicina, Aylmer se preparava para ser cirurgião no início de sua vida profissional. O contato com os pacientes, no entanto, trouxe uma revelação: ele se interessava muito mais por psicologia do que pelos bisturis. Quando descobriu o mundo da psicoterapia, ele decidiu abandonar o mundo da cirurgia médica. Ao longo dos anos, ele direcionou sua carreira para a área de psicoterapia com foco no mundo corporativo. Hoje, é consultor, coach, pesquisador e professor na Fundação Dom Cabral.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Aylmer conta que descobriu sua verdadeira vocação logo depois da formatura. Sua experiência como médico durou pouco: apesar do questionamento incisivo de familiares e amigos sobre a decisão, ele abandonou a área rapidamente. Em seguida, decidiu abrir um consultório na área de psiquiatria para se dedicar, em suas próprias palavras, “à cura, e não à doença”.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
No início, abandonar o status da carreira em medicina foi um grande obstáculo para Aylmer. “Tive medo do que isso representaria, mas no final descobri que não precisava deixar de ser médico, que poderia simplesmente conciliar essa função a uma outra, alinhada à minha missão de vida”, explica.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
De acordo com o psicoterapeuta, a melhor forma de lidar com as adversidades da mudança profissional é ter clareza quanto ao seu objetivo final. Se você sabe bem qual é o seu propósito de vida e de carreira, diz Aylmer, nenhuma dúvida se sustentará por muito tempo e as escolhas mais acertadas virão naturalmente.
Jorge começou sua carreira na área de TI, como programador, analista de sistemas e, finalmente, diretor de tecnologia. Por mais de 25 anos, a tecnologia era o tema dominante do seu currículo. Tudo mudou quando ele fez uma pós-graduação em comportamento organizacional e decidiu abandonar por completo o mundo das ciências exatas. Há sete anos, atua como consultor em mudanças organizacionais, com foco em recursos humanos.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Enquanto trabalhava com TI, Jorge tinha muito mais interesse pelas pessoas do que pelo aspecto técnico do trabalho. Em uma das suas passagens profissionais, ele teve a oportunidade de experimentar a gestão de equipes, uma vivência muito gratificante para ele. O “clique” final veio com o mestrado em comportamento organizacional. “Foi quando eu tive certeza do que gostava, e percebi que não fazia mais sentido trabalhar com TI”, conta ele.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
A decisão de abandonar a área de tecnologia, em 2007, desencadeou uma negociação complexa com seu empregador na época. “Foi uma transição longa, de dois anos, porque eu tinha muitas responsabilidades e não podia largar tudo de uma vez”, diz Jorge. Outro desafio foi lidar com o impacto financeiro da mudança e “apertar o cinto” até que a nova carreira se estabilizasse.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
“O mais importante é ter o domínio da situação”, afirma Jorge. “Visualize com clareza quais são os seus objetivos, faça um bom planejamento, e tudo correrá bem”. O consultor também recomenda a busca por alianças. Fazer uma transição sozinho é muito difícil: para se orientar e ter acesso a boas oportunidades, é fundamental compartilhar suas necessidades e dúvidas com familiares, amigos, colegas e pares, diz ele.
Eduardo é formado em publicidade e propaganda e trabalhou por mais de 20 anos em empresas como Microsoft, G2, Aurora Importadora e sadia na área de marketing nacional e internacional. Cansado do mundo corporativo, ele e uma sócia abriram uma empresa de marketing de experiência, a Living Brands, com foco em eventos.
Quando percebeu que queria mudar de carreira?
Quando saiu da Microsoft, Eduardo já sabia que seu tempo em grandes corporações já havia se esgotado. “Existe um lado corporativo que me encanta e que nunca vou abandonar, o fato de as empresas terem objetivos claros, processos, organização, mas também há processos demais, relatórios demais, tempo demais roubado do que realmente me dá prazer, que é a execução”, explica ele. Foi então que ele encontrou sua sócia, que dividia com ele a mesma cultura - e o mesmo cansaço - das grandes corporações. O encontro com ela permitiu que a mudança se concretizasse.
Quais foram as maiores dificuldades do processo?
Eduardo conta que o principal desafio da transição foi “superar o branco” e descobrir qual seria o melhor caminho a seguir. Também houve diversos "choques" ao longo do processo. Ele e sua sócia estavam acostumados à estrutura que uma grande multinacional oferece. Hoje em dia, os dois precisam ir a bancos e fazer o seu próprio café. “Lidar com questões burocráticas e tributárias, por exemplo, faz com que nós demos umas ‘cabeçadas’ de vez em quando”, diz ele.
Qual é o segredo para uma boa transição de carreira?
O otimismo e a vontade de conquistar oportunidades a despeito da crise econômica favoreceram o processo, diz Eduardo. Seu conselho para outros profissionais que planejam uma mudança é ter coragem e desprendimento. “Quando você muda de carreira, especialmente se sai de uma grande corporação e abre uma empresa, você tem que estar disposto a perder muitas coisas”, diz ele. “Ainda assim, poder trabalhar com paixão é algo que compensa bastante”.