15 mentiras contadas por brasileiros em processos seletivos
Da fluência em inglês à saúde dos parentes, candidatos contam muitas mentiras em entrevistas e currículos; veja algumas histórias lembradas por recrutadores
Da Redação
Publicado em 1 de abril de 2015 às 09h48.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h46.
São Paulo - Primeiro de abril é uma data perigosa: se você não estiver muito atento, pode ser vítima do bom humor alheio e acreditar numa pegadinha. A vida de um recrutador, às vezes, pode parecer uma sucessão de "primeiros de abril". É que, na tentativa de agradar ou impressionar na entrevista de emprego , muitos candidatos não economizam nas mentiras. As invenções cobrem temas diversos, do nível de inglês à saúde dos parentes, mas costumam ser identificadas facilmente. Nesta galeria, reunimos algumas histórias cômicas e surpreendentes de alguns recrutadores do Brasil "calejados" pela criatividade dos candidatos. Clique nas fotos para conhecê-las.
Jorge Martins, da Robert Half, recorda diversos episódios envolvendo candidatos que diziam ter inglês fluente no currículo - e que demostraram o contrário na entrevista presencial. Em uma das ocasiões, o profissional disse a frase "After some time me acostumei with the work routine". Tendo esquecido a tradução de "me acostumei" em inglês, a expressão foi em português mesmo. Mas com sotaque e entonação em inglês, relembra Martins.
Em décadas trabalhando com recursos humanos, recrutamento e seleção, Karin Parodi, diretora geral da Career Center, já presenciou muitas mentiras contadas por candidatos. Uma das mais marcantes , diz, foi de um executivo em processo de recolocação. “Era um profissional com uma inteligência analítica extrema que dizia não ter a mínima ideia do motivo de ter ser sido demitido”, diz. O profissional afirmava que o encerramento do contrato de trabalho tinha sido repentino e, por isso, uma surpresa para ele. E mais: ninguém havia dado um feedback sobre a razão do desligamento, após anos dedicados à empresa. Ao checar com o departamento de recursos humanos da companhia, Karin ouviu a seguinte pérola de um funcionário de lá: “Ah, ele não sabe mesmo por que foi demitido? Pois a equipe que era dele fez até um happy hour pra comemorar a sua saída!” Segundo Karin, a checagem com a empresa deixou claro que o que faltava a este profissional era inteligência emocional. “Ele agia como um verdadeiro trator com a equipe. Por isso a demissão dele foi um alívio tão grande que decidiram beber para comemorar”, diz.
Antes de fazer parte da diretoria da Career Center, Ana Letícia Lucca foi cliente da consultoria e passou por um processo de recolocação. Como resultado, teve mapeadas competências. Montou seu currículo no LinkedIn com seus pontos fortes, relacionados ao seu potencial de entrega como profissional. Algum tempo depois, notou que uma ex-subordinada visitava seu perfil na rede social profissional constantemente. “Notei esse interesse no meu perfil durante uns 10 dias”, conta. A frequência das visitas ao seu perfil levou Ana Letícia a “retribuir” a atitude. “Fui ver o perfil dela, saber onde estava trabalhando”, diz. Para sua surpresa, encontrou um perfil exatamente igual ao seu, embora o momento de carreira da ex-subordinada não comportasse o nível de complexidade de funções que ela expunha no cv. Os mesmos pontos fortes e competências de Ana Letícia estavam ali, como se fossem dela. “Ela não teve o cuidado nem de trocar palavras por sinônimos. Foi cópia mesmo, não mudou uma vírgula”, diz.
Um headhunter de São Paulo contou a EXAME.com um caso de um profissional mentiroso e bem azarado. Ao se candidatar a uma oportunidade de alta gerência, o executivo destacou no currículo o domínio da língua turca. Na entrevista, o dado chamou a atenção do recrutador, por se tratar de um idioma relativamente raro entre os profissionais brasileiros. O candidato,então, disse que havia morado fora e que durante o período no exterior tinha aprendido turco. Para sua inteira surpresa, o recrutador, que tinha ascendência turca, decidiu checar, na hora, a competência e continuou a conversa no idioma. O candidato não só não entendeu uma só palavra, como não pronunciou sequer uma frase em turco. “Acho que ele nunca esperava que o entrevistador soubesse turco. Foi uma tremenda saia justa”, diz o headhunter.
Administrar um blog pode ser um diferencial de carreira para quem é da área de marketing digital. E foi exatamente isso que pensou uma candidata a uma oportunidade de coordenação nesta área, contou um recrutador de São Paulo a EXAME.com. Por isso, durante a entrevista ela passou alguns minutos falando do blog em que escrevia sempre sobre viagens, um de seus temas favoritos. Mas este recrutador tem por hábito levar um tablet para a sala de entrevistas e entrou no blog para dar uma olhada. O tal blog existia, mas seguia sem atualização há anos. “Quando mencionei que ela parecia não atualizar muito o blog, pois a última postagem era de 2011, a candidata ficou vermelha na hora. Tentou se vender mas não esperava que eu fosse checar a informação de dentro da sala de entrevista”, lembra.
Ricardo Rocha da Michael Page também se lembra de uma mentira emblemática de um candidato durante um processo de seleção. “A pretensão salarial dele era alta e para justificá-la ele trouxe um documento em que a empresa para a qual ele trabalhava atestava que ele teria aumento de salário”, diz Rocha. Com o documento apresentado durante a fase de entrevistas, conseguiu o salário que pretendia receber ao ser o escolhido para a vaga. Mas, ao entregar a sua carteira de trabalho ao departamento de recursos humanos da empresa, a farsa foi descoberta. O documento tinha sido forjado. “Ele ganhava um valor muito inferior ao que tinha dito”, diz Rocha. Resultado: após a quebra de confiança, a relação de trabalho ficou prejudicada e o profissional foi demitido da empresa após uma breve passagem.
Um dos headhunters que conversaram com EXAME.com lembrou-se de um candidato que, após ter sido aprovado em um processo seletivo, parou de atender o telefone. A equipe do departamento de recursos humanos da empresa contratante precisava que ele levasse a carteira de trabalho e, por isso, tentava ligar em horários diferentes, deixava recado, mandava mensagem, sempre sem sucesso. Como não obtinha resposta alguma, o departamento de RH pediu a ajuda do headhunter para tentar localizá-lo. Mais uma série de tentativas e, nada de resposta. Desconfiado, o recrutador ligou de um telefone fixo que o profissional não reconheceria como sendo dele. Ele atendeu falando normalmente.
Depois de se apresentar, o headhunter percebeu uma súbita mudança na sua voz. Em vez de falar, ele passou então a sussurrar, dizendo estar no enterro de um parente e, rapidamente, desligou o celular. No dia marcado para começar a trabalhar na empresa, ele não foi, mas mandou um vaso de flores em seu lugar.
Depois de se apresentar, o headhunter percebeu uma súbita mudança na sua voz. Em vez de falar, ele passou então a sussurrar, dizendo estar no enterro de um parente e, rapidamente, desligou o celular. No dia marcado para começar a trabalhar na empresa, ele não foi, mas mandou um vaso de flores em seu lugar.
Caio Arnaes, também da Robert Half, lembra-se de outro episódio cômico envolvendo idiomas estrangeiros. "O candidato disse que tinha inglês fluente, mas logo concluí que não era verdade", conta. O motivo foi simples, explica o recrutador: ele trocou as palavras e chamou o próprio filho de "banheiro" numa frase.
Esta é mais uma da série “a difícil arte de dizer não quero” e aconteceu em São Paulo, contou um headhunter. A candidata, aprovada na seleção, recebeu a proposta final e aceitou o cargo. Em seguida, sumiu sem deixar vestígio. Foram dias e dias tentando localizá-la. Quando, enfim voltou a atender telefone contou que tinha sido sequestrada. Chocada com tamanha violência estava prestes a se mudar para outro estado para tentar se livrar do trauma. Durante a conversa, perguntou se o headhunter queria o boletim de ocorrência para comprovar o que ela contava. A disposição em “provar” a história foi o gatilho da desconfiança. Mas, a confirmação da mentira veio pouco tempo depois, pelo perfil no LinkedIn. Tinha começado a trabalhar em outra empresa pertinho de São Paulo.
Segundo Alberto Lopes, da Robert Half, o salário é um tema frequente de mentiras. "As pessoas evitam falar o número exato", conta ele. "Dizem uma faixa que vai de 10 a 13 mil, por exemplo, o que é uma variação muito grande". Outro expediente comum é dizer que a remuneração é maior do que está na carteira de trabalho porque o candidato "está esperando um dissídio sair". "É impossível isso acontecer, ou por acaso saem dissídios o ano inteiro?", brinca Lopes.
Um recrutador de São Paulo contou a EXAME.com que, certa vez, entrevistou um candidato finalista num processo seletivo que apontou como referência profissional um presidente de uma grande empresa. Os recrutadores acabaram descobrindo que tudo não passava de uma encenação. “Ele fez um arranjo para que alguém se fizesse passar pelo tal presidente ao telefone e nos desse belíssimas referências sobre ele”, conta ele.
Em seus 30 anos de carreira, a recrutadora Jacqueline Resch, sócia-diretora da Resch Recursos Humanos, ouviu muitos candidatos mentirem sobre sua qualificação. “Há muito tempo, testemunhei o caso de um diretor que passou três meses na função antes de descobrirem que ele não tinha diploma algum”, conta. O mais comum, segundo ela, é que candidatos anunciem ter graduação ou pós-graduação completas sem jamais terem concluído os cursos. Para Jacqueline, chega a ser surpreendente a ingenuidade dos candidatos. “Basta pedir os documentos na hora da admissão, e pronto”, diz ela. “É uma mentira com pernas curtas demais”.
A epidemia de dengue no estado de São Paulo é um assunto preocupante, mas também inspira alguns candidatos em busca da desculpa “perfeita” para desistir de uma vaga. Foi o caso de uma candidata que recebeu e aceitou uma proposta de emprego, conta um recrutador de São Paulo a EXAME.com. No dia em que ela deveria começar na empresa, faltou e disse que estava com dengue. Sua ausência se prolongou por vários dias, e ela seguiu dizendo que estava doente. Após mais de duas semanas, os recrutadores pediram a ela um atestado para tranquilizar a empresa. Resultado: ela sumiu e alterou todos os seus números de telefone.
Um headhunter de São Paulo conta a EXAME.com que, ao pedir referências a uma candidata, ela disse que não era possível entrar em contato com o seu antigo empregador porque ele havia falido. Por curiosidade, ele procurou o nome da empresa na internet, e acabaram encontrando o seu telefone. “Descobrimos que a empresa estava operando normalmente”, afirma. Pouco tempo depois, a candidata também sumiu: nunca mais retornou nem atendeu os telefonemas do recrutador.
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