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Vozes: mulheres e homens na política são julgados por padrões desiguais

Mulheres políticas são excluídas dos noticiários, e quando aparecem, as notícias costumam focar em aspectos privados, diz estudo

Mulheres são apenas 25% das cadeiras nos parlamentos mundiais (Matthew Leete/Getty Images)

Mulheres são apenas 25% das cadeiras nos parlamentos mundiais (Matthew Leete/Getty Images)

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Publicado em 6 de outubro de 2021 às 15h42.

Última atualização em 6 de outubro de 2021 às 16h42.

Por Karin Vervuurt*

As eleições recentes têm tido um aumento de candidatas mulheres concorrendo a cargos políticos locais, estaduais e nacionais. Nas eleições municipais de 2020, por exemplo, cresceu para 33,6% o número de candidaturas femininas no Brasil, batendo recorde de participação e superando o índice das três últimas eleições que não haviam passado de 32%. Houve, também, um aumento no número de candidatas eleitas. Já no primeiro turno das eleições para prefeituras, as mulheres eleitas somavam 12,2%, índice maior do que o das eleições de 2016 que elegeram 11,5% de prefeitas.

No entanto, o aumento nas candidaturas e na eleição de mulheres ainda é bastante tímido e a sub-representação persiste. Na verdade, a baixa presença de mulheres na política não acontece só no Brasil, mas na maior parte do mundo. Dados mostram que mulheres são apenas 25% das cadeiras nos parlamentos mundiais. Os motivos para isso são vários, e passam pela falta de financiamento para campanhas de mulheres, assédio, violência política de gênero e pouco espaço dentro dos partidos. Além desses, pesquisas mostram também que mulheres e homens na política são julgados por padrões desiguais, que geralmente desfavorecem as mulheres.

Em um estudo que analisa se os eleitores reagem de maneira diferente às informações sobre a competência de um candidato homem e uma candidata mulher, uma pesquisadora descobriu que mulheres candidatas sofrem muito mais avaliações negativas quando sua competência é colocada em dúvida. Além disso, quando os eleitores avaliam uma candidata cuja competência é questionada, é menos provável que votem nela, mas no caso de candidatos homens os eleitores estão mais dispostos a relevar e votar nele mesmo assim.

Outro estudo demonstrou que quando um candidato homem compete com uma candidata mulher, não precisa demonstrar que tem tanta competência quanto quando compete contra outro homem.

Mulheres já eleitas também podem enfrentar dificuldades quando desejam ascender na carreira, buscando alcançar níveis mais elevados de poder e influência. Culturalmente é esperado que mulheres tenham comportamentos mais comunitários, sensíveis, atenciosos e afetuosos. Em contraste, homens são vistos como mais assertivos, competitivos e dominantes. Nesse sentido, quando uma mulher quebra com essas expectativas culturais, sofre penalidades por parte da sociedade.

Em um experimento conduzido por duas pesquisadoras da Universidade de Yale, ficou demonstrado que quando os participantes do estudo eram apresentados a uma mulher política buscando aumentar seu poder, eles a viam como menos comunitária — ou seja, sendo insensível e indiferente. Isso despertava neles sentimentos de indignação moral, raiva e desprezo. Mas isso não ocorreu quando o político era homem. Ao perceberem que um homem está buscando aumentar seu poder, os participantes o viam como mais assertivo e competente.

Em resumo, mulheres na política precisam trabalhar muito mais do que homens para ser levadas a sério. Precisam se preocupar mais em deixar suas qualificações e competências bastante claras para o eleitor e, mesmo assim, correr o risco de serem ofuscadas por homens candidatos com menos experiência. Ao mesmo tempo, precisam estar atentas para não passarem a imagem de serem muito ambiciosas, ou serão fortemente julgadas pela sociedade.

Se quisermos resolver o problema da baixa representação de mulheres na política, precisamos aumentar a consciência da sociedade sobre os preconceitos que possuem em relação às mulheres candidatas ou mandatárias. São necessárias mais campanhas educativas sobre expectativas de gênero, debates públicos que tragam esse tema à tona e, principalmente, é preciso que haja uma discussão urgente sobre o papel da mídia no reforço e propagação dos estereótipos de gênero.

Dados mostram que, em diversos países, incluindo o Brasil, as mulheres políticas são consistentemente excluídas dos noticiários políticos. Quando aparecem, as notícias costumam focar em aspectos privados da vida das mulheres, discutir suas roupas e estilo pessoal, mostrá-las como emocionalmente instáveis, ao invés de transmitir suas ideias e projetos.

*Karin Vervuurt é cofundadora da ONG Elas No Poder

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