Vozes: a importância da representatividade feminina na política
O Censo 2022 mostra que a população brasileira é composta em sua maioria por mulheres e esse percentual deveria estar refletido também nos cargos políticos de decisão
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Publicado em 6 de novembro de 2023 às 08h00.
Por Juliana Barros*
Na semana passada novos dados do Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram divulgados e um, em particular, me fez refletir. Para cada 100 mulheres no Brasil, há aproximadamente 94 homens. Esses números representam uma diferença significativa de gênero na população brasileira, com as mulheres compondo 51,5% do total, o que se traduz em seis milhões a mais de mulheres do que homens.
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Os dados apresentados não apenas refletem uma realidade demográfica, mas também levantam questões importantes sobre a falta de representatividade feminina na política e como isso pode impactar a sociedade como um todo.
A representatividade na política é um aspecto fundamental de qualquer sociedade. Ela permite que diferentes grupos e comunidades tenham suas vozes ampliadas e suas necessidades atendidas. E neste contexto do Brasil, ter mais mulheres na política é uma questão fundamental. Afinal, como podemos querer uma sociedade justa e equitativa se as mulheres não têm uma presença significativa nos espaços de tomada de decisão? Somos apenas 17,7% dos 513 deputados federais, na Câmara dos Deputados. No Senado, temos hoje, 15 senadoras dentre os 81 parlamentares, um percentual de representatividade de 18,5%.
O Censo 2022 mostra claramente que as mulheres são uma parte substancial da população brasileira. Portanto, é inegável que haja um esforço contínuo para aumentar a participação das mulheres na política . Não se trata apenas de preencher cotas de gênero, mas de garantir que as vozes, preocupações e perspectivas das mulheres sejam ouvidas e consideradas nas políticas públicas, inclusive, que seus direitos sejam defendidos.
Mais mulheres em espaços de poder: qual o impacto gerado?
Como ponto de partida para responder a esse questionamento, podemos sinalizar o dado o qual mostra que, quando mulheres estão ocupando posições de liderança no setor público, existe uma probabilidade 35% menor de envolvimento em casos de corrupção, em comparação aos homens, é o que aponta um levantamento conduzido pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper, de 2023.
Essa relação entre representatividade feminina e a diminuição dos níveis de corrupção também foi identificada em um estudo que abrangeu mais de 100 países em 2001. Nele foi observado que uma maior presença de mulheres no governo estava associada a índices mais baixos de corrupção.
Os pesquisadores do Núcleo de Estudos Raciais revisaram 95 estudos publicados em livros e revistas acadêmicas ao longo das últimas duas décadas, tanto nacionais quanto internacionais, que abordaram a diversidade de gênero e raça na política e no mercado de trabalho.
Além disso, de acordo com as descobertas do Insper, mulheres ocupando cargos de liderança política tendem a alocar até 7% a mais de recursos em bens públicos, como saúde e educação, em comparação com seus colegas do sexo masculino. Isso resulta em uma redução de até 24% na taxa de mortalidade infantil e uma diminuição de até 32% na disparidade de gênero no acesso à educação entre adolescentes, bem como uma redução de 25% na disparidade de gênero entre adultos.
Líderes femininas demonstram maior preocupação em propor e implementar políticas direcionadas à saúde de mulheres e crianças quando ocupam cargos em legislaturas estaduais. Essa abordagem tem um impacto positivo na qualidade dos serviços de saúde pré-natal e infantil em suas respectivas regiões eleitorais.
Os dados do Censo 2022, que destacam a maioria feminina na população brasileira, devem servir como um lembrete claro da necessidade de maior representatividade feminina na política, e claro sempre pensando na perspectiva de raça e território. Por isso, precisamos assegurar que as mulheres tenham um papel ativo na formulação de políticas e nas tomadas de decisões que afetam suas vidas e a sociedade como um todo.
Ao abraçar a diversidade de perspectivas e experiências, melhoramos a qualidade de nossas políticas e promovemos um futuro mais igualitário e próspero. Já passou da hora de darmos espaço e apoio às mulheres que desejam liderar, para que possamos construir um Brasil mais inclusivo e equitativo, agora precisamos agir e agir coletivamente.
*Juliana Barros é comunicadora e Vice-presidente da ONG Elas no Poder.
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