Home office impacta a dinâmica de toda a família (Artur Debat/Getty Images)
Bússola
Publicado em 1 de julho de 2022 às 13h40.
Última atualização em 1 de julho de 2022 às 13h57.
Por Carlos Guilherme Nosé*
Muito já se falou e se escreveu sobre o impacto do home office na dinâmica das famílias e no funcionamento da casa. O pai trabalhando na mesa da sala, a mãe em um cantinho do quarto, os filhos na sala de TV com computadores ou tablets estudando. Mas quero relatar aqui um outro impacto com o qual me deparei recentemente. Quanto as nossas atitudes e comportamentos durante nossas reuniões de trabalho remoto impactam na imaginação, na formação e nas decisões de nossos filhos? Já pararam para pensar nisso?
Tenho dois adolescentes em casa, o mais velho está com 17 e deseja, até então, cursar administração. Desde o ano passado, está se dedicando mais aos estudos, melhorou as notas, os comportamentos. Ontem, para minha surpresa, em uma conversa sobre o vestibular, ele disse estar em dúvida e muito confuso. Após algumas horas de conversa, que se alongou para o jantar, ele me diz: “Pai, eu não quero ser igual a você no trabalho. Você é muito nervoso, pensa o tempo todo na Fesa”.
Argumentei que não era bem assim, que eu tinha meus momentos de descontração, que adoro estar com meus amigos, que voltei a praticar esportes, que amo ficar com a família o máximo de tempo possível etc. Ele entendeu, mas aí veio a apunhalada final. Com os olhos cheios de lágrimas, ele me diz: “Pai, na verdade é o seguinte, eu tenho medo que você morra do coração enquanto está trabalhando. Tenho medo de te perder”.
Fez um silêncio total. Demorei alguns minutos para me recompor até conseguir acalmá-lo e me acalmar também. Há uns seis meses, uma pequena alteração de colesterol nos meus exames foi detectada e óbvio que a preocupação com o coração aumenta. Já voltou aos níveis normais, mas compartilho esse fato para contextualizar e refletir com vocês como tudo isso impacta na imaginação e na tomada de decisão de nossos filhos. E olha que estou falando de um garoto de um 1,80 metro de altura, com 17 anos e barba na cara. Imagina para os menores, que talvez entendam menos ainda o que é a dinâmica de uma empresa e do trabalho.
O que quero trazer aqui de uma forma reflexiva é: como estamos falando com as pessoas à nossa volta durante o home office? Como reagimos a um dia intenso de trabalho? Como isso impacta meu humor, minha forma de falar com os filhos? Eles estão ouvindo e vendo nosso trabalho o tempo todo. Será que aquela ligação que você atende durante o almoço impacta na percepção dos filhos? Aquele palavrão que você solta, ou aquela forma mais enérgica de defender seus pontos em uma reunião por vídeo. Tudo isso está sendo absorvido e usado por seus filhos na hora de decidirem os caminhos para os seus futuros.
Agradeci por ele ser tão aberto comigo e compartilhar seus medos. O acalmei dizendo que eu sou muito feliz no meu trabalho e que isso importa demais. Claro que há alguns dias mais agitados, reuniões mais tensas e discussões, mas também há momentos incríveis de conquistas, de alegrias e é uma recompensa ver seu time evoluindo e crescendo. Confesso que não dormi bem naquela noite. Pensem nisso, o assunto não é simples e pode impactar negativamente a vida de nossos filhos!
*Carlos Guilherme Nosé é CEO da Fesa Group
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