Tempo longe da escola aumenta o fosso educacional no Brasil
Hipótese de agravamento das desigualdades educacionais por conta da pandemia é ainda mais real no Brasil
Bússola
Publicado em 12 de novembro de 2021 às 16h17.
Por André Jácomo*
Com o controle da pandemia, avanço da vacinação em todas idades e, principalmente, chegando nos adolescentes, a volta às aulas presenciais já é a realidade para a maior parte das redes de ensino do Brasil. Por exemplo, as maiores redes escolares do país, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, todas já voltaram com o ensino presencial.
Mas o retorno presencial das escolas em todo país tem duas questões. A primeira é que grande parte das escolas particulares nos maiores centros urbanos já estavam em funcionamento presencial desde o começo deste ano. E a segunda tem a ver com as motivações de muitos pais e mães, que desejavam a volta das aulas presenciais, porque seus trabalhos também voltaram ao presencial, ou porque preocupavam-se com o longo período que seus filhos passaram fora da rotina escolar e da interação com colegas e professores.
Por exemplo, o Banco Mundial divulgou entre 2020 e 2021 uma série de estudos extremamente sofisticados, que tentam estimar o impacto da pandemia nos processos de aprendizado dos jovens. Em resumo: o tempo longe das escolas significa piora na capacidade de leitura e compreensão de textos, problemas de concentração e organização, além de ampliar o fosso educacional entre os 20% dos alunos mais ricos e os 20% mais pobres.
E, durante a pandemia, as aulas virtuais demandam uma estrutura maior de apoio ao aprendizado dos alunos: mais tempo dedicado dos pais, organização da rotina, alimentação em casa e internet.
O Instituto FSB Pesquisa realizou um estudo para o Sesi e para o Senai, que ouviu dois mil alunos em uma amostra representativa dos estudantes do Ensino Médio no país, que revelou que o acesso à internet foi uma das principais dificuldades experimentadas pelos alunos durante a pandemia.
Ao todo, 42% dos alunos do ensino médio do país disseram ter dificuldade alta de acesso à internet para assistir às aulas. 15% dos alunos falaram que tiveram dificuldade média e 9% afirmaram algum grau de dificuldade de acesso à internet, mas pequena. Apenas 26% dos alunos afirmaram não ter dificuldades.
Como o acesso à internet no Brasil está diretamente associado à renda, a pesquisa do Sesi e do Senai mostrou também que alunos do Nordeste foram os mais afetados pelo problema de conexão em comparação com as demais regiões. Também, os estudantes das periferias tiveram mais dificuldades de acesso à internet que os estudantes das capitais ou das cidades do interior.
No país onde a escola representa educação, mas também possibilidade de alimentação ou não ter que trabalhar, a hipótese de agravamento das desigualdades educacionais por conta da pandemia é ainda mais real no Brasil.
*André Jácomoé diretor do Instituto FSB Pesquisa
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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