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Tales Rabelo: “Safar” o Galo, para mantê-lo vivo e forte

Dívidas ameaçam sobrevivência do time, apesar do patrimônio acumulado nos últimos anos

Indicadores de endividamento do clube se deterioraram nos últimos anos (Pedro Vilela / Correspondente/Getty Images)
Bússola

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Publicado em 11 de julho de 2023 às 12h00.

Por Tales Rabelo

A situação financeira do Clube Atlético Mineiro é insustentável, sob qualquer panorama de análise. Dívida bruta de R$ 1,6 bilhão em 2022, para receitas anuais inferiores a R$ 400 milhões. As despesas operacionais foram em linha com as receitas no passado, o que fez o clube ter um fluxo de caixa (Ebitda) ligeiramente positivo. Entretanto, o peso do endividamento é exorbitante, o que fez o clube acumular mais de R$ 264 milhões de reais de novas dívidas em 2022.

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O fantasma do endividamento elevado sempre fez parte do cotidiano do atleticano nas últimas décadas. Ameaças de penhoras de patrimônio, salários atrasados de jogadores, publicidade de todo tipo de evento adverso associado à condição financeira do clube.

Os indicadores de endividamento do clube se deterioraram nos últimos anos, sendo que a relação dívida sobre receita aumentou de 2,6 veezs em 2019 para 3,6 vezes em 2022, após ter sido de 2,5 vezes em 2021. A contrapartida positiva desse período foi a formação de patrimônio do clube, com a construção de uma moderna arena esportiva avaliada em mais de R$ 1bi de reais, que mais do que compensa em termos de valor patrimonial a venda do shopping Diamond Mall. Além disso, o clube formou um elenco forte e que em 2021 foi multicampeão, vencendo o Campeonato Brasileiro pela primeira vez em 50 anos.

Por esses motivos, parece justo dizer que, patrimonialmente, o clube se fortaleceu nos últimos anos, apesar da necessidade urgente da resolução do problema do endividamento.

O futuro do Galo

Não consigo imaginar a continuidade do Atlético sem a entrada de um forte influxo financeiro para abater a dívida. Assumindo a Selic atual de 13,75% ao ano, a dívida onerosa de R$ 917 milhões demandaria um custo anual com pagamento de juros de R$ 126 milhões por ano. Ou seja, R$ 10 milhões por mês. Mas, o Atlético paga uma taxa de juros bem superior à taxa básica de juros Selic. Não é absurdo dizer que o clube gasta mais com juros do que com a folha de pagamento do elenco, estimada em R$ 16 milhões por mês, uma das maiores do Brasil. A situação é totalmente caótica.

Não há tempo para complacência. A proposta colocada na mesa, de pagamento integral das dívidas onerosas e de controle das demais dívidas pela Galo Holding, é o que o clube precisa. Como coloquei acima, o clube é operacionalmente viável, mas está sendo consumido pelo endividamento. Estamos chegando próximo a um ponto de não retorno. Até o momento, a rolagem da dívida só foi possível graças aos avais concedidos pelos empresários que lideram o órgão colegiado que controla o clube. Sem a credibilidade dessas pessoas, a continuidade operacional do Atlético corre sérios riscos. Não entendo como uma instituição financeira concederia crédito ao Atlético, sem garantias fortes.

O que o senhor Rubens Menin (principal expoente do órgão colegiado) fez pelo Atlético, até o momento, nunca vi nenhum outro dirigente fazer.

Considerando os aportes, sob os quais não incidem juros acima da inflação, e os avais aos empréstimos tomados pelo clube, Menin colocou em risco mais de R$ 1 bilhão de sua fortuna pessoal. Isso sem contar na doação do terreno para a construção da Arena MRV. A título de comparação, estima-se que o empréstimo do palmeirense Paulo Nobre ao seu clube de coração, realizado entre 2013 e 2015, tenha totalizado algo entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões em valores da época. Em valores corrigidos pelo IPCA desde então, seria algo em torno de R$ 300 milhões. Algo louvável, que foi determinante para a redenção do Palmeiras na última década, mas que financeiramente foi muito menos representativo ante o aporte de Rubens Menin no Atlético.

Julgo que o Conselho Deliberativo deve sim aprovar a SAF, sendo ela nos moldes próximos aos apresentados na reunião do dia 30 de junho. Defendo também que a SAF seja instituída de modo a exigir que o clube tenha investimentos necessários para a manutenção de uma equipe forte, representativa da grandeza do Clube Atlético Mineiro e que atenda aos anseios da sua torcida.

Houvesse outra proposta financeiramente superior a essa, julgo que ela deveria ser analisada e comparada àquela que está na mesa. Entretanto, essa proposta alternativa não existe e a atual parece muito adequada às demandas urgentes do clube.

A partir deste momento, qualquer alternativa ou contraproposta ao que está na mesa deve ser considerada com base no essencial, ou seja, na capitalização imediata do clube e na eliminação de seu passivo oneroso. Qualquer discussão que não envolva aportes massivos e urgentes deve ser desconsiderada.

Nesse sentido, qualquer ideia que tente conciliar o objetivo de quitar a dívida onerosa e manter o controle da equipe no clube associativo não passa de fantasia.

Isso porque o patrimônio líquido do clube (estádio + centro de treinamento + jogadores e outros ativos menos o endividamento) é muito pequeno ante a necessidade de aporte para resolver o endividamento. Ou seja, qualquer investidor que vá injetar o volume necessário de recursos irá passar a deter o controle do Atlético. E isso, a meu ver, não é negativo. Por dois fatores: 1. ter dono cria incentivos mais adequados para a longevidade do clube. Sabemos que o ciclo político dos clubes tende a estimular investimentos insustentáveis e endividamento em bola de neve. 2. Os controladores potenciais do Atlético são apaixonados pelo clube e têm o interesse no sucesso a médio prazo. Isso vai resultar em uma mais responsável para a perenidade do Atlético.

*Tales Rabelo é economista e atleticano

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