(Diego Vara/Reuters)
Mariana Martucci
Publicado em 15 de março de 2021 às 14h50.
Última atualização em 15 de março de 2021 às 15h06.
O Brasil caminha a passos largos para superar a triste casa das 300.000 mortes por covid-19, o que deve ocorrer dentro de no máximo duas semanas. Neste domingo, chegamos a exatos 278.229 óbitos.
Somos o segundo país do mundo com mais mortes oficialmente registradas, atrás apenas dos Estados Unidos, onde 547.000 pessoas perderam a vida para a pandemia.
Mas há uma semana somos o país com a pior média diária de mortes.
Por aqui, na semana terminada ontem, a covid-19 matou, em média, 1.831 brasileiros por dia. Nos Estados Unidos, esse indicador é hoje de 1.421/dia.
Quando se olha para o tamanho da população, a situação é ainda mais grave: proporcionalmente, o Brasil registra hoje duas vezes mais mortes do que os Estados Unidos. A taxa diária é de 8,7 mortes, aqui, por 1 milhão de habitantes, enquanto lá o indicador está em 4,3.
Enquanto em nosso país ainda se discute o uso de máscara, comprovadamente uma das medidas mais básicas para se frear o contágio, os números seguem assustadores. Há exatos 53 dias a média móvel está acima do patamar de 1.000 mortes diárias. Para ter uma ideia, na primeira onda da doença no Brasil, entre o final de março e o final de agosto, isso só aconteceu durante 40 dias consecutivos.
Somente nas duas últimas semanas, a média diária de mortes cresceu de 1.205 para recordes 1.831, uma forte elevação de 52%. Nesta semana, morreram em todo o país 12.818 brasileiros vítimas do coronavírus. Foi, de novo, a pior semana de toda a pandemia. Até então, a pior havia sido a semana imediatamente anterior, com 10.469 óbitos. O crescimento em apenas uma semana foi de 23%.
Por enquanto, nada no horizonte indica que os números possam melhorar no curto prazo. Pelo contrário. Em quase todos os estados brasileiros, o sistema de saúde está praticamente colapsado. Faltam leitos de UTI e pessoas com covid-19 morrem na fila de espera por atendimento. Mas por que isso está acontecendo?
De acordo com os infectologistas, as novas variantes do vírus são mais contagiosas e acometem mais pessoas jovens e sem comorbidades, o que não ocorria na primeira onda da doença. Além disso, o tempo de internação cresceu. Segundo levantamento da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, o tempo médio de internação de pacientes com coronavírus aumentou de dez para 14 dias entre as duas ondas da pandemia, um aumento de 40%.
Isso tem ocorrido basicamente por dois motivos: 1) o tratamento evoluiu, e com isso o organismo dos infectados, mesmo quando não resiste, passa mais tempo lutando contra a infecção; 2) entre as pessoas que precisam de UTI há mais jovens, que como são mais saudáveis acabam resistindo mais e passando um tempo maior internados.
Diante do contágio acelerado e do colapso do sistema de saúde, cada vez mais estados e prefeituras têm adotado medidas restritivas de circulação para conter a disseminação do vírus. Fechamento do comércio e toque de recolher durante a noite são os exemplos mais comuns. Mas o que temos visto é que em boa parte do país esse isolamento social não está sendo tão efetivo quanto na primeira onda.
Segundo dados da empresa Inloco, que divulga o Índice de Isolamento Social, na última sexta-feira, apenas cerca de um terço da população brasileira estava em isolamento social.
No final de março, quando o lockdown começou a ser anunciado por estados e municípios, esse percentual chegou a superar os 62%. No sábado, o maior índice de isolamento foi registrado no Acre (56,8%) e o menor, no Mato Grosso do Sul e no Espírito Santo (35,4% em cada um). No Distrito Federal, que há mais de uma semana está em lockdown, o indicador não chegou a 40% no sábado.
Ontem, foram registradas em várias cidades cenas lamentáveis de protestos contra os lockdowns, incluindo dezenas de manifestantes sem máscaras e buzinaços em frente a hospitais. Um exemplo de egoísmo dado à luz do dia, sem disfarces.
Enquanto isso, as novas variantes do coronavírus, a baixa adesão às medidas restritivas e as UTIs superlotadas mantêm a pandemia em trajetória de aceleração no país. Sabemos que as variantes não irão embora. Pelo contrário, a tendência é que novas mutações do vírus surjam. Sabemos também que as UTIs só terão algum alívio quando menos gente estiver ficando doente.
Nessa matemática, a variável que hoje estaria sob controle é a redução da circulação das pessoas. Somente assim seria possível reduzir a transmissão do vírus e frear a intensidade dessa segunda onda. O alerta já foi feito por 11 em cada dez infectologistas. Mas muita gente parece que ainda não entendeu...
*Marcelo Tokarski é sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência
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