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Salto da indústria química torna país potência estratégica, diz economista

ESG precisa ser visto como core business e atividade principal para empresas brasileiras e não apenas como uma questão de compliance

Indústria química: De 800 produtos químicos no mundo, o Brasil tem capacidade de produzir 700 (Getty Images/Getty Images)

Indústria química: De 800 produtos químicos no mundo, o Brasil tem capacidade de produzir 700 (Getty Images/Getty Images)

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Publicado em 19 de junho de 2022 às 11h24.

A produção de químicos de uso industrial no Brasil subiu 12,2% em abril. As vendas internas saltaram 16,3% em março de 2022, segundo dados da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química). Para o economista Paulo Gama, mestre e doutor em economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, esses dados, somados ao aumento da demanda interna, demonstram que o Brasil é uma potência em atuação estratégica na indústria química.

De 800 produtos químicos no mundo, o Brasil tem capacidade tecnológica para produzir 700. A indústria química trabalha hoje com 74% da capacidade instalada e gera 2 milhões de empregos diretos e indiretos.

Mas tem o desafio de crescer em um mundo que não admite mais produtos que não sejam sustentáveis e precisa encarar a transição para um futuro verde. Veja abaixo entrevista de Paulo Gama à Bússola, em que ele trata desses temas e do futuro da indústria.

Bússola: Em um mundo que não admite mais produtos que não sejam sustentáveis, como a indústria química pode contribuir para o crescimento do setor industrial no Brasil?

Paulo Gala: Posso destacar cinco missões estruturantes que podem liberar o potencial de crescimento da indústria com sua consequente contribuição para o desenvolvimento econômico e social do país em um cenário de aderência aos princípios da ESG [sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa].

O potencial de crescimento da indústria química brasileira nas próximas décadas está em atuar nesses cinco pilares: a sustentabilidade e o caráter estratégico da indústria química, abordagem sobre gás natural, produção e insumos de bioprodutos, energias renováveis e saneamento.

Bússola: O senhor acredita que o Brasil está preparado para a transição verde?

Paulo Gala: Precisamos avançar nos desenhos de políticas públicas e marco regulatório para essa transição verde. Na parte do marco regulatório do hidrogênio verde, por exemplo, estamos atrás do Chile, considerado hoje a referência da América Latina.

O Brasil está com tudo na mesa para produzir em escala mundial o hidrogênio verde, o etanol, o etanol de segunda geração, energia solar e eólica, mas existe ainda um custo de transição que precisa ser superado. Os parques eólicos do Nordeste, por exemplo, se devem em grande medida ao risco que o BNDES tomou lá atrás para fazer esse investimento. Tiveram enorme sucesso.

O risco envolvido nos investimentos de transição energética não é baixo, e muitas vezes o setor privado sozinho não abraça. Por isso temos que pensar em soluções público-privadas criativas como já fizemos no passado. Esse salto pode nos trazer enorme vantagem no cenário competitivo global.

O ESG deveria ser visto como core business e atividade principal para empresas brasileiras e não apenas como uma questão de compliance. Temos uma oportunidade de ser um dos grandes líderes mundiais em tecnologias verdes. Hoje somos vistos por estrangeiros como um paraíso das commodities, mas poderemos, no futuro, ocupar a posição de paraíso da energia verde. Não podemos perder essa janela de oportunidade.

Bússola: De que forma as cadeias de suprimento foram impactadas pelo advento da pandemia de covid-19?

Paulo Gala: Essa crise acelerou tendências, evidenciou a necessidade de mudanças estruturais, tanto nos segmentos industriais, como do ponto de vista comportamentais com novos hábitos e costumes. Fica aqui uma primeira questão fundamental: como será esse mundo no pós-crise?

O Brasil está totalmente inserido e é objeto de referência nesse novo contexto mundial. O que podemos ter como previsão para o horizonte é que, a partir de conhecimento produtivo já adquirido durante décadas e de incríveis vantagens comparativas em energias sustentáveis existentes no país, podemos vislumbrar um papel preponderante para a indústria química brasileira no mundo pós-covid.

Bússola: A indústria química nacional tem capacidade para atender todas as demandas do país? E para exportação?

Paulo Gala: Temos o registro que a produção de químicos de uso industrial no Brasil subiu 12,2% em abril, e as vendas internas também saltaram 16,3% em março de 2022, segundo a Abiquim. Nesse mesmo levantamento, é possível observar haver um aumento da demanda interna de 3,5% e que a utilização da capacidade instalada saltou 83%, melhor resultado para o período desde 2013.

Então, é possível dizer que, mesmo com o cenário de alteração constante dos preços do petróleo e do gás, o Brasil é uma potência em atuação estratégica na indústria química. É claro que há muitos desafios, mas com foco na competitividade e também na aplicação eficiente de tributos arrecadados, o horizonte tende a ser bastante promissor.

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