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Qual a cor do seu financeiro? Breve reflexão sobre os estigmas da área

Imaginário social brasileiro exclui pessoas negras de áreas de formação prestigiadas como economia, direito medicina e engenharia

Com a pandemia e a presença sendo cada vez mais online é difícil dar conta de tudo (Getty Images/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 15 de agosto de 2021 às 14h00.

Última atualização em 16 de agosto de 2021 às 05h22.

Por Dina Prates*

Você já parou para pensar como o sexismo e o racismo afetam as referências que criamos ao longo da vida? Pois bem, desde o início da minha trajetória profissional e acadêmica ouvi inúmeras vezes afirmações como: “É você a pessoa do financeiro? Nossa, eu imaginava alguém do financeiro bem diferente” ou “Você é uma mulher tão nova! Tem um perfil tão diferente!”.

Essas concepções são baseadas em uma estrutura social que exclui pessoas negras das áreas de formação profissional socialmente mais prestigiadas, como economia, direito, medicina, engenharias e tantas outras. Essa reflexão ultrapassa as minhas experiências individuais como educadora financeira, e representa as desigualdades de gênero e raça presentes no imaginário social da população brasileira.

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Repetidas vezes, ouvi a clássica afirmação “Dinheiro é poder”, no entanto essa frase sempre gerou uma reflexão interna. Se o dinheiro e a gestão do mesmo, permanece nas mãos das mesmas pessoas, logo esse poder e o conhecimento não reverterá em empoderamento das populações marginalizadas historicamente.

Dessa forma, fica nítido o desconforto gerado em grande parte das pessoas. Ser uma mulher jovem ou ser uma pessoa negra atuando na área das finanças revela uma espécie de autoquestionamento, que por vezes é consciente, e outras não.

Especialmente no que se refere ao campo econômico e financeiro, conhecidos por serem majoritariamente geridos por homens cisgêneros, brancos e de classe abastada, delegando ao Brasil o desafio de ampliar o número de outros grupos sociais nessas áreas.

Por isso, é necessário desmistificar algumas construções sociais para entendermos os efeitos delas na naturalização do perfil atuante na área financeira. Inicialmente, no campo da representação é importante lembrar que apesar de 54% da população brasileira ser negra, o primeiro contato que grande parte da população tem com profissionais da área financeira de modo geral é com seu ingresso no sistema bancário, ou através das representações em telenovelas e filmes, ambas representam o sistema financeiro como um espaço de trabalho composto majoritariamente por homens brancos.

Esse cenário tem sido desconstruído nos últimos anos, com a ampliação das fintechs e o rompimento de barreiras do sistema bancário, as publicidades e posicionamentos têm se voltado à representar a maioria da população e desvelar esse padrão já difundido.

As grandes transformações na área financeira das empresas também potencializaram uma visão estratégica da área, promovendo a sua conexão com os outros setores, repercutindo em uma mudança nas competências exigidas em muitas vagas do mercado de trabalho, aspecto relevante para a promoção da diversidade. Atualmente, já existem inúmeros estudos abordando os reflexos positivos da diversidade nas empresas.

No entanto, pesquisas e dados relacionando raça e gênero dos profissionais atuantes nas áreas de exatas são quase nulas, inviabilizando o aprofundamento da questão que poderia fornecer outras referências profissionais, ou criar políticas de formação específicas visando a diversidade na área e a redução de desigualdades.

Quando pautamos diversidade, não podemos ficar apenas no campo do discurso, mas sim ativamente exercer a diversidade na nossa prática cotidiana, promovendo mudanças em todos os níveis da estrutura social: dentro das empresas, nas universidades e até nas representações na televisão, buscando educar a população, para que não haja surpresas quando uma mulher negra está em uma agência bancária, em uma posição de gerência ou em qualquer cargo de destaque na área. Existe uma gama de profissionais potentes e competentes que ainda seguem em busca de uma oportunidade e da sua valorização.

A análise que trago busca trazer alguns apontamentos críticos que nos permitam questionar padrões e compreender que as reivindicações feitas por populações excluídas historicamente, precisam ser mais do que refletidas, mas transformadas em ações de mudanças, para que a próxima pergunta seja sobre o quanto diverso é o seu financeiro.

*Dina Prates é consultora e educadora Financeira, mestra em sociologia e sócia-fundadora do Instituto Estrela Preta

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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