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"Poucos países devem tanto à diplomacia quanto o Brasil", afirma CEO do CEBRI

Em entrevista ao Bússola, Diretora-Presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais fala dos 25 anos da instituição e do futuro do Brasil nas relações exteriores

Julia Dias Leite durante evento de comemoração aos 25 anos do CEBRI (CEBRI / YouTube/Reprodução)
Bússola

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Publicado em 13 de novembro de 2023 às 08h00.

Na última sexta-feira, 10 de novembro, o Centro Brasileiro de Relações Internacionais - CEBRI , celebrou a marca dos 25 anos com um seminário especia l. O evento, com o tema “De onde viemos e para onde vamos”, reuniu figuras importantes para a história do think thank, que discutiram assuntos vitais para o futuro das relações internacionais do Brasil.

O seminário abriu com a fala da Diretora-Presidente do CEBRI, Julia Dias Leite e encerrou com um painel especial apresentado por Gilberto Gil e Luiz Fernando Furlan. A celebração trouxe à tona insights importantes e reafirmou o objetivo da instituição: servir como um centro de excelência que promove o diálogo entre os setores público, privado e acadêmico.

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“Instituições como o CEBRI desempenham um papel fundamental no engajamento e diálogo com múltiplos stakeholders para fortalecer o desenvolvimento dos interesses do Brasil no cenário internacional. Ao promover o diálogo e a cooperação entre diferentes atores, o CEBRI também contribui para fortalecer a posição do Brasil como um ator respeitado e influente no cenário global, defendendo interesses do setor de maneira eficaz.” afirmou Roberto Monteiro Jr., Diretor de Comunicação e Relações Institucionais da SPIC Brasil, patrocinadora oficial do evento.

Para a ocasião, analisando a história da instituição e refletindo sobre o futuro do Brasil nas relações internacionais , Julia Dias Leite concedeu ao Bússola uma entrevista exclusiva, onde fala sobre a trajetória do CEBRI, os planos e ações que estão por vir.

Qual foi a principal contribuição do think tank para a sociedade brasileira nesse período?

O CEBRI tem mostrado como é possível e necessária a participação da sociedade civil na construção da política externa brasileira. Essa percepção orientou o Embaixador Luiz Felipe Lampreia, ainda em 1998, a fundar um think-tank dedicado às relações internacionais do Brasil. Já naquela época, nossos fundadores entenderam que um país como o Brasil, por seu tamanho, sua cultura, sua economia, passaria a ter relevância crescente na vida internacional e, para isto, era preciso que oferecer à formulação diplomática os aportes dos muitos setores que tinham interesse e o que dizer sobre a presença do Brasil no mundo.

Hoje, o Brasil se projeta na comunidade internacional por meio da atuação das empresas brasileiras no exterior, da integração de universidades brasileiras em circuitos internacionais de ciência e tecnologia, de calendários artísticos em grandes cidades, e até mesmo pela atuação de entidades subnacionais que enfrentam desafios de porte global. Por meio de seus projetos, o CEBRI articula e inclui os diversos atores sempre com o objetivo de oferecer o melhor debate e a melhor proposta para projetar a presença brasileira no mundo.

O CEBRI tem entre seus associados importantes entidades do setor público, diversos consulados e dezenas de grandes empresas privadas. Como é feito esse network com interesses e políticas tão diversas?

O interesse desses atores é justamente o de se integrar a um ambiente aberto, plural e independente para troca e formulação de ideias sobre a posição brasileira na economia global e no concerto das nações. Podemos dizer que a capacidade de reunir expressiva diversidade de atores é um dos grandes ativos do CEBRI. Nosso time de especialistas é independente da agenda de atores específicos e, em interlocução com esse caleidoscópio crescente de associados, produz conhecimento aplicado de ponta sobre as relações internacionais do Brasil dos mais variados prismas.

Quais são os principais desafios e projetos do CEBRI hoje?

Estamos participando ativamente dos trabalhos que demandam a presidência brasileira do G20 em 2024. Junto com o IPEA e a FUNAG, organizamos o T20, uma das principais instâncias a oferecer sugestões e aporte para os debates que vão acontecer para preparar os documentos  que serão endossados por Ministros e Chefes de Estado dos membros do G20.

Em temas  como transição energética, mudança climática, transformação digital, reforma das instituições globais e combate às desigualdades, temos o desafio de juntar as principais vozes da sociedade civil, especialmente de think tanks, para produzir ideias e consensos que avancem uma agenda brasileira de desenvolvimento sustentável capaz de influenciar o debate internacional sobre esses temas. Papel semelhante vamos desempenhar por ocasião da COP30, que será realizada em Belém em 2025.

O Brasil retomou seu protagonismo na diplomacia mundial?

Sim, sem dúvida. Depois de um complicado período em que nossa política externa foi na contramão da melhor tradição da diplomacia brasileira, o país retoma uma atitude equilibrada e volta a ter papel relevante na diplomacia mundial. Poucos países devem tanto à diplomacia quanto o Brasil, um ativo de que jamais poderemos prescindir. Somos o único país, dentre aqueles denominados “países-monstro” pelo diplomata George Kennan, isto é, com grande território e população, sem grande capacidade militar ofensiva.

Nosso território, um dos maiores do mundo, foi recortado às custas do empenho negociador do Itamaraty e, apesar de dividirmos fronteiras com 10 países, vivemos em paz com todos entramos em guerra com qualquer um deles há mais de 150 anos. Quantos países do mundo com esse número de vizinhos pode dizer o mesmo? Quantos países podem orgulhar-se de manter relações com todos os demais Estados membros da ONU? Com o início do novo governo, temos visto o retorno da política externa brasileira a esta tradição, o que já tem refletido em resultados importantes, como a redução do desmatamento ilegal na Amazônia, fruto de nosso compromisso com o desenvolvimento sustentável.

Como você vê o Brasil nos próximos 25 anos? Temos a possibilidade de atingir um novo patamar no cenário internacional?

Vemos um país que, em meio a uma ordem internacional em transformação, vai ser cada vez mais demandado a assumir protagonismo na provisão de bens públicos globais, como a segurança alimentar global, o equilíbrio climático do planeta, e a prevenção e monitoramento de ameaças à saúde global.

Ao mesmo tempo, vemos um país que cada vez mais precisa se integrar ao resto mundo, seja para receber investimentos , seja para compartilhar desafios e oportunidades com parceiros internacionais. Para estar à altura deste futuro, o país precisa contar com uma sociedade civil internacionalmente engajada e relevante, papel em que o CEBRI e outras instituições de excelência têm sido pioneiras

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