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Precisamos falar sobre o paradoxo entre o desemprego e as vagas de mercado

Como um país com recorde de desempregados não tem mão de obra suficiente e capacitada para nutrir as vagas existentes?

(gpointstudio/Thinkstock)
DZ

Denis Zanini

Publicado em 17 de abril de 2021 às 14h35.

Última atualização em 17 de abril de 2021 às 18h49.

Recentemente tenho acompanhado no mercado muitas declarações recorrentes que parecem não se adequar ao período em que vivemos:

- “Não consigo preencher as vagas que procuro”;
- “Estou com x vagas abertas e meu time de RH não está dando conta”;
- “Preciso ser uma marca empregadora para atrair e reter talentos e estou tendo dificuldades neste sentido”.

Trata-se de uma antítese monumental. Como um país com recorde de desempregados, mais de 14,3 milhões, não tem mão de obra suficiente e capacitada para nutrir as vagas existentes?

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É uma resposta simples e de complexa resolução. Os perfis procurados não correspondem mais tão facilmente aos formados. É a lei de oferta e demanda em sua essência mais profunda. Existe um abismo e um desencaixe entre desempregados e necessidades de vagas no mercado, que foi ainda mais acelerado pela pandemia.

Na vida fomos educados, formados e treinados para trabalhos físicos e analógicos. Escritórios, visitas técnicas, reuniões, serviços, vendas e atendimentos presenciais. E não conseguimos nos adequar à velocidade da mudança de paradigmas a isso nos ser privado pela pandemia.

Este físico se tornou mais virtual do que nunca. A transformação digital não é mais atributo; é premissa. Já estamos na era do E-commerce first e não mais periférico. Delivery, drive-thru, inbound, performance, social listening, streaming, video calls. Vários termos em inglês que simplesmente significam que as coisas já mudaram. Rapidamente.

Enquanto milhões de pessoas procuram desesperadamente por uma oportunidade, o mercado busca por job descriptions nunca antes imaginados e posições inventadas. Especialistas em e-commerce, conteúdo digital, saúde, finanças e tecnologia, além de perfis de inovação, tendências e dados são alguns dos perfis mais buscados. Os desenvolvedores, por exemplo, já são uma espécie “em extinção”. Empresas e startups lutam com unhas, dentes, salários e benefícios para atraí-los.

Sem encontrar emprego ou não se adequando às vagas existentes, o Brasil caminhou em 2020 para recordes históricos em número de empreendedores, correspondendo a praticamente 30% do PIB. Isso torna o contexto uma bola de neve ainda maior. Mesmo empreendendo, o brasileiro, ao crescer seu negócio, precisará de profissionais que estejam alinhados ao novo perfil de consumo e ao cenário mundial.

E o que precisa ser feito? O mercado de educação e formação precisa se adequar à velocidade das mudanças. Necessitamos de uma força-tarefa de revisão de ementas e disciplinas em faculdades, universidade e pós-graduações. Precisamos de redefinição de cursos técnicos e especialidades. E, principalmente, é fundamental a união dos setores para a formação de profissionais que antes eram considerados do futuro e agora são do presente.

Porque mais do que um abismo estamos caminhando para um buraco negro supermassivo entre oferta e demanda de trabalho no país. E estamos deitados em berço esplêndido, sem ouvir os novos gritos do Ipiranga.

*Jaderson Alencar é sócio-diretor da FSB Comunicação

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